Seguem curtas anotações sobre alguns filmes lançados ao longo dos anos 1960 (notas dos filmes entre parênteses – escala de 1 a 5):
La piscine (1969): Dois amantes passam férias em uma vila na Riviera Francesa, perto de St-Tropez. Ela convida seu ex-amante e sua filha adolescente, Penelope, para ficarem. A tensão aumenta entre eles, especialmente quando ele seduz Penélope. Roteiro pobre – falta energia e paixão – que explora a fama e beleza dos atores: Alain Delon, Rome Schneider, Maurice Ronet e Jane Birkin. (2)
Model Shop (1969): George está desempregado, falido, prestes a ser convocado para o Vietnã e, de repente, apaixona-se por Lola, uma mulher que ele viu apenas brevemente. Jovem de 26 anos, aguardando convocação para o exército (Guerra do Vietnã), comporta-se como adolescente diante da vida, sem entender seu sentido ou o porquê das coisas não serem sempre do jeito que ele gostaria. Normal um jovem ter estranheza diante do devir, o problema é quando ele não amadurece e continua sentindo-se assim e acreditando que este sentimento o torna alguém especial. (2)
More (1969): Stefan, recém-formado, viaja de carona da Alemanha até Paris, onde conhece a expatriada americana Estelle. Eles perseguem o sol até Ibiza. Uma vida idílica na ilha degenera quando ela o apresenta à heroína e eles ficam viciados. Filme, o primeiro do diretor Barbet Schroeder, funciona como denúncia às drogas, mas é artisticamente fraco. O único aspecto interessante é a música de Pink Floyd. (2)
Bullitt (1968): Policial de São Francisco está determinado a encontrar o chefão do submundo que matou a testemunha sob sua proteção. Grande filme de ação explorando o policial lobo solitário contra tudo e contra todos. O diretor Peter Yates soube explorar a presença de Steve McQueen. Jacqueline Bisset, como namorada do herói, atrapalha um pouco o ritmo do filme, mas compensa com sua beleza. Marcante música tema de Lalo Schifrin. Um clássico, incluindo uma icônica perseguição de carros. (5)
Casino Royale (1967): Numa das primeiras paródias de espionagem, o idoso Sir James Bond sai da aposentadoria para enfrentar a SMERSH. Desperdício de um grande elenco em frustrada tentativa de satirizar 007. Só a canção The Look of Love na voz de Dusty Springfield e arranjo de Burt Bacharach se salva do desastre. (1)
Les Aventuriers (1967): Dois grandes amigos ficam sabendo de um avião caído no fundo do oceano, supostamente cheio de riquezas. Uma bela jovem junta-se a eles nas buscas, e ambos vão apaixonar-se por ela. Alain Delon e Lino Ventura levam uma vida de aventuras buscando tesouros – quem nunca sonhou com isto? A boa química entre os heróis carrega o filme. (3)
Peppermint Frappé (1967): Julian, um médico solteiro de meia-idade, reencontra seu amigo de infância Pablo. Este último voltou da África e acaba de se casar com uma linda jovem loira, Elena. Julian se apaixona por ela e tenta seduzi-la, mas ela o afasta zombeteiramente. Ele então descobre que Ana, sua enfermeira, guarda grande semelhança com Elena, e decide gradualmente transformar gradualmente Ana em Elena. Carlos Saura conta o drama psicológico de dois supostos amigos em meio a obsessão, fetiche, e ciúmes. Entre eles duas mulheres: a original e a cópia – uma homenagem a Vertigo (1958) de Hitchcock. (3)
Point Blank (1967): Depois de traído e dado como morto, um homem misterioso chamado Walker tenta obstinadamente recuperar o dinheiro que lhe foi roubado. História de bandido contra bandido, a relativização moral dos anos 1960 nas telas dos cinemas. Tem algumas boas tomadas, mas a edição tentativamente inovadora ficou estranha. Dirigido por John Boorman. Paybak (1999) com Mel Gibson foi baseado neste filme. (3)
The Producers (1967): Produtor de peça teatral elabora um plano para ganhar dinheiro produzindo um fracasso infalível. Dirigido por Mel Brooks. Comédia com alguns bons momentos. Quando loiras burras e homossexuais afetados eram divertidamente ridicularizados. (3)
Wait Until Dark (1967): Mulher recentemente cega é aterrorizada por um trio de bandidos na procuram uma boneca recheada de heroína que acreditam estar em seu apartamento. Policial inusitado pela cegueira da personagem principal (interpretada por Audrey Hepburn), mas um tanto cansativo na construção da narrativa. (2)
Harper (1966): Detetive particular é contratado por uma rica matrona da Califórnia para localizar seu marido sequestrado. Paul Newman no papel do detetive Lew Harper das novelas de Ross Macdonald. Herói pouco empático, o filme não empolga. Paul Newman no papel do detetive Lew Harper das novelas de Ross Macdonald. Herói pouco empático, o filme não empolga. (3)
The Deadly Affair (1966): Agente britânico pretende descobrir os fatos ocultos por trás do suicídio de um funcionário do governo britânico. Psicologicamente conturbado (corno manso) agente do governo precisa desvendar suposto suicídio – má representação da personagem George Smiley posteriormente tão bem encarnada por Alec Guiness. O filme tem pedigree: argumento de John la Carré, direção de Sidney Lumet, música de Quincy Jones e atores como James Mason, Maximillian Schell e Simone Signoret. Mas seria melhor se não fosse tão previsível. (3)
La decima vittima (1965): No futuro o show televisivo Big Hunt entre humanos é usado como alternativa substituta da violência, mas um romance entre “caçadora” e “vítima” atrapalha os planos de um grande acordo de patrocínio. Dirigido por Elio Petri, com Marcello Mastroianni, Ursula Andress e Elsa Martinelli. História futurista onde a violência é canalizada num esporte mortal. Antevê os famigerados reality shows. (2)
Major Dundee (1965): Em 1864, durante a Guerra de Secessão, um oficial da União (interpretado por Charlton Heston) decide cruzar ilegalmente a fronteira para resgatar crianças raptadas por sanguinários apaches usando um exército composto de tropas da União, prisioneiros de guerra confederados, negros, mercenários e batedores. O filme tinha elementos para ser melhor, mas os problemas entre produtora e diretor Sam Peckinpah acabaram com esta possibilidade. (3)
Red Line 7000 (1965): A história de três pilotos e suas namoradas constantemente preocupadas com a vida deles. Roteiro original de Hawks que envereda pela corrida de carros. Obra menor do grande diretor. (2)
The Ipcress File (1965): Em Londres, um espião investiga o sequestro e a lavagem cerebral de cientistas britânicos enquanto lida com as restrições da burocracia de sua agência. Michael Caine encarna o agente inglês Harry Palmer pela primeira vez. Em plena guerra fria o filme apresenta o Ocidente e soviéticos no mesmo nível de padrão moral. Stalin, do túmulo, agradeceu. Caine fez mais dois filmes baseados nos romances de Len Deighton: Funeral in Berlin (1966) e Billion Dollar Brain (1967) – ambos no mesmo baixo nível do primeiro. (2)
The Cincinnati Kid (1965): Jogador de pôquer em ascensão tenta provar seu valor em uma partida de apostas altas contra um veterano jogador. Um dos melhores jogos de poker no cinema. Steve McQuenn virando lenda. (3)
The Sandpiper (1965): Mãe solteira de espírito livre estabelece uma conexão com o diretor casado de um internato episcopal em Monterey, Califórnia. Filmado em Big Sur, único aspecto positivo do filme. Libelo feminista, anti-família e anti-religião. Propaganda escancarada assinada pelo roteirista e agente comunista Dalton Trumbo. Vincente Minnelli dirige o casal Richard Burton e Elizabeth Taylor. (1)
That Man from Rio (1964): Jovem vem em socorro da namorada sequestrada por ladrões e trazida para o Rio. Segue-se uma aventura extravagante. Vale pela curiosidade de ver imagens do Rio de Janeiro e de Brasília de 1964. De resto apenas a inusitada forma de verem o Brasil. Com Jean-Paul Belmondo. (2)
Zorba the Greek (1964): Escritor inglês que viaja para Creta por uma questão de negócios, e vê sua vida mudar para sempre quando conhece o sociável Alexis Zorba. Apolínio herdeiro inglês contrata dionisíaco grego. O segundo predomina sobre o primeiro de forma relativamente saudável. Como no livro, o aspecto revolucionário nos costumes diminui o filme. Vale mais para ver Irene Papas. (2)
Cleopatra (1963): A rainha Cleópatra VII do Egito (interpretada por Elizabeth Taylor) experimenta triunfo e tragédia ao tentar resistir às ambições imperiais de Roma. Talvez a produção mais caras de todos os tempos, e seguramente o maior desperdício de todos os tempos. Apesar de dirigido pelo competente Joseph L. Mankiewicz, o filme não passa de um extravagante exercício de tédio. (2)
Les Tontons Flingueers (1963): Chefe da máfia moribundo entrega seu negócio a um velho amigo, Fernand. Os assistentes do patrão querem se livrar deste último. Mas será que os irmãos Volfoni e Théo são ameaças reais? As lutas e tiroteios que se seguiram são mais cômicos do que mortais. Comédia francesa onde ainda havia papel para homens serem homens. Grande presença de Lino Ventura. (3)
The Raven (1963): Mágico, que foi transformado em corvo, pede ajuda a um ex-feiticeiro. Comédia de terror que usa o poema de Edgar Allan Poe como ponto de partida. Dirigido por Roger Corman , com Vincent Price, Peter Lorre, Boris Karloff e Jack Nicholson. (2)
Barravento (1962): Glauber Rocha disse a que veio neste seu primeiro filme: fazer propaganda política. A história de como um elemento nocivo faz do fim revolucionário uma justificativa para subverter uma sociedade de pescadores parece extraída de um manual de Lenin. Notar o ataque à empresa pesqueira portuguesa – uma narrativa que inibiu a indústria pesqueira no Brasil e reduziu/encareceu o alimento no país (ver O País dos Coitadinhos). (1)
How the West Was Won (1962): Saga que abrange várias décadas de expansão para o ocidente no século XIX, incluindo a Corrida do Ouro, a Guerra Civil e a construção das ferrovias. Grandes diretores, atores e locações. Mas a saga das duas Prescotts não empolga, e há varias figuras demasiadamente caricatas (e.g. o responsável pela estrada de ferro). (3)
To Kill a Mockingbird (1962): Alabama em 1932, advogado viúvo, defende um homem negro contra uma acusação de violação imerecida e tenta educar os seus filhos contra o preconceito. Baseado no romance homônimo de Harper Lee. Vemos o Bem e o Mal através dos olhos de uma menina de seis anos. A situação é um tanto forçada, mas transpira bons valores. (4)
The Guns of Navarone (1961): Equipe de sabotadores aliados recebe uma missão impossível: infiltrar-se em uma inexpugnável ilha grega controlada pelos nazistas e destruir os dois enormes canhões de longo alcance que impedem o resgate de 2.000 soldados britânicos. Clássico, bem-feito mas datado. (3)
The Innocents (1961): Jovem governanta se convence de que a casa onde trabalha é mal-assombrada. Interessante fiel adaptação do romance The Turn of the Screw de Henry James. (3)
House of Usher (1960): Ao entrar na mansão da família de sua noiva, um homem descobre uma maldição familiar e teme que sua futura noiva tenha sido sepultada prematuramente. Não faz justiça ao conto de Edgar Allan Poe apesar dos icônicos diretor Roger Corman e ator Vincent Price. (1)
The Time Machine (1960): Em 1900, H.G. Wells chega atrasado para seu próprio jantar e conta aos convidados sobre suas viagens em sua máquina do tempo. Entretida história na qual o protagonista aprende que o progresso contínuo é apenas um mito modernista. (4)