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Stanley Kubrick (1928-1999)


Somos capazes do maior bem e do maior mal, e o problema é que muitas vezes não somos capazes de distinguir entre um e outro, quando servem aos nossos propósitos. – Stanley Kubrick

Controvérsias a parte, este meticuloso e inovador profissional é um dos melhores diretores americanos da história do cinema.


Suas realizações são marcadas por composições visuais impressionantes (de uma simetria assombrosa), movimentos de câmera fluidos (muitas vezes empregando tecnologias criadas por ele) e uso memorável de partituras musicais.


A batalha da alma humana entre a virtude e o vício é leitmotiv recorrente nos filmes de Kubrick, dando-nos a possibilidade de vislumbrarmos o lado negro anímico sem ser necessário confrontar-nos diretamente com ele.


Doze de seus treze filmes merecem ser vistos e revistos:

Killer's Kiss (1955): Segundo longa-metragem de Stanley Kubrick. Aos vinte-e-seis anos já demonstrava seu desejo de controle sobre a produção, pois escreveu, produziu, editou, fotografou e dirigiu o filme. Apesar de já proporcionar indícios de sua genialidade estética, o roteiro é fraco, e é um filme noir menor. Vale mais como curiosidade.


The Killing (1956): Kubrick acerta a mão e entrega um noir com estirpe. O destaque fica com o elenco de excelentes atores representado personagens clássicos do gênero, e como a câmara imparcial do diretor os registra destruindo a si mesmos e aos demais.


Paths of Glory (1957): Primeira obra-prima de Kubrick, com notável controle de câmera e cenários. Mas o toque de gênio está na cena final (inexistente no romance de Humphrey Cobb) onde vemos que os soldados não perderam sua humanidade apesar das condições que lhes eram impostas. Baseado em uma história real de como a vida de indivíduos são sacrificadas em nome da vaidade de políticos e comandantes indiferentes a justiça e a humanidade. “Paths of glory lead but to the grave” (poema Elegy in a Country Churchyard de Thomas Gray) do homem comum e não dos políticos.


Spartacus (1960): O impacto visual e as grandes atuações de Laurence Olivier, Charles Laughton e Peter Ustinov conseguem salvar o péssimo roteiro do nefasto traidor do povo americano Dalton Trumbo que anacronicamente transporta para a Roma Antiga a ideológica luta de classes marxista.


Lolita (1962): O horror da concupiscência e pedofilia em tom de humor negro. Ao final o protagonista enxerga sua monstruosidade e busca uma falsa redenção matando seu doppelgänger.


Dr. Strangelove or: How I Learned to Stop Worrying and Love the Bomb (1964): Impagável e devastadora sátira da Guerra Fria e da ameaça nuclear lançada em pleno período em que a ideia da catástrofe atômica ansiava a sociedade.



A Clockwork Orange (1971): Mais uma obra-prima imortal.


Barry Lyndon (1975): A história de um inescrupuloso carreirista é contada com esplendor visual. O ritmo letárgico permite mergulhar nas locações e ambientes criados, mas pode incomodar quando não se embarca neste espírito.


The Shining (1980): Fantasmas, percepção extrassensorial, reencarnação, possessão, alucinações ou loucura… Kubrick usa ingredientes conhecidos para reinventar o gênero de filme de horror. Impressiona ver como o hotel Overlook transforma-se em uma personagem e o modo que a incógnita geral gruda na mente da audiência.


Full Metal Jacket (1987): Em tom farsesco Kubrick revisita o tema da manutenção da humanidade e sanidade em tempo de guerra. Desta vez a carga ideológica antiguerra deixa sequelas, e o filme é inferior a Paths of Glory, – mas a experiência visual compensa este deslize.


Eyes Wide Shut (1999): O último filme de Kubrick traz meditações sobre desejo sexual, amor, fidelidade, vaidade, verdade e imaginação. Mas nada disto importa muito diante da atmosfera onírica criada para a jornada de autodescoberta do protagonista.

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