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Angústia de Graciliano Ramos


Esse Julião, literato e bacharel, filho de um deles (negociantes), tinha os dentes miúdos e afiados, e devia ser um rato, como o pai. Reacionário e católico. – Luís da Silva despersonalizando sua futura vítima

Personagens Principais Luís da Silva – narrador, escritor desiludido, funcionário público, 35 anos Marina – vizinha de Silva, moça frívola, desperta interesse de Silva Julião Tavares – comerciante, rico, também atraído por Marina


Personagens Secundárias Adélia e Ramalho – pais de Marina Moisés – principal amigo de Silva, judeu, socialista Padre Inácio – líder religioso, imiscui-se na política Dr. Gouveia – dono da casa alugada por Silva que o taxa de capitalista

Interpretação Em Angústia Graciliano Ramos explicita a luta de classes dentro da classe média que apenas aludira em São Bernardo: o conflito entre aqueles que taxam de burgueses e os autodenominados intelectuais.


Luís da Silva encarna o intelectual que nutre um incontrolável ressentimento pela sociedade que não lhe retribui com reconhecimento e condição financeira aquilo que acredita merecer. E, seguindo o manual marxista, elege aqueles que chama de burgueses e a Igreja (Deus) como seus carrascos. Enlouquecido por este complexo de rejeição do meio Luís da Silva desconecta-se do Logos (fonte da ordem deste mundo) e busca na ideologia uma justificativa para sua existência – rejeição da razão divina (pois Deus teria criado um mundo mau) na revolta ególatra, revolta existêncial.


O ideólogo busca então conquistar uma pseudo-identidade com a afirmação do próprio poder matando alguém, neste caso Julião Tavares, para a pseudo-identidade substituir o ego humano que se perdeu. Assim, o protagonista de Angústia busca dostoievskianamente, nos subterrâneos do próprio eu, os motivos da sua ânsia de autodestruição, que o levou, quase automaticamente, ao crime (ver Memórias do Subsolo de Fiódor Dostoiévski).


Este processo patológico ajuda a explicar o ódio e sede de sangue nutrido pelos esquerdistas contra aqueles que pensam diferente deles, e que já resultou em mais de 100 milhões de assassinados na China, União Soviética, Camboja, Coreia do Norte e Cuba.


 

Notas

  • Graciliano Ramos (1892-1953) nasceu em Quebrangulo, Alagoas.

  • Escritor, jornalista e político. Filiado ao Partido Comunista, não escapou de prestar culto à ideologia e produzir uma literatura militante. Mesmo depois das denúncias de André Gide (1869-1951), Arthur Kostler (1905-1983) e Albert Camus (1913-1960), não deixava de se referir a União Soviética como “Terra Santa” e endeusar Stalin.

  • Sua fortuna internacional, assim com a de Jorge Amado (1912-2001) deve-se mais às suas relações com o Partido Comunista do que a seus dotes literários. Mas é mais meritório que Jorge Amado por não ter, como o baiano, tão ardorosamente abraçado o realismo socialista zdanoviano.

  • A obra do autor inclui os romances São Bernardo (1934) e Vidas Secas (1938).

  • Em Viagem (1954), editado após sua morte, Graciliano Ramos narra sua viagem à Tchecoslováquia e URSS em 1952, e desfia toda sua cegueira ideológica.

  • Álvaro Lins (1912-1970) argumenta em Os Mortos de Sobrecasaca que Graciliano Ramos julga os homens com pessimismo e frieza, apresentando um sentimento de ódio ou desprezo para com eles. E extrai de suas memórias (Infância de 1945) as características de um ressentido social, marca quase que inescapável dos ideólogos e militantes de esquerda.

  • Angústia foi publicado em 1936.

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