Personagens Principais Robinson Crusoé – marinheiro náufrago Sexta-feira – selvagem resgatado dos canibais inimigos
Personagens Secundárias Capitão Português – resgata e ajuda Crusoé Espanhol – náufrago salvo por Crusoé
Interpretação Em desacordo com as orientações do seu pai, Robinson Crusoé se atira no mundo como marujo. Pode-se interpretar que Crusoé rejeita a transcendência e volta-se para a matéria. E por seguir seus desejos e não a razão, ele sofrerá uma série de reveses que o fará gradualmente entender como avaliou mal os conselhos do pai e reencontrar-se com Deus. Crusoé é o homem depois da queda que vai recuperar sua condição humana, o ser humano decaído que vai provar ser meritório. E o livro mostra esta recuperação simbolicamente como um processo civilizatório da ilha. É, no fundo, um livro metafísico.
A experiência como náufrago numa ilha deserta leva-o a dominar sua natureza interior enquanto também doma a natureza em seu proveito. Uma vez de posse de si mesmo ele irá gradualmente conquistar seu espaço no mundo dos homens e vencerá na sociedade. É uma progressiva conquista de si mesmo, da natureza, dos selvagens (Crusoé vai fazer o papel de pai para Sexta-feira, ensinando-lhe os caminhos de Deus) e, finalmente, de um lugar entre seus pares.
A história é repleta de ensinamentos práticos, morais e religiosos. Os principais são:
a razão nos possibilidades voos altíssimos mas colocamos tudo a perder ao sucumbir as nossas emoções (mito de Orfeu e Eurídice);
a razão é nossa arma para obtermos a vitória sobre nós mesmos;
a aceitação não passiva do nosso destino com o entendimento do aspecto trágico da nossa existência;
você nunca está totalmente só se está com Deus;
que a natureza nos foi dada por Deus para administrá-la com sabedoria em proveito próprio (embate do homem com a matéria ou Leviathan com Behemoth);
empreendedorismo é crítico para nossa subsistência (virtude da diligência contra o pecado da preguiça);
que o homem é um ser social (zoon politikon), demandando cooperação mútua para uma existência satisfatória;
e a busca de conforto material e proteção não conflita com os princípios de Deus quando dentro dos limites dos desejos legítimos. (Visão empírica que vê o mundo material como um texto pelo qual podemos entender o que não é material, usando o visível e concreto para explorar o invisível e transcendente.)
Presbiteriano, Defoe também advoga pelo contato direto com Deus, sem a obrigatoriedade de intermediários. E, como inglês de sua época, não deixa de demonstrar os aspectos benignos da colonização. Neste aspecto Otto Maria Carpeaux considera Crusoé "o romance fundamental do capitalismo", e vê o herói como um individualista burguês "perigoso para os outros", o "primeiro colono sedentário do Novo Mundo". Nesta interpretação, Robinson Crusoé seria o épico da classe média então emergente (enriquecimento individual e mobilidade social), expressando e defendendo seus valores. Esta é a visão mais comum desta obra, mas peca por ser simplista demais, além de ter algo de anacrônico ao empregar um entendimento materialista do mundo. Assim, enquanto muitos veem a lista de objetos resgatados do naufrágio como a prova de Crusoé ser um homo economicus (conceito racionalista onde o interesse pessoal define a atividade econômica), G. K. Chesterton compara os itens desta lista aos objetos e seres que temos neste mundo, como preciosidades mágicas resgatadas de um naufrágio, e que temos que agradecer a Deus por isso.
Este é um livro que todos os jovens deveriam ler. Numa sociedade onde os homens querem direitos sem deveres, benefícios sem sacrifícios e prazeres sem dor, os ensinamentos da experiência de Crusoé são mais necessários do que nunca.
Notas
Daniel Defoe (1660-1731), escritor, panfletista e jornalista, nasceu me Londres, Inglaterra.
Publicou, em estilo jornalístico, Robinson Crusoé em 1719. O sucesso do romance foi sua salvação financeira depois da bancarrota de seus empreendimentos comerciais.
Uma continuação The Farther Adventures of Robinson Crusoé foi publicada no mesmo ano.
Defoe parece ter sido inspirado no naufrágio real de Alexander Selkirk na ilha de Juan Fernandez (hoje renomeada como Robinson Crusoé) situado no Pacífico, próxima a costa do Chile.
Sua outra obra de sucesso é Moll Flanders (1722).