Robinson CrusoƩ de Daniel Defoe
- Cultura Animi
- 5 de jan. de 2020
- 3 min de leitura
Atualizado: 30 de jun. de 2023

Personagens Principais Robinson CrusoĆ© ā marinheiro nĆ”ufrago Sexta-feira ā selvagem resgatado dos canibais inimigos
Personagens SecundĆ”rias CapitĆ£o PortuguĆŖs ā resgata e ajuda CrusoĆ© Espanhol ā nĆ”ufrago salvo por CrusoĆ©
Interpretação Em desacordo com as orientaƧƵes do seu pai, Robinson CrusoĆ© se atira no mundo como marujo. Pode-se interpretar que CrusoĆ© rejeita a transcendĆŖncia e volta-se para a matĆ©ria. E por seguir seus desejos e nĆ£o a razĆ£o, ele sofrerĆ” uma sĆ©rie de reveses que o farĆ” gradualmente entender como avaliou mal os conselhos do pai e reencontrar-se com Deus. CrusoĆ© Ć© o homem depois da queda que vai recuperar sua condição humana, o ser humano decaĆdo que vai provar ser meritório. E o livro mostra esta recuperação simbolicamente como um processo civilizatório da ilha. Ć, no fundo, um livro metafĆsico.
A experiência como nÔufrago numa ilha deserta leva-o a dominar sua natureza interior enquanto também doma a natureza em seu proveito. Uma vez de posse de si mesmo ele irÔ gradualmente conquistar seu espaço no mundo dos homens e vencerÔ na sociedade. à uma progressiva conquista de si mesmo, da natureza, dos selvagens (Crusoé vai fazer o papel de pai para Sexta-feira, ensinando-lhe os caminhos de Deus) e, finalmente, de um lugar entre seus pares.
A história é repleta de ensinamentos prÔticos, morais e religiosos. Os principais são:
a razĆ£o nos possibilidades voos altĆssimos mas colocamos tudo a perder ao sucumbir as nossas emoƧƵes (mito de Orfeu e EurĆdice);
a razão é nossa arma para obtermos a vitória sobre nós mesmos;
a aceitação não passiva do nosso destino com o entendimento do aspecto trÔgico da nossa existência;
você nunca estÔ totalmente só se estÔ com Deus;
que a natureza nos foi dada por Deus para administrÔ-la com sabedoria em proveito próprio (embate do homem com a matéria ou Leviathan com Behemoth);
empreendedorismo Ć© crĆtico para nossa subsistĆŖncia (virtude da diligĆŖncia contra o pecado da preguiƧa);
que o homem é um ser social (zoon politikon), demandando cooperação mútua para uma existência satisfatória;
e a busca de conforto material e proteção nĆ£o conflita com os princĆpios de Deus quando dentro dos limites dos desejos legĆtimos. (VisĆ£o empĆrica que vĆŖ o mundo material como um texto pelo qual podemos entender o que nĆ£o Ć© material, usando o visĆvel e concreto para explorar o invisĆvel e transcendente.)
Presbiteriano, Defoe também advoga pelo contato direto com Deus, sem a obrigatoriedade de intermediÔrios. E, como inglês de sua época, não deixa de demonstrar os aspectos benignos da colonização. Neste aspecto Otto Maria Carpeaux considera Crusoé "o romance fundamental do capitalismo", e vê o herói como um individualista burguês "perigoso para os outros", o "primeiro colono sedentÔrio do Novo Mundo". Nesta interpretação, Robinson Crusoé seria o épico da classe média então emergente (enriquecimento individual e mobilidade social), expressando e defendendo seus valores. Esta é a visão mais comum desta obra, mas peca por ser simplista demais, além de ter algo de anacrÓnico ao empregar um entendimento materialista do mundo. Assim, enquanto muitos veem a lista de objetos resgatados do naufrÔgio como a prova de Crusoé ser um homo economicus (conceito racionalista onde o interesse pessoal define a atividade econÓmica), G. K. Chesterton compara os itens desta lista aos objetos e seres que temos neste mundo, como preciosidades mÔgicas resgatadas de um naufrÔgio, e que temos que agradecer a Deus por isso.
Este Ć© um livro que todos os jovens deveriam ler. Numa sociedade onde os homens querem direitos sem deveres, benefĆcios sem sacrifĆcios e prazeres sem dor, os ensinamentos da experiĆŖncia de CrusoĆ© sĆ£o mais necessĆ”rios do que nunca.
Notas
Daniel Defoe (1660-1731), escritor, panfletista e jornalista, nasceu me Londres, Inglaterra.
Publicou, em estilo jornalĆstico, Robinson CrusoĆ© em 1719. O sucesso do romance foi sua salvação financeira depois da bancarrota de seus empreendimentos comerciais.
Uma continuação The Farther Adventures of Robinson Crusoé foi publicada no mesmo ano.
Defoe parece ter sido inspirado no naufrĆ”gio real de Alexander Selkirk na ilha de Juan Fernandez (hoje renomeada como Robinson CrusoĆ©) situado no PacĆfico, próxima a costa do Chile.
Sua outra obra de sucesso Ć© Moll Flanders (1722).