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Os Novos de Luiz Vilela


Estou cansado de tudo isso – disse Nei. – Cansado dessa confusão, cansado da literatura, cansado dessa cidade e dessa chuva, cansado até dessas nossas conversas, que não levam a nada. Dá vontade de sumir pra longe daqui. – Nei, protagonista de Os Novos


Personagens Principais Nei – protagonista, 23 anos, contista, professor universitário Zé – bancário, sustenta a mãe, escritor frustrado Vitor – poeta fracassado, universitário e funcionário público, casado

Personagens Secundárias Martinha, Mílton, Ricardo – da turma de Nei voltada a literatura Ronaldo e Leopoldo – alunos militantes Queiroz e Pinheiro – professores mais velhos Dalva – jornalista, milita na Ação Popular Leopoldo – amigo da turma, diretor de teatro Agostinho – professor de Nei no colégio Vera – estudante, namorada de Nei Elaine – amante de Nei, divorciada


Interpretação Através de uma sequência de diálogos, quase sempre na presença do protagonista Nei (alter ego do autor), a narrativa aborda os sonhos, angústias e dificuldades de um grupo de estudantes e professores universitários na Belo Horizonte de meados dos anos 1960s.

Retrato visceral de uma geração perdida cujos frutos podres ajudam a explicar a miséria espiritual, intelectual e moral da nossa sociedade, e que ainda por muito tempoeliminarão qualquer chance do Brasil passar por um verdadeiro processo civilizacional – registo demais um capítulo da deterioração daquela que deveria ser nossa classe intelectual.


Quase nenhum dos problemas geracionais fica fora de discussão, sejam relacionados à cultura e arte, sejam à própria conduta de vida, sendo a tônica ditada pelo papel da literatura, os ataques inconsequentes às tradições e aos costumes, e a exacerbação da luxúria. E das conversas emerge uma geração que se acredita meritosa só por ser jovem, que a tudo crítica sem ter nada melhor para propor, que clama por liberdade enquanto cai escrava de sua concupiscência, que só repete chavões e clichês esquerdistas, boêmia (viviam em bares – “ninguém estava interessando em fazer nada, apenas beber e conversar”), impotente e desesperançada.


O mérito do autor se consiste em buscar e expressar as impressões autênticas de sua própria experiência, fugindo da conduta de seus pares que preferiram reinventar a história para melhor enquadrar em sua ideologia e massagear o próprio ego. Tal autenticidade custou-lhe muitos ataques que “partiram sobretudo das pessoas de quem eu mais esperava compreensão, ou seja, os meus companheiros de turma literária”, segundo o próprio Vilela.



 

Notas

  • Luiz Vilela nasceu em Ituiutaba (MG) em 31/12/1942. Formado em Filosofia, foi jornalista e viveu nos Estados Unidos e Espanha. Considerado um dos melhores contistas brasileiros.

  • Os Novos foi lançado em 1971, foi seu primeiro romance.

  • Outras obras de destaque incluem o livro de estreia Tremor de Terra (1967 – contos), O Fim de Tudo (1973 – contos), O Inferno é Aqui Mesmo (1979 – romance), e A Cabeça (2002 – contos).

  • Análogo ao protagonista Nei, em meando dos anos 1960s, Vilela estava na universidade federal de Minas Gerais, escrevia contos (para os quais não encontrava editor), criou uma revista de contos e um jornal literário com outros escritores mineiros, e planejava escrever um romance.

  • Os Novos acabou ganhando com o distanciamento no tempo e nas paixões ― exatamente o contrário do que aconteceu com os incontáveis romances ‘políticos’ do mesmo período, todos mergulhados para sempre nas brumas do esquecimento.” - Wilson Martins, Jornal do Brasil

  • O grupo terrorista Ação Popular, no qual milita a personagem Dalva, foi responsável pelo letal ataque terrorista no Aeroporto de Guararapes (25/06/1966) – dois mortos e 15 feridos.

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