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Robinson Crusoé de Daniel Defoe


Personagens Principais Robinson Crusoé – marinheiro náufrago Sexta-feira – selvagem resgatado dos canibais inimigos

Personagens Secundárias Capitão Português – resgata e ajuda Crusoé Espanhol – náufrago salvo por Crusoé


Interpretação Em desacordo com as orientações do seu pai, Robinson Crusoé se atira no mundo como marujo. Pode-se interpretar que Crusoé rejeita a transcendência e volta-se para a matéria. E por seguir seus desejos e não a razão, ele sofrerá uma série de reveses que o fará gradualmente entender como avaliou mal os conselhos do pai e reencontrar-se com Deus. Crusoé é o homem depois da queda que vai recuperar sua condição humana, o ser humano decaído que vai provar ser meritório. E o livro mostra esta recuperação simbolicamente como um processo civilizatório da ilha. É, no fundo, um livro metafísico.

A experiência como náufrago numa ilha deserta leva-o a dominar sua natureza interior enquanto também doma a natureza em seu proveito. Uma vez de posse de si mesmo ele irá gradualmente conquistar seu espaço no mundo dos homens e vencerá na sociedade. É uma progressiva conquista de si mesmo, da natureza, dos selvagens (Crusoé vai fazer o papel de pai para Sexta-feira, ensinando-lhe os caminhos de Deus) e, finalmente, de um lugar entre seus pares.

A história é repleta de ensinamentos práticos, morais e religiosos. Os principais são:

  • a razão nos possibilidades voos altíssimos mas colocamos tudo a perder ao sucumbir as nossas emoções (mito de Orfeu e Eurídice);

  • a razão é nossa arma para obtermos a vitória sobre nós mesmos;

  • a aceitação não passiva do nosso destino com o entendimento do aspecto trágico da nossa existência;

  • você nunca está totalmente só se está com Deus;

  • que a natureza nos foi dada por Deus para administrá-la com sabedoria em proveito próprio (embate do homem com a matéria ou Leviathan com Behemoth);

  • empreendedorismo é crítico para nossa subsistência (virtude da diligência contra o pecado da preguiça);

  • que o homem é um ser social (zoon politikon), demandando cooperação mútua para uma existência satisfatória;

  • e a busca de conforto material e proteção não conflita com os princípios de Deus quando dentro dos limites dos desejos legítimos. (Visão empírica que vê o mundo material como um texto pelo qual podemos entender o que não é material, usando o visível e concreto para explorar o invisível e transcendente.)

Presbiteriano, Defoe também advoga pelo contato direto com Deus, sem a obrigatoriedade de intermediários. E, como inglês de sua época, não deixa de demonstrar os aspectos benignos da colonização. Neste aspecto Otto Maria Carpeaux considera Crusoé "o romance fundamental do capitalismo", e vê o herói como um individualista burguês "perigoso para os outros", o "primeiro colono sedentário do Novo Mundo". Nesta interpretação, Robinson Crusoé seria o épico da classe média então emergente (enriquecimento individual e mobilidade social), expressando e defendendo seus valores. Esta é a visão mais comum desta obra, mas peca por ser simplista demais, além de ter algo de anacrônico ao empregar um entendimento materialista do mundo. Assim, enquanto muitos veem a lista de objetos resgatados do naufrágio como a prova de Crusoé ser um homo economicus (conceito racionalista onde o interesse pessoal define a atividade econômica), G. K. Chesterton compara os itens desta lista aos objetos e seres que temos neste mundo, como preciosidades mágicas resgatadas de um naufrágio, e que temos que agradecer a Deus por isso.

Este é um livro que todos os jovens deveriam ler. Numa sociedade onde os homens querem direitos sem deveres, benefícios sem sacrifícios e prazeres sem dor, os ensinamentos da experiência de Crusoé são mais necessários do que nunca.


 

Notas


  • Daniel Defoe (1660-1731), escritor, panfletista e jornalista, nasceu me Londres, Inglaterra.

  • Publicou, em estilo jornalístico, Robinson Crusoé em 1719. O sucesso do romance foi sua salvação financeira depois da bancarrota de seus empreendimentos comerciais.

  • Uma continuação The Farther Adventures of Robinson Crusoé foi publicada no mesmo ano.

  • Defoe parece ter sido inspirado no naufrágio real de Alexander Selkirk na ilha de Juan Fernandez (hoje renomeada como Robinson Crusoé) situado no Pacífico, próxima a costa do Chile.

  • Sua outra obra de sucesso é Moll Flanders (1722).

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