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Roman Polanski (1933- )

"People like Truffaut, Lelouch and Godard are like little kids playing at being revolutionaries. I've passed through this stage. I lived in a country where these things happened seriously.You must live in a Communist country to really understand how bad it can be. Then you will appreciate capitalism." – Roman Polanski


A obra de Polanski pode ser vista como uma tentativa de precisar a relação entre a instabilidade e tendência à violência do mundo contemporâneo com a crescente incapacidade do indivíduo de superar seu isolamento e encontrar algum sentido ou valor além de si mesmo.


Seus filmes são caracterizados por alienação e hostilidade: a sensação de que as pessoas estão isoladas, sem o apoio de qualquer visão compartilhada da vida e da sociedade. A partir dessa solidão, o movimento em direção aos atos de violência é furtivo, implacável e até cômico.


O mundo de Polanski parece estreito e repetitivo. O que o amplia é seu senso de humor, a falta de autopiedade e a curiosidade que apresenta pelo comportamento humano. Apesar de todas as provações, seus filmes têm um interesse jocoso pela estranheza e uma vontade cinematográfica de dar-lhe uma atenção completa. Ele usa tomadas longas e simples para encorajar os atores e envolvê-los totalmente a ponto de alcançar momentos extraordinários.


Segue lista de seus melhores filmes:


Repulsion (1965): Mulher com repulsa sexual cai em depressão e tem visões horríveis de estupro e violência. Belo manejo de espaço, tempo e som para vividamente representar uma experiência esquizofrênica. A origem da loucura da protagonista não é explicada, trata-se apenas de uma experiência da loucura e não do entendimento desta condição. Uma das melhores atuações de Catherine Deneuve, então com 21 anos.

Dance of the Vampires (1967): Notável professor e seu estúpido aprendiz são vítimas de vampiros, enquanto seguem o rastro de uma donzela em perigo (interpretada por Sharon Tate). Primeiro filme colorido de Polanski. Ainda a melhor paródia de filmes de vampiros. O diretor demonstrava que podia trafegar bem em filmes de apelo comercial.


Rosemary’s Baby (1968): Jovem casal que tentando engravidar muda-se para um prédio antigo no Central Park West, onde se vê cercado por vizinhos peculiares. Polanki transforma o best seller de Ira Levin num clássico do cinema, talvez o melhor filme de horror de todos os tempos – é também o seu melhor filme. O maior terror é a ideia de que não podemos contar com ninguém… conjunge, amigos, médico, não poderíamos confia em ninguém, nem em nós mesmos – força do filme está na manipulação deste medo subconsciente e cultural. O final é pessimista, mas representativo da decadência social – um ano após o lançamento do filme Polanski seria tragicamente vitimado por esta mesma decadência encarnada no movimento hippie. Rosemary’s Baby inaugurou a sequência de filmes de possessão demoníaca infantil que seguiu com The Exorcist (1973) e The Omen (1976).


Chinatown (1974): Detetive particular contratado para expor um adultério na década de 1930 em Los Angeles se vê envolvido em uma teia de mentiras, corrupção e assassinato. O título refere-se a consciência do protagonista que vê repetir-se a situação que o levou a deixar, anos atrás, a força policial quando trabalhava em Chinatown – um soturno ensaio mental sobre sexo, corrupção e violência. Polanski reconstrói uma LA dos anos 30 gótica e angustiante e, com elenco irretocável, realiza um grande noir extemporâneo com final sombrio. Há ecos de Édipo Rei em Chinatown. Esta também é uma terra que sofre uma maldição, uma seca moderna; e também um incesto. Entretanto, ao contrário de Édipo Rei, aqui o principal culpado da desordem não é cegado e humilhado, mas sim recompensado, enquanto aqueles que reconhecem a desordem e tentam eliminá-la ou pelo menos fugir dela são destruídos.


The Ninth Gate (1999): Negociante de livros raros é contratado para encontrar as duas últimas cópias de um texto que contém a chave para invocar o diabo. Thriller de estirpe desenvolvido de forma distante (sem apego as personagens) e com ritmo. Nem o descambar final para o sobrenatural consegue diminuir o atrativo do filme. É a segunda vez que Polanski aborta o Diabo, e novamente o faz vitorioso, demonstrando o atual período de decadência civilizacional.


The Pianist (2002): Durante a Segunda Guerra Mundial, aclamado músico polonês enfrenta várias lutas ao perder contato com sua família. À medida que a situação piora, ele se esconde nas ruínas de Varsóvia para sobreviver. Quase três décadas após Chinatown, Polanski volta a fazer um grande filme adaptando para a tela a experiência biográfica do pianista polonês Wladyslaw Szpilman. O diretor acerto ao evitar sentimentalismo e heroísmo, limitando-se a apresentar o testemunho de Szpilman das atrocidades daquele período no mesmo tom melancólico biografado. A cena onde Szpilman toca para o oficial alemão (Wilm Hosenfeld) é antológica, e o diretor de fotografia (Pawel Edelman) brilha ao gradualmente “desbotar” o filme ao longo da narrativa conforme avançam as aflições do pianista.


Seguem outros filmes menos cotados da obra do diretor que ainda apresentam atrativos:


Knife in the Water (1962): Casal a caminho de seu iate dá carona a um jovem. O marido o convida para acompanhá-los no passeio de barco. À medida que a viagem avança, cresce o antagonismo entre os dois homens. Primeiro longa-metragem de Polanski, e o único filmado na sua natal Polônia até The Pianist em 2002. Com escassos recursos Polanski entrega um tecnicamente bem realizado ensaio sobre como desejo e poder podem negativamente afetar nossas vidas. A cena final tornou-se um emblema dos filmes sem fechamento dos anos 1960 – era a febre da “obra abeta” que na maioria dos casos não passava de um álibi para ocultar uma insanável precariedade criativa.


Cul-de-sac (1966): Dois bandidos feridos em fuga encontram refúgio no castelo isolado de um homem fraco e sua esposa. Humor macabro com uma absurdidade claramente inspirada em Beckett (ver aqui, aqui e aqui) e Ionesco (ver aqui e aqui) – o diretor já havia explorado a absurdidade em seus primeiros trabalhos em curta-metragem (e.g. Two Men and a Wardrobe). Típica obra dos anos 1960.


The Tenant (1976): Burocrata aluga um apartamento em Paris, entrando num labirinto paranóico. Junta-se a Repulsion e Rosemary’s Baby para completar a trilogia sobre o lado negro de viver em apartamentos nas grandes cidades. Uma imoderada visão da enlouquecedora atomização da sociedade e seu consequente isolamento espiritual e afetivo.


Frantic (1988): Num quarto de hotel em Paris, um médico americano sai do banho e descobre que sua esposa desapareceu. Ele logo se vê envolvido em um mundo de intriga, espionagem, drogas e assassinatos.Este thriller tem um início excelente, mas do meio ao final, mesmo que ainda prendendo a atenção, a trama torna-se demasiadamente rocambolesca e hiperbólica.


The Ghost Writer (2010): Escritor fantasma, contratado para completar as memórias de um ex-primeiro-ministro britânico, descobre segredos que colocam a sua própria vida em perigo. Suspense bem construído. Pena que o enredo apele a tantos clichês antiamericanos (algum tipo de vingança de Pollanski?). Mesmo assim vale a pena assistir.


Carnage (2011): Dois casais mantêm uma reunião cordial sobre uma briga envolvendo seus filhos, porém, à medida que o tempo avança, o comportamento começa a mudar. Comédia satírica que remete ao Ángel Exterminador (1962) de Buñuel. Mordaz visão das falsas máscaras sociais que a impostura politicamente correta impõe aos espíritos mais enfraquecidos. Destaque para a justa ridicularização da personagem “justiceira social” encarnada pela atriz Jodi Foster.


J’accuse (2019): Em 1894, o capitão francês Alfred Dreyfus é injustamente condenado por traição e sentenciado à prisão perpétua na Ilha do Diabo. Baseado em An Officer and a Spy de Robert Harris sobre os eventos históricos do Caso Dreyfus no final do século XIX através dos olhos do oficial do exército francês Georges Picquart (muito bem interpretado por Jean Dujardin) que delatou as fraudes do processo. Sobre os perigos dos excessos do Estado sobre o indivíduo, a honra e a busca pela verdade.

PS: Não se deve julgar arte pelo caráter do artista – Polanski fugiu dos EUA durante seu julgamento por estupro de uma menina de 13 anos. Mas também não podemos perdoar seus crimes em função de sua arte. Para todos aqueles que julgam Polanski um perseguido pela justiça americana é importante recordar o seguinte: Roman Polanski instruiu uma menina de 13 anos a entrar nua em uma jacuzzi, recusou-se a levá-la para casa quando ela implorou para ir, começou a beijá-la embora ela dissesse não e pedisse para ele parar; realizou cunnilingus nela quando ela disse não e pediu para ele parar; colocou o pênis dele na vagina dela enquanto ela dizia não e pedia para ele parar; perguntou se ele poderia penetrá-la analmente, ao que ela respondeu: “não”, mas ele foi em frente e o fez assim mesmo, até ter um orgasmo.

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