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Claude Chabrol (1930-2010)

  • Foto do escritor: Cultura Animi
    Cultura Animi
  • 12 de ago.
  • 4 min de leitura
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Il n'y a pas de nouvelle vague, il n'y a que la mer.” – Claude Chabrol


O fascínio do diretor Claude Chabrol, um dos fundadores da Nouvelle Vague, por filmes de gênero, especialmente por dramas criminais, produziu uma longa série de thrillers explorando o coração humano sob extrema pressão emocional. Chabrol é o diretor mais flexível e pragmático saído da Cahiers du Cinema.


Seu senso de humor cáustico e sua propensão por roteiros violentos nem sempre convenceu os espectadores ao longo de sua carreira de cinco décadas, mas o talento exibido ao descrever esses atos sombrios o coloca entre os relevantes artesões do cinema francês.


Evitando a estilização visual, seus filmes apresentam um estilo clássico, refletindo sua admiração por Fritz Lang. Seu outro mestre foi Alfred Hitchcock, que inspirou a distância irônica de Chabrol de seus personagens, bem como seu fascínio pela patologia e suas raízes no comportamento sexual.


Para Chabrol, a brutalidade poderia entrar em erupção a qualquer momento. Seus filmes são caracterizados por mudanças repentinas e abruptas de tom e são permeadas por um senso inquieto e ameaçador de que as normas de civilidade podem desaparecer sem aviso prévio.


Chabrol foi o mais prolífico dos diretores da Nouvelle Vague, sua capacidade de trabalhar de maneira rápida e eficiente, combinada com seu retorno constante aos gêneros de suspense e thriller, permitiu que ele permanecesse prolífico por décadas.


Estes são alguns dos seus thrillers mais destacados:


The Unfaithfull Wife (1969): Marido começa a desconfiar que sua esposa o está traindo. Chabrol começava aqui a se desvencilhar dos devaneios ideológicos da Nouvelle Vague, encontrando sua própria voz e estrutura narrativa (com acenos aos filmes de Hitchcock) que o acompanharia ao longo de sua prolífica carreira. Um filme onde as palavras não correspondem à imagem, demonstrando as dificuldades de comunicação do casal, e resultando numa calma e inexorável demonstração do poder destrutivo da infidelidade conjugal. Era o início do que ficaria conhecido como o Ciclo Hélène: a sequência de cinco filmes nos quais a protagonista chama-se Hélène (quatro deles estrelado por Stéphan Audran, então esposa do diretor).


This Man Must Die (1969): Criança é atropelada e morta mas o motorista nem se preocupa em parar, e o pai da criança o busca para vingar-se. Interessante estudo sobre os aspectos morais da vingança numa história confrontando pessoas boas e más. Notar como Chabrol insere cenas da vida cotidiana para tornar o assassinato ainda mais terrível e a vingança mais ambígua.


Le Boucher (1970): Improvável amizade entre um açougueiro e uma professora coincide com uma série terrível de assassinatos em uma cidade provincial francesa. Melhor filme do diretor. O suspense do filme envolve a assustadora dança que os dois personagens apresentam em torno da culpabilidade do açougueiro. Ele vai matá-la também? Ela está fascinada pela selvageria do açougueiro? É o encontro de duas almas desajustadas com final dramático. Quem é o psicopata? Ele, ela, ambos? Tente desvendar a resposta no rosto dela ao final, impassível diante de grande excitação interior.


The Breach (1970): Pai machuca o filho, e se muda para a casa dos pais que culpam a mãe da criança, os quais contratam alguém para investigá-la pensando na futura audiência de custódia. Uma mescla de thriller e melodrama que revela o triunfo da inocência sobre a experiência. A narrativa rebuscada é compensada por uma trilha musical concisa, movimentos fluídos de câmera, e bizarrices como a namorada do antagonista estar sempre nua e as cenas induzida por LSD.


Just Before Nightfall (1971): Executivo de publicidade acidentalmente estrangula sua amante, a esposa de seu melhor amigo. Agora ele reluta em decidir se deve entregar-se à polícia. Mais uma vez Chabrol nos mostra com maestria como o macabro pode habitar logo abaixo da superfície do ordinário. A narrativa nos leva a um pesadelo onde culpa e inocência são obscurecidos numa terrível amálgama: um tenebroso mundo de perversidade.


Wedding in Blood (1973): Um prefeito de uma pequena cidade no interior da França descobre que sua esposa (interpretada por Stéphane Audran) está traindo-o com o vice-prefeito (interpretado por Michel Piccoli), uma traição que acaba levando ao assassinato. O casal de adúlteros parece animais no cio, os protagonistas parecerem deslocados geograficamente e seu comportamento animalesco acaba dando comicidade ao drama, contrastando com sua morbidez. Notar como os amantes passam a encontrar-se apenas a noite depois da morte da esposa do vice-prefeito, i.e. como caem na obscuridade da qual não conseguirão se reerguer, escalando da separação física depois do assassinato do prefeito até a prisão final.


Violette (1978): Adolescente (interpretada por Isabelle Huppert) envenena seus pais (interpretados por Stéphane Audran, Jean Carmet) para sustentar seu amante na Paris da década de 1930. O filme poderia ser mais envolvendo, mas vale a pena ver como Chabrol disseca um crime assustador e verdadeiro. Violette Nozière era uma psicopata assassina, e a forma como a sociedade a perdoou, e até idolatrou, diz muito sobre a decadência espiritual e intelectual da França.


The Ceremony (1995): Empregada recém-contratada por uma família do interior da França faz amizade com uma funcionária dos correios que a incentiva a se rebelar contra seus empregadores. Cerimônia (la cérémonie) é uma expressão francesa para o procedimento de morte na guilhotina – Chabrol quis comparar a chacina da família aos assassinatos da Revolução Francesa? O filme é baseado no romance A Judgement in Stone (1977) de Ruth Rendell. A patologia esquerdista da romancista e do diretor parece querer, sem sucesso, apresentar algo de lutas de classes – a cena onde uma das psicopatas assassinas diz não haver nada para comer em casa cortando para a mesa farta das vítimas é ridícula. O resultado é uma chocante narrativa que expõe as mazelas do garantismo legal e a escalada criminosa fomentada pela impunidade.

©2019 by Cultura Animi

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