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Ridley Scott (1937- )

"People say I pay too much attention to the look of a movie but for God's sake, I'm not producing a Radio 4 Play for Today, I'm making a movie that people are going to look at." – Ridley Scott


O inglês Ridley Scott obteve mais elogios da crítica e sucesso financeiro como diretor de comerciais de televisão do que como cineasta. Ironicamente, o elemento que o fez um premiado diretor de comerciais – sua ênfase no design visual para transmitir a mensagem – tem estado frequentemente no centro das críticas dirigidas aos seus filmes. Os detratores o consideram um picareta estiloso, capaz de disfarçar fezes.


Embora Scott tenha reconhecidamente forjado um estilo próprio, sua abordagem tem precedente no cinema expressionista alemão. Os expressionistas foram dos primeiros a usar os elementos da mise-en-scène (cenografia, iluminação, adereços, figurino) para sugerir traços de caráter ou realçar significados. As técnicas de Scott impressionam, mas por vezes parecem artificiais, podendo levar a uma desvalorização do enredo e das personagens em prol do aspecto visual, resultando na falta de clareza narrativa e na criação de personagens insípidas e pouco credíveis. Mas o pior de Scott é a tendência de inserir ideologia progressista em seus filmes. Quando isto acontece a narrativa perde senso e propósito, e nem a mais apurada técnica salva o filme – este problema ocorre principalmente em seus enredos pretensamente históricos.


Porém, quando bem assessorado na elaboração e condução do roteiro, quando trabalha com material relevante, Ridley Scott entrega filmes marcantes.


Numa obra de altos e baixos, os seguintes filmes se sobressaem:


The Duelists (1977): França, 1801. Devido a um desentendimento trivial, o sensato tenente d'Hubert é forçado a duelar com o irracional tenente Feraud. O desacordo resulta em uma série de duelos ao longo de vários anos. Bom filme, com razoável fidelidade a novela homônima de Joseph Conrad. Mas a antecipação do casamento de d’Hubert põe a perder o clímax final da novela. Primeiro longa-metragem de Ridley Scott no qual o diretor já demonstrava sua força estética.


Alien (1979): A tripulação de uma nave comercial encontra um parasita letal enquanto investigava uma misteriosa transmissão de origem desconhecida. Em seu segundo longa-metragem Ridley Scott já alcançava grande sucesso de crítica e público com uma bela amálgama de sci-fi, thriller e horror. Alegoricamente pode ser visto como um estudo do ser humano solitário diante do desconhecido que o rodeia. Alien também alçou a praticamente estreante Sigourney Weaver ao estrelato. O filme teve inúmeras sequências com Signorney Weaver encarnando a personagem Ripley: Aliens (1986), Aliens³ (1992) e Alien: Resurrection (1997) – todos dirigidos por outros diretores. Porém nenhum deles ombreou-se ao iniciador da saga. O próprio Ridley Scott tentou faturar com esta sua criação décadas depois dirigindo Prometheus (2012) e Alien: Covenant (2017), mas ambos filmes são ruins.


Blade Runner (1982): Policial (blade runner) é escalado para perseguir e exterminar quatro androides (replicantes) que roubaram uma nave numa colônia espacial e retornaram à Terra em busca do cientista que os criou. Grande adaptação do romance de Philip K. Dick (Do Androids Dream of Electric Sheep?). Curiosamente o filme fracassou no seu lançamento, mas tornou-se um cult ao longo dos anos. Em seu terceiro longa-metragem Ridley Scott entregava sua obra-prima.


Black Rain (1989): Dois policiais de Nova York prendem um membro da Yakuza e devem escoltá-lo de volta ao Japão. Ridley volta ao gênero policial depois do fraco Someone to Watch Over Me (1987), desta vez com acerto. Apesar dos clichês culturais e algumas situações forçadas, Black Rain é um sólido entretenimento com a marca estética do diretor e uma história de redenção como pano de fundo.


Gladiator (2000): General romano deposto pretende se vingar do imperador corrupto que assassinou sua família e o enviou à escravidão. Repleto de fantasias criativas, o filme é historicamente irrelevante. Mas bem atuado e produzido, é entretenimento garantido, com a personagem principal exibindo várias virtudes, entre as quais a misericórdia quando matar é desnecessário. Desde Alien o diretor não emplacava um blockbuster, que de quebra levou o Oscar de melhor filme – resgatando o esquecido gênero swords-and-sandals. O filme catapultou Russell Crowe para o superestrelato (ganhou o Oscar de melhor ator), e tem excelente trilha sonora de Hans Zimmer.


Black Hawk Down (2001): A história de 160 soldados de elite dos EUA que entram na perigosa Mogadíscio (Somália) em outubro de 1993 para capturar dois terroristas, e travam uma batalha desesperada quando são atacados por um grande contingente de assassinos muçulmanos. As atuações são excelentes e as cenas de ação são tão convincentes quanto vibrantes. O filme teria sido ainda melhor se Ridley Scott tivesse retratado os muçulmanos como vilões, e exposto os políticos americanos que colocaram aqueles soldados em perigo sem o poder de fogo adequado. Mesmo assim Black Hawk Down é arrebatadoramente chauvinista e um grande entretenimento.


American Gangster (2007): Policial incorruptível é escalado para derrubar um líder traficante do Harlem, Frank Lucas, cuja vida real inspirou este filme parcialmente biográfico. Entretida narrativa de gangsters que nos recorda de que homens maus podem praticar atos bons e que homens bons também comentem atos maus – a diferença é entender quando errou e buscar a redenção. Notar a cena em que a música Amazing Grace lembra a Frank que até um “desgraçado como ele” pode ser salvo.


The Martian (2015): Astronauta fica preso em Marte depois que sua equipe presume que ele está morto, e deve confiar em sua engenhosidade para encontrar uma maneira de sinalizar para a Terra que ele ainda está vivo, e sobreviver até um possível resgate. Baseado no romance de estreia de Andy Weir publicado de forma seriada em 2011 em seu blog. Talvez o filme mais leve de Ridley Scott, uma atraente aventura enaltecendo o espírito e vontade humana. A duração algo excessiva e o progressismo exalado na eleição do casting e no clima de We are the world, we are the children não afetam o resultado final. É o único sucesso de crítica e público do diretor desde American Gangster. Talvez seu canto do cisne.

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