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O Processo Maurizius de Jakob Wassermann


Personagens Principais Etzel Andergast – 16 anos, tem grave miopia, revoltado com as injustiças, racional Wolf Andergast – procurador geral do estado, pai de Etzel, integro e austero Otto Leonardo Maurizius – condenado a prisão perpétua por Wolf (há 18 anos) Personagens Secundárias Sofia Andergast – ex-mulher de Wolf, adúltera, mãe de Etzel Rie – governanta na casa dos Andergast Cecilia Andergast – mão de Wolf e avó de Etzel Roberto Thielemann – amigo de Etzel, espírito agitado, opiniões radicais Melchor Ghisels – escritor idolatrado por Etzel Camilo Raff – professor de ética de Etzel Pedro Paulo Maurizius – proprietário agrário, pai de Otto Gregorio Waremme (Georg Warschauer) – testemunha no caso Maurizius, trapaceiro Elli Hensolt (depois Maurizius) – esposa assassinada de Otto Ana Jahn (Duvernon) – bela irmã mais nova de Elli, irresponsável Hildegarde Koerner – filha de Otto com uma namorada Distelmayer – conselheiro da chancelaria, amigo de Rie Melitta Schneevogt – filha da senhoria de Etzel em Berlim

Interpretação Diga-me senhor, há realmente conflitos de deveres ou há apenas um só dever? – Etzel Andergast (não admissão do contraditório)

Etzel coloca seu pai no centro de todas as conspirações do mundo, claramente simbolizando uma revolta contra o Espírito. Quer vingança do pai (Espírito) que simbolicamente matou sua mãe (Amor). Busca fazer justiça a Maurizius como forma de substituir a função do pai, ocupar o lugar do Espírito.


Diz Etzel sobre o pai: “Foi ele quem tomou todas as medidas, quem tem todos os fios na mão. Exclui tudo que o atrapalha: toda curiosidade, toda reclamação, todo o espírito de investigação. É assim e ele quer que as coisas sejam assim e como é todo poderoso as coisas acontecem desse modo.” – caracteriza discurso contra Deus.

Ele quer a justiça perfeita no lugar da imperfeição do pai. É o revoltado metafísico que não aceita o mundo criado por Deus. Rebelião metafísica que cria todos os regimes totalitários, cujo governo resolverá todos os problemas humanos. Não entende que se o mundo fosse perfeito seria igual a Deus e não existiria. As imperfeições do mundo é bondade divina que permita nossa existência.

Etzel é um narcisista com delírio de onipotência. O discurso revolucionário promete a justiça perfeita, e na busca desta utopia traz apenas destruição e morte. O revolucionário apela ao narcisismo dos outros falsamente outorgando a capacidade de resolverem todas as injustiças.

Etzel tem um discurso existencialista: dono de sua vida e capaz de fazer o que quiser independentemente de qualquer coisa e qualquer um. Ele não compreende que não pode haver justiça perfeita, porque tal justiça não existe. Ele tenta fazer a justiça perfeita de qualquer maneira, usando para isso uma fúria existencial que os ideólogos industrializam – transformando-os na juventude hitlerista, militantes do PT, integrantes da UNE, caras-pintadas ou qualquer outra forma de idiota útil.

Há uma ilegitimidade na intenção de Etzel, pois sua principal motivação é vingar-se do pai e não fazer justiça. Assim como em Gregers de O Pato Selvagem de Henrik Ibsen, a ilegitimidade das intenções por trás de uma ação traz apenas problema a todos os envolvidos.

A jeunesse enragé são jovens enraivecidos com os problemas do mundo que têm uma atitude de combate às falsidades da sociedade – presa fácil dos ideólogos que querem se apropriar daquela energia. Por isso a juventude é sempre o maior de todos os instrumentos da ação ideológica. Os jovens estão na atitude certa de se posicionarem contra os problemas do mundo, mas precisam compreender que estes problemas fazem parte da vida para então tomar atitudes produtivas frente aos mesmos.


 

Notas

  • Jakob Wassermann (1873-1934) nasceu em Fürth, Bavária (Alemanha).

  • O Processo Maurizius foi publicado em 1928. Faria parte de uma trilogia incluindo Etzel Andergast (1931) e Joseph Kerkhovens dritten Existens (1934). A trilogia ajuda a entender como o culto e sofisticado povo alemão caiu na esparrela do nazismo.

  • Outras obras de destaque: Casper Hauser (1908), The World’s Illusion (1919) e o autobiográfico My Life as German and Jew (1921).

  • A narrativa de O Processo Maurizius desenvolve-se, principalmente, em Frankfurt e Berlin em meados da década de 1920, em plena República de Weimar.

  • O discurso de Waremme fala da dificuldade de separar justiça de vingança. Mas esta questão já foi resolvida na Oréstia.

  • A presença do Espírito sem o Amor é tratada no mito de Héracles.

  • A rebelião de Etzel Andergast contra o pai e a justiça lembra a personagem Eutífrone do diálogo homônimo de Platão.

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