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Moll Flanders de Daniel Defoe


Personagem Principal Moll Flanders – narradora, órfã de vida errática

Personagens Secundárias Mãe de Moll – criminosa condenada, imigra para América Enfermeira – viúva em Colchester, cuida de Moll na infância Irmão mais velho (família adotiva) – primeiro amante de Moll Robert – outro irmão (família adotiva), casa com Moll Draper – segundo marido de Moll Fazendeiro – meio-irmão de Moll, casa-se com ela Cavalheiro – casado com uma louca, amante de Moll Banqueiro – vive vários anos com Moll Jemy (James) – único homem por quem Moll teve afeição Governanta – parteira, amiga e comparsa de Moll Humphrey – filho de Moll com seu meio-irmão

Interpretação A protagonista deste romance é um joguete nas mãos da roda da fortuna até sua conversão após a condenação à morte não consumada, quando descobre Deus. Moll Flanders mostra-se impotente diante das forças do destino em função da estreiteza do seu horizonte de consciência – ela não consegue enxergar sua própria existência, não apreende a realidade e seu lugar nela.

Aquele que tem um horizonte de consciência muito amplo acaba por entrar em conflito com o mundo em que vive. Personagens assim são considerados “heróis conflitivos”, pois ao enxergar aspectos da realidade inalcançáveis aos demais acaba por demandar dos outros ações que lhes parece sem sentido, daí o conflito. O “herói conflitivo” vive desafiando o destino.

Já Moll Flanders é uma “heroína inerte”, ela entende menos que os demais sobre o mundo a seu redor, e vive de reagir das vicissitudes cotidianas.

Porém, um horizonte de consciência amplo não é garantia de ações voltadas para o bom, belo e verdadeiro. Tão pouco garantia de sucesso na vida. Assim como um horizonte de consciência estreito não é evidência de fracasso. O nível de consciência de cada um influi na sua ambição, cujo alcance dependerá da disponibilidade dos meios de atingir seus objetivos, das ações dos demais, e, obviamente, das incontroláveis forças do destino.

A ambição de Moll Flanders era bastante primária: ser uma dama de qualidade – algo plenamente adequado a sua condição, pois era bela, educada e provida de simpatia. Sua ambição era compatível com suas possibilidades dentro da realidade. Ao final ela alcança seu objetivo, mas poderia não tê-lo feito. Defoe nos dá a impressão de que a Providência Divina teria intercedido por ela após sua conversão.

Pode parecer estranho que pessoas de tão baixa qualificação moral como a protagonista e sua mãe possam sair-se tão bem ao final do romance. Mas este romance não trata-se de dilemas morais, mas sim possibilidades de um projeto de vida.

Apreender a realidade e nosso lugar no seu seio, calibrar nossas ambições e saber nos redirecionar conforme os obstáculos que a vida nos impõe são fundamentais para uma existência satisfatória. Porém de nada adiantaria sem termos a consciência da condição trágica da vida humana. Somos responsáveis por nossos atos, mas não pelo nosso destino. Mas temos sim controle sobre que personagem queremos ser neste mundo, pois respondemos por nossos atos. Ninguém é senhor do destino, mas todos são senhores de sua própria pessoa.

A ideia de que somos responsáveis pelo nosso destino é causadora da crescente insatisfação, ressentimento e rebeldia do homem. Um ato de soberba que acaba esgarçando o tecido social e trazendo destruição e miséria quando aquele ressentimento é canalizado por ideologias voltadas para a conquista de poder.


 


Notas


  • Daniel Defoe (1660-1731), escritor, panfletista e jornalista, nasceu em Londres, Inglaterra.

  • Considerado o pai do romance inglês, tendo herdado o estilo da tradição picaresca espanhola.

  • Sua outra obra de sucesso é Robinson Crusoé (1719).

  • Moll Flanders foi publicado em 1722.

  • O modelo para a personagem Moll Flanders deve ter vindo de alguém que o próprio autor conheceu na prisão de Newgate, onde esteve preso por alguns meses em 1703 por razões políticas, ou de uma carta que uma ladra, de volta do exílio, enviou ao jornal que Defoe dirigia.

  • Também há quem veja a inspiração numa personagem real, Mary Frith, a “Moll cortadora de bolsas”.

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