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Esperando Godot de Samuel Beckett


Personagens Principais Estragon (Gogo) – vagabundo maltrapilho Vladimir (Didi) – vagabundo maltrapilho Pozzo – dono das terras locais Lucky – criado de Pozzo

Personagem Secundária Menino – trabalha para Godot

Interpretação Não façamos nada. É mais prudente.” – Vladimir


Esta é uma obra denúncia que descreve o existencialismo da época, e que ainda permeia nossa sociedade.


Os quatro personagens representam a humanidade. Seguindo o simbolismo do número quatro (de quatro derivam todas as possibilidades, e.g. quatro pontos cardeais), ele retrata as quatro formas fundamentais do ser humano, seja se as relacionarmos, por exemplo, com os elementos de Empédocles ou os temperamentos anímicos de Hipócrates:

  • Etragon (água – fleumático)

  • Vladimir (ar – melancólico)

  • Pozzo (fogo – colérico)

  • Lucky (terra – sanguíneo)


Destes quatro saem as misturas híbridas que compõe o todo – são uma síntese de toda a humanidade.


E Beckett apresenta-os como personagens “irônicos” na tipologia aristotélica, segundo o nível de poder da personagem, apresentada na Poética e esquematizada por Northrop Frye. Todos estão aquém da situação que se descortina diante deles, impotentes, sem capacidade de ação. A inação é sinônimo de morte – o frio congelante e imobilizador do inferno de Dante.


É a humanidade apresentada como do tipo “irônico”, caída no vazio e incapaz de encarar a vida. A humanidade que só enxerga eventuais direitos e esqueça deveres mandatórios. A soberba humanista produziu o vazio existencial e deixou-nos sem ação diante da vida.


Assim, Godot representaria a ideia simbólica de Sentido da Vida, a inação dos personagens reflete a falta de sentido da vida. Esperando Godot é uma grande parábola da sociedade moderna. É o testemunho do um fim de uma época, do esgotamento de uma sociedade, do esgotamento da possibilidade de ação humana na medida em que perdemos a noção da nossa existência.


Esta sociedade composta de homens “irônicos” é presa fácil de sistemas totalitários. Caso pense que a situação hoje é caótica, saiba que é apenas um prenúncio do que está por vir. A humanidade inescapavelmente viverá um período negro.


 

Notas

  • Samuel Beckett (1906-1989) nasceu num subúrbio de Dublin, Irlanda (Eire).

  • Autor crítico e dramaturgo, ganhador do prêmio Nobel em 1969. Escreveu em francês e inglês, e é conhecido principalmente pela peça Esperando Godot (1952).

  • Destacam-se ainda a trilogia de romances Molloy (1951), Malone Muert (1951) e O Inominável (1953), e a peça Fim de Partida (1957).

  • Assim como Franz Kafka, a obra de Beckett transmite sensação de angústia – são os grandes poetas da desesperança..

  • Em 1969 Beckett recebe o prêmio Nobel "for his writing, which - in new forms for the novel and drama - in the destitution of modern man acquires its elevation". A maioria dos críticos vê Beckett como um revelador da real condição humana – o conteúdo da sua obra seria “a busca de si mesmo”. Alguns o veem como o arauto do solipsismo (doutrina segundo a qual só existem, efetivamente, o eu e suas sensações, sendo os outros entes (seres humanos e objetos), partícipes da única mente pensante, meras impressões sem existência própria). Afinal o que Beckett nos queria dizer? Denunciar a decadência humana ou, como um apologista da nova ordem, expor um falso absurdo da nossa existência?

  • Esperando Godot é classificada como “teatro do absurdo”, nome dado a certas obras teatrais dos 1940s e 1950s, entre cujos autores se destacam Samuel Beckett, Eugène Ionesco, Artur Adamov, Jean Genet, Alfred Jarry e Boris Vian. A expressão “Absurdo” teria sido inspirada no livro O Mito de Sísifo de Albert Camus, que descreve a desolação humana num mundo incompreensível.

  • No Teatro do Absurdo o autor quer que os espectadores passem pela mesma angústia das personagens.

  • Em entrevista ao New York Post, Beckett revelou que a peça foi baseada em conversas entre ele próprio e sua mulher em Rousillon, escondidos dos alemães.

  • O diálogo que remete a predestinação agostiniana já marca o tom pessimista da peça.

  • Beckett tirou o nome da peça de um ciclista francês (Godeaux) que desapareceu durante o Tour de France e deixou todos esperando – o autor sempre afirmou que não refere-se a God (Deus).

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