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O Senhor das Moscas de William Golding


For fifteen years I read nothing but classical Greek, not because it was the snobbish thing to do, or even the most enjoyable, but because this is where the meat is.” – William Golding, comentado sobre sua formação intelectual

When I was young, before the war, I did have some airy-fairy views about man. But I went through the war and that changed me. The war taught me different and a lot of others like me.” – William Golding, descoberta da potencia do mal que há dentro de cada um de nós



Personagens Principais Ralph – belo menino de 12 anos, líder natural Jack Merridew – valente e engenhoso, mas cruel e violento Porquinho – órfão, inteligente e introspectivo Simon – criativo, religioso e sensível

Personagens Secundárias Roger – frio e diabólico Sam e Eric – gêmeos, tímidos e agradáveis Maurice – sorridente e amigável, mas facilmente influenciável Henry – líder entre as crianças menores (6 anos) Percival – medroso e enfermiço Johnny – saudável e beligerante Oficial – único adulto, pretensioso e orgulhoso



Interpretação O autor transporta para um grupo de crianças em uma ilha antes deserta os conflitos presentes na sociedade humana. Os problemas da ilha são os problemas do mundo, pois trata-se da essência do dilema humano, de nossa tensão inescapável. O mal que prospera na íntimo de cada um daqueles meninos é o mesmo mal que ameaça a humanidade.


As forças conflitantes no romance representam as duas forças que governam nossa alma e, consequentemente, a sociedade. A primeira é a tendência à ordem representada nas regras discutidas nas reuniões dos meninos e em suas tentativas de construir um sinal de fogo e os abrigos. O segundo é o movimento em direção ao caos como quando o fogo sai do controle ou é esquecido, e nas orgias de caça, dança primitiva e até sacrifício humano – queda ao Inferno, adoração ao Senhor das Moscas (Belzebu).


Esta segunda força prevalece sem a proteção tradicional de sociedade, sem a orientação intelectual superior, e sem os melhores exemplos a serem seguidos – sem a herança da alta cultura os meninos rumam à anarquia. Mas há esperança para o futuro, Ralph adquiriu conhecimento, ele agora entende o conflito entre o Bem e o Mal, e entre o ideal e real, que existe no íntimo do homem. E, ao contrário de Simon e Piggy, ele é engenhoso o suficiente para escapar da morte e levar este conhecimento de volta para a civilização – processo iniciático de desafiar o mal existente em si mesmo (descida ao Inferno) e ser capaz detransitar livremente num mundo complexo e violento.


O lado obscuro do homem impulsiona seus vícios e limita seu poder de escolha. É somente quando o homem reconhece a ameaça à sua liberdade, interna e externamente, que ele pode começar a definir seus direitos como um ser livre e passar a controlar seu destino. Liberdade depende do autoconhecimento – ser livre não é fazer o que quiser, mas ter condições de fazer o que deve ser feito.


 

Fiel a sua erudição clássica grega, Goldwing renova neste romance o tema central dos mitos gregos. O embate entre Ralph e Jack simboliza a batalha interior humana entre a supraconsciência (Espírito) e a subconsciência (Matéria) – pendemos entre um céu luminoso (Virtudes) e um abismo de trevas (Pulsões – desejos ilegítimos).


A tarefa essencial do homem é preencher o sentido da vida desenvolvendo sua qualidade suprema via a espiritualização à imagem do espírito absoluto. O homem tende ao Espírito – impulso evolutivo. O homem deve buscar a harmonia de suas pulsões (desejos), a justa medida.


O imperativo ético é imanente à vida, e a tradição é a transmissão das duras aprendizagens éticas de nossos ancestrais.


 

O comportamento das crianças na ilha desmonta a ideia rousseauniana de que o homem se corrompe conforme a sociedade se desenvolve de seu estágio primitivo de constituição até o artificialismo urbano. Neste processo, dizia o aloprado suíço, o homem perderia sua natural autossuficiência (amour de sois) que transformar-se-ia numa perniciosa competitividade e ganância (amour-propre) – Rousseau reforçava assim o embuste do bon sauvage (“l’homme naît bon, c’est la société qui le corrompt”).

Qualquer observação do comportamento infantil refuta a teoria rousseauniana. O erro talvez tivesse sido evitado caso convivesse com algum de seus cinco filhos, mas Rousseau preferiu deixá-los, todos os cinco, na porta do orfanato assim que nasceram. Mais um “grande homem” que amava a humanidade, mas desprezava os seres concretos ao seu alcance (até os próprios filhos).



 


Notas

  • William Golding (1911-1993) nasceu em Newquay, Inglaterra.

  • Escritor, dramaturgo e poeta. Prêmio Nobel de literatura em 1985.

  • Os romances de Golding abordam a questão da violência e desordem no mundo moderno. O homem contém dentro de si as sementes do mal, mas também a possibilidade de controlar os impulsos mais baixos – em última instância sua visão da natureza humana é otimista.

  • O Senhor das Moscas (1954) é seu primeiro romance, e o mais reconhecido. Outros trabalhos de início de carreira também se destacam: The Inheritors (1955), Pincher Martin (1956), e Free Fall (1959).

  • A jornada de autoconhecimento de Ralph apresenta paralelo a de Robinson Crusoé.

  • Alguns dos elementos simbólicos da narrativa: Fogo: representa a esperança no futuro, conexão com o mundo civilizado e a herança do passado. Defunto / Paraquedas: inofensivo objeto inanimado que indica que o homem não tem nada a temer além de si mesmo. Selva: lado obscuro do espírito humano Concha: ordem e estabilidade Plataforma: racionalidade Montanha: esperança Faca / Pedra: potencial violência interior

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