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Kaspar Hauser de Jakob Wassermann

  • Foto do escritor: Cultura Animi
    Cultura Animi
  • 23 de jun.
  • 3 min de leitura

Hic jacet Casparus Hauser Aenigma sui temporis ignota nativitas occulta mors” – Inscrição na tumba de Kaspar Hauser



Personagens Principais Kaspar Hauser – órfão misterioso Daumer – professor ginasial em Nuremberg Binder – prefeito de Nuremberg Sr. e Sra. Behold – conselheiros em Nuremberg Tucher – advogado Stanhope – Conde de Chesterfield

Personagens Secundárias Feuerbach – conselheiro de estado Hickel – tenente da polícia Heinrich Fuhrmann – pastor Sr. e Sra. Quandt – professores Sra. von Imhoff – namorada de Feuerbach Clara von Kannawurf – amiga de von Imhoff Schildknecht (Tartaruga) – soldado


Interpretação O autor dá menos relevância ao enigma sobre a origem e morte de Kaspar Hauser, preferindo evidenciar as questões psicológica s e sociológicas daquele caso ímpar.

Para Aristóteles o homem é um animal político (zoon politikon), ou seja, um ser social, que vive em comunidade. O confinamento solitário de Kaspar Hauser impediu suas relações com seu ambiente cultural, deixando-o com a sensação de estar completamente à mercê da vida, sem uma identidade e o sentimento de pertencer a algo.


A história do indivíduo que não sabe o que deve fazer neste mundo despertou intenso interesse nos círculos literários e educados, e ele se tornou o assunto de várias obras imaginativas e estudos científicos durante o período e além. Kaspar apresentava uma situação social e psicológica única, uma posição fora da cultura e até da civilização. Assim como o caso da “criança selvagem”, a vida de Kaspar instigava a análise dos mistérios da socialização e da maturação psíquica, revelando os limites da ciência em explicar a natureza humana.


Kaspar é apresentado como uma tabula rasa exposta a uma sociedade hipócrita e egoísta que o vê como mero objeto de curiosidade popular e científica, quando não como um fardo. Um inocente liberado da escuridão em um mundo ensolarado em que há muita não-inocência – Kaspar é assíncrono, vulnerável, e ingênuo. Seu espírito é cada vez mais esmagado quanto mais civilizado ele se torna. A falta de amor e real proteção, a ausência de uma família, limitam o desenvolvimento emocional de Kaspar. Fazendo que seu drama também sirva de alerta contra o pesadelo da clonagem humana – o homem sem origem e história familiar. 


A falta de uma estrutura familiar e o desconhecimento da sua origem enfraquecem Kaspar Hauser frente a natural e inescapável tensão entre indivíduo e sociedade. Como zoon politikon, Kaspar não pode viver fora das relações sociais, em um estado de natureza. Nós, como indivíduos, nos encontramos em uma estrutura já existente de relações sociais nas quais decidimos e agimos. Todos nós desempenhamos papéis em vários tipos de relações sociais entre si, como maridos e esposas, professores e estudantes, empregadores e funcionários, e assim por diante, nas quais somos obrigados a agir de determinadas maneiras, e nossas ações estão sujeitas a certas condições, expectativas e restrições. Mais que a inabilidade inicial da fala, a inabilidade social foi a maior tragédia de Kaspar Hauser.





Notas

  • Jakob Wassermann (1873-1934) nasceu em Fürth, Bavária (Alemanha).

  • Kaspar Hauser foi publicado em 1908. Narrativa sobre o enigma da criança abandonada, até hoje não se sabe quem realmente foi Kaspar Hauser com teorias que vão de vigarista a herdeiro da família real de Baden.

  • Outras obras de destaque do autor: (1908), The World’s Illusion (1919), o autobiográfico My Life as German and Jew (1921), O Processo Maurizius (1928), Etzel Andergast (1931) e A Terceira Existência de Joseph Kerkhovens (1934).

  • Os temas dos romances do Jakob Wassermann são: a falibilidade da justiça humana, o contraste entre a maldade e a inocência, a opressão estatal e social, e a busca de Deus e do sentido da vida num mundo absurdo.

  • A ação de Kasper Hauser começa nos primeiros dias de verão de 1828 em Nuremberg, ao norte do estado da Baviera na Alemanha; e termina no final de 1833 em Ansbach, também na Baviera.

  • A história de Kaspar Hauser foi retratada no cinema pelo diretor Werner Herzog em The Enigma of Kaspar Hauser (1974).

©2019 by Cultura Animi

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