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Prometeu Acorrentado de Ésquilo


Personagens Principais Prometeu – titã filho de Urano e Gaia Hefesto – deus do fogo

Personagens Secundárias Oceanides (coro) – filhas de Oceano Oceano – deus dos mares que circundam a terra Poder e Força – divindades auxiliares de Zeus Io – filha do rei Ínaco, amada por Zeus e perseguida por Hera Hermes – arauto dos deuses

Interpretação O homem recebeu a consciência (fogo), mas também os desejos (saídos da jarra de Pandora). Saberemos usar nossa consciência para escolher os desejos legítimos (aqueles sancionados pelo céu)? Esta é a batalha da nossa alma que flutua sob um firmamento de luzes e um abismo de trevas. O embate entre Zeus e Prometeu (e antes deles entre Urano e Gaia, e entre os futuros Olímpicos e os Titãs) é a luta entre o Espírito e a Matéria representados por estes duas entidades.

Roubo do fogo, roubo do saber dos deuses (análogo ao fruto proibido da árvore da ciência do Bem e do Mal). Soberba de querer ser como os deuses. O fogo roubado apresenta-se no seu valor negativo, simbolizando o intelecto reduzido a um meio de satisfação dos desejos múltiplos, cuja exaltação é contrária ao sentido evolutivo da vida em direção ao Espírito, à vontade de Zeus.

Prometeu simboliza o intelecto revoltado, perversão dos desejos evolutivos. Exaltação desarmônica dos desejos levadas a ideia de perfeição de si mesmo (hübrys). Ao passo que Epimeteu é o símbolo do intelecto banalizado, bestializado, desprovido de previdência. Deixa-se guiar unicamente pelos desejos do momento. Ambos representam as perversões ora de ascensão ilegítima, ora dos desejos ilegítimos.

Por seu pecado contra os deuses Prometeu perde seu aspecto ontológico e é devolvido aos elementos (ele é atrelado as rochas – decai à matéria e padece). A águia que come diariamente seu fígado é filha de Équídna (desejo terrestre (mulher) vaidosamente exaltado em relação ao espírito (serpente) – exaltação sentimental em relação ao espírito) e Tífon (fogo devorador, revolta destrutiva do intelecto, perda do impulso evolutivo em direção ao espírito, banalização, morte da alma). Estes dois monstros compreendem os desejos ilegítimos em ambas as direções dos polos da nossa existência. Assim, Prometeu encarna o destino da raça humana em lutar contra as pulsões que o derrubam para a matéria e bloqueiam o impulso evolutivo.


 

Versos proclamados por Prometeu que explica o pensamento de Ésquilo:

Temos de suportar com o coração impávido a sorte que nos é imposta e admitir a impossibilidade de fazermos frente à força irresistível da fatalidade

O homem não tem autonomia frente aos deuses e deve intrépido aceitar a implacabilidade do destino. Ésquilo vê um mundo onde o homem não tem chance de fazer frente às forças do destino, restando-lhe a busca da Diké interior para enfrentar o imponderável e aceitar suas consequências.



 


Notas


  • Ésquilo (525-456 b.C.) escreveu algo como 90 peças entre tragédias e sátiras, das quais apenas 7 tragédias chegaram até nós: Agamêmnon, Coéforas, Eumênides, Os Persas, Prometeu Acorrentado, Os Sete Contra Tebas e As Suplicantes.

  • A tragédia de Ésquilo é a ressurreição do homem heroico dentro do espírito de liberdade. Faz a ponte entre aristocracia do sangue de Píndaro (ansiava a restauração do mundo aristocrático de acordo com o espírito de submissão tradicional) até a aristocracia do espírito e do conhecimento de Platão.

  • Ésquilo une a fé no direito, herdada de Sólon, às realidades da nova ordem republicana – o Estado é lugar ideal para seus versos. Compartia as mesmas convicções de Sólon, mas aquilo que este manifestava com tranquilidade e reflexão, Ésquilo apresenta com comoção e drama.

  • Ésquilo é o maior responsável pela formatação da tragédia apresentada nos festivais a Dionísio.

  • Esta peça era a do meio, entre Prometeu Portador do Fogo e Prometeu Libertado, na sua trilogia. Acredita-se que o autor possa ser o neto de Ésquilo. Fazendo um paralelo com o mito judaico-cristão temos na primeira peça o comer do fruto da árvore do bem e do mal, na segunda a queda do homem e na terceira, e última, a reconciliação com o advento de Jesus Cristo.

  • Prometeu = aquele que pensa antes de fazer (oposto do irmão Epimeteu).

  • Epimeteu distribuiu aos animais as qualidades, mas não restou nenhuma para o homem. Prometeu então rouba o fogo dos deuses (inteligência/consciência) e o dá aos homens. Os deuses enviam Pandora e de seu jarro saem todas as desgraças, restando apenas a esperança.

  • A ação de desenvolve nos primórdios da humanidade, numa região isolada da Cítia (aréa compreendida pelo extremo sul da Rússia. Geórgia. Mar Cáspio e Cazaquistão).

  • Diferentemente de outras personagens trágicas, Prometeu é originário de seu erro (roubo do fogo) e não o nega.

  • A longa lista de países, rios e povos (raros e misteriosos na época) citados por Prometeu busca demonstrar sua onisciência.

  • As Oceanides são a origem das sereis – eram seres alados e nada tinham de peixes.

  • Oceano: “Não sabes, Prometeu, que as palavras são médicos capazes de curar teu mal, este rancor.” – cura pela palavra (confissão cristã / psicologia).

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