Seguem curtas anotações sobre alguns filmes lançados nos anos 1950 (notas dos filmes entre parênteses – escala de 1 a 5):
No Name on the Bullet (1959): A chegada de um assassino de aluguel põe as consciências culpadas da cidade em polvorosa. Talvez o melhor bandido-mocinho dos westers – interpretado por Audie Murphy. (3)
Gideon’s Day (1958): Um típico dia para o inspetor-chefe da Scotland Yard, George Gideon, consiste em trabalhar em vários casos ao mesmo tempo. Policial leve e divertido de John Ford. Gideon é um herói porque lida o dia todo com coisas que os demais podem ignorar, e quando chega em casa não tem histórias para contar. Ford nos faz crer na justiça “quando ela é viril”, que para haver justiça, a polícia deve ser respeitada, i.e. honesta e eficaz. Notar as cores vibrantes, quase alucinógenas, e a maneira como Sally, a filha de Gideon, posa ao atender o telefone. (3)
The Brothers Karamazov (1958): Drama baseado no romance homônimo do escritor russo Fiódor Dostoévski sobre a orgulhosa família Karamazov na Rússia da década de 1870. Destruíram o romance de Dostoiévski. (2)
The Last Hurrah (1958): Frank Skeffington é um envelhecido chefe político irlandês-americano (interpretado por Spencer Tracy) concorrendo pela última vez à reeleição como prefeito de uma cidade em New England. Este drama político dirigido por John Ford transmite um sombrio desespero diante da dissolvência da tradição e ordem social – a derrota de Skeffington marca a emergência de uma nova e deteriorada ordem, a tradição não enobreceu a novas gerações. Destaque para a última cena onde os antigos companheiros do velho prefeito desfilam tristemente escada acima para ver seu líder morto, insinuando que uma das maiores conquista da vida é ter amigos no final. (3)
The Old Man and the Sea (1958): A maré de azar de um velho pescador cubano é quebrada quando ele fisga um grande peixe que o arrasta mar adentro. Decente adaptação da novela de Ernest Hemingway dirigida por John Sturges. (3)
The Wings of Eagles (1957): Biografia do aviador da Marinha que virou roteirista Frank W. 'Spig' Wead (ele escreveu, entre outros, They Were Expendable para Ford). Segundo o diretor John Ford, “The title was lousy – I screamed at that. I just wanted to call it The Spig Wead Story. ...I didn’t want to do the picture because Spig was a great pal of mine. But I didn’t want anyone else to make it. I knew him first when he was deck officer, black shoe, with the old Mississippi – before he went flying.…We did quite a few pictures together. He died in my arms. I tried to tell the story as truthfully as possible, and everything in the picture was true. The fight in the club – throwing the cake…, the plane landing in the swimming pool – right in the middle of the Admiral’s tea – [all] that really happened.” A personagem do diretor John Dodge é uma versão ficcional de John Ford. A narrativa concentra-se nas lutas pessoais de Frank Wead, em seu receio de ser danoso para os demais, e menos em suas conquistas como militar e escritor. O charme do filme corre por conta das atuações de John Wayne e Maureen O’Hara. (3)
Forbidden Planet (1956): Tripulação de uma nave estelar no século 23 investiga o silêncio de uma colônia em um planeta distante, e encontra apenas dois sobreviventes, um poderoso robô e o segredo de uma civilização perdida. De quando filmes sci-fi colocavam Deus acima de tudo. Mostra como não importa o quão avançado tecnologicamente o ser humano (ou alienígena) possa se tornar, ele nunca perde sua natureza humana (ou alienígena). O roteiro é claramente inspirado em A Tempestade de William Shakespeare, mas sem a simbologia deste. (3)
Moby Dick (1956): O único sobrevivente de um navio baleeiro conta a história da obsessão autodestrutiva de seu capitão em caçar a baleia branca Moby Dick. Tenta ser fiel ao livro, mas não é fácil, mesmo para John Huston, representar na tela a grandeza desta obra de Melville. (3)
Written in the Wind (1956): Playboy alcoólatra casa-se com a mulher secretamente amada por seu melhor amigo pobre, mas trabalhador, que por sua vez é perseguido pela irmã ninfomaníaca do playboy. Melodrama com o batido tema da pobre família rica. Só Lauren Bacall se salva. (2)
Kiss Me Deadly (1955): Mulher condenada arrasta detetive particular para um redemoinho mortal de intrigas. O detetive Mike Hammer é transposto dos livros para as telas de cinema em obra bizarra do diretor Robert Aldrich. Um cultuado noir niilista, apresentando um mundo que mereceria perecer. (4)
Tarantula (1955): Entretido filme B na linha sci-fi/terror. Cientista malthusiano, logo mais estúpido que louco, cria tarântula gigante. Nesta época Hollywood ainda entendia que as tentativas de reengenharia da obra de Deus só trazem problemas. Clint Eastwood tem um pequeno papel no final do filme como líder do esquadrão de caça. (3)
The Ladykillers (1955): Cinco criminosos excêntricos planejando um assalto a banco alugam quartos de uma viúva octogenária sob o pretexto de serem músicos. Deliciosa comédia de humor negro satirizando filmes de roubo como o icônico Asphalt Jungle (1950). Destaque para uma das melhores “velhinhas” (Katie Johnson) da história do cinema. Dirigido por Alexander Mackendrick. (4)
The Man with the Golden Arm (1955): Frankie Machine (interpretado por Frank Sinatra) é um habilidoso carteador e ex-viciado em heroína. Quando volta para casa da prisão, ele luta para encontrar um novo meio de subsistência e evitar o antigo vício. E este é um de seus erros, pois um dos truísmos que o filme nos mostra é o fato de ser quase impossível manter-se limpo se retornar à origem do seu vício. Frankie é inseguro e fraco, sendo impossível torcer por ele, quanto mais entender como pode ter uma anjo intervindo por ele encarnado na personagem de Kim Novak. Baseado no romance homônimo de Nelson Algren, e dirigido por Otto Preminger. No romance original, Frankie mata Louie e se enforca em um quarto de hotel barato enquanto foge da polícia. Isso foi alterado no filme; talvez tivesse sido melhor aderir ao romance original. (3)
20.000 Leagues Under the Sea (1954): Navio enviado para investigar uma onda de misteriosos naufrágios encontra o avançado submarino Nautilus comandado pelo capitão Nemo. Superprodução para um clássico de Jules Verne. Envelheceu mas ainda funciona. (3)
Creature form the Black Lagoon (1954): Estranha fera pré-histórica espreita nas profundezas da selva amazônica. Um grupo de cientistas tenta capturar o animal e trazê-lo de volta à civilização estudá-lo. Monstro como tal e não um angelical filho de Gaia. As críticas corretas sobre a má exploração da natureza pelo homem (mau gerente apontado por Deus) são na medida certa e nunca apresenta o monstro (um animal assassino) como vítima da humanidade. (2)
Touchez pas au Grisbi (1954): Gangster idoso e cansado do mundo é forçado a deixar a aposentadoria quando seu melhor amigo é sequestrado e suas barras de ouro roubadas exigidas como resgate. Dirigido por Jacques Becker. Versão francesa explorando os bandidos como protagonistas hoje tão em voga. Os comensais ironizando os "conservadores" no início é emblemático (apresentados desejosos de comer do "bolo" dos marginais), nada mais descarado e vergonhoso. O filme fala de amizade e velhice de forma superficial. (2)
Beat the Devil (1953): A caminho da África estão um grupo de bandidos em busca de fortuna, e um casal britânico aparentemente inocente. Era para ser um misto de aventura, romance e comédia, porém não funciona em nenhum gênero. O desfecho final é forçado demais, inverossímil. Esperava mais de um filme que tem algumas estrelas, direção de John Huston e roteiro com a mão Truman Capote. (1)
Le salaire de la peur (1953): Numa decrépita aldeia sul-americana quatro homens são contratados para transportar um carregamento de nitroglicerina em condições precárias. Puro libelo anticapitalista repleto de personagens estereotipadas em uma América do Sul que mais parece o Inferno. Adaptação da novela homônima de George Arnaud onde o diretor Henri-Georges Clouzot (1907-1977) expõe sua visão de mundo existencialista. (2)
The Member of the Wedding (1952): O casamento de seu irmão mais velho força a pré-adolescente Frankie a enfrentar sua própria imaturidade. Romance de Carson McCullers adaptado para a Brodway e trazido para a tela pelo diretor Fred Zinnemann. Melodrama cansativo com a forçada escolha de uma atriz de 27 anos (Julie Harris) para interpretar a protagonista de 12 anos de idade. Só vale para ver a sempre marcante atriz Ethel Waters. Sobre ela Zinnemann disse que “toda vez que tentava ajudá-la, ela revirava os olhos para o céu e dizia: 'Deus é meu diretor!' Como você pode argumentar com isso?”. (2)