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John Huston (1906-1987)

  • Foto do escritor: Cultura Animi
    Cultura Animi
  • há 5 dias
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The directing of a picture involves coming out of your individual loneliness and taking a controlling part in putting together a small world. A picture is made. You put a frame around it and move on. And one day you die. That is all there is to it.” – John Huston


Huston foi escritor, roteirista, pintor, boxeador, cavaleiro, andarilho, jogador, aventureiro e mulherengo. Ele apreciava organizar a execução de um filme e estava sempre pronto a desafiar e intimidar os estúdios. Seus melhores filmes refletem sua personalidade cheia de energia e uma queda por finais irônicos, com o riso de quem sabe que os homens nascem para falhar. O interesse principal de Huston era a imagem, o retrato em movimento e o uso da cor – assim como as possibilidades poéticas do diálogo natural.


Nos filmes de John Huston as emoções, seja amor, medo, ódio, determinação, santidade, ganância ou desespero, parecem genuinamente sentidas; sendo que ele extraiu algumas extraordinárias performances de atores que até então não haviam se destacado.


Os protagonistas de Huston geralmente representam extremos. Eles são ignorantes, patéticos e condenados por sua falta de autoconsciência; ou inteligentes, arrogantes, mas igualmente condenados por sua falta de autoconsciência. Entre esses extremos, encontram-se os protagonistas centrados e inteligentes que sacrificam tudo por sua autoconsciência e independência. Huston considera o primeiro grupo patético, o segundo trágico, e o terceiro heroico, o qual ele admira pela capacidade de manter sua dignidade frente a dor e o infortúnio.


Sua obra é errática, com altos e baixos, mas contém alguns clássicos do cinema. Seguem comentários sobre seus melhores filmes:


The Maltese Falcon (1941): Depois que seu parceiro é assassinado, detetive particular de São Francisco, Sam Spade (interpretado por Humphrey Bogart), assume um caso envolvendo três criminosos excêntricos, uma atraente mentirosa e a busca por uma misteriosa estatueta de valor incalculável. Primeira direção do então roteirista John Huston que também adaptou este romance homônimo de Dashiell Hammett para a tela. O filme catapultou a carreira de Bogart que patinava há 10 anos, definindo sua performance daí em diante – mas nenhuma outra atuação superou este ambíguo Sam Spade. Alguns historiadores do cinema consideram The Maltese Falcon o primeiro filme noir – lançando as bases para o gênero de ruas bárbaras, heróis insensíveis, sombras soturnas e mulheres fatais. O filme é essencialmente uma série de conversas pontuadas por interlúdios breves e violentos. É tudo estilo. Não se trata de violência ou perseguições, mas da forma como os atores olham, se movem, falam e personificam suas personagens. Sob o estilo está a atitude: homens duros, numa época difícil, numa sociedade emergindo da Depressão e caminhando para a guerra, motivados pela ganância e capazes de matar. Imperdível.


The Treasure of Sierra Madre (1948): Dois americanos em busca de trabalho no México da década de 1920 convencem um velho garimpeiro a ajudá-los na mineração de ouro nas montanhas de Sierra Madre. Huston usa as árduas montanhas como os escuros recantos do coração humano, onde ele encontra a salvação ou danação. A morte do intruso Cody planta a semente da conversão humana na alma dos garimpeiros, com exceção de Dobbs (interpretado por Humphrey Bogart). Dobbs apegou-se ao “tesouro” equivocado, ao passo que os outros encontraram a verdadeira riqueza. O filme acendeu os Oscar de melhor diretor e melhor roteiro (adaptado do romance homônimo de B. Traven) para Huston.


Key Largo (1948): Um andarilho (interpretado por Humphrey Bogart) visita o hotel da família de um ex-companheiro de guerra que foi morto em ação, mas descobre que um mafioso de Chicago e sua gangue assumiram o lugar. À medida que um furacão se aproxima, ocorre um confronto. Claustrofóbico noir sobre redenção, uma rara adaptação do teatro na qual as restrições físicas da fonte são uma força e não uma fraqueza. Atmosfera e performances excelentes, com a sempre atraente interação entre Bogart e Lauren Bacall. Edward G. Robinson entrega um dos melhores gangster do cinema. A história de um homem que se redime.


The Asphalt Jungle (1950): Um exitoso assalto se desencaminha com traições, má fortuna e um sólido trabalho policial. Com excelentes atuações de seus atores, John Huston nos entrega uma história policial onde o crime não compensa. Sim, é uma selva e precisamos de ordem para sobreviver. E ainda tem Marilyn Monroe aos 24 anos em um de seus primeiros papéis creditados. Destaque para a profética fala do Comissário de Polícia ao final: “People are being cheated, robbed, murdered, raped. And that goes on 24 hours a day, every day in the year. And that’s not exceptional, that’s usual. It’s the same in every city in the modern world. But suppose we had no police force, good or bad. Suppose we had... just silence. Nobody to listen, nobody to answer. The battle’s finished. The jungle wins. The predatory beasts take over.


The African Queen (1951): Na África durante a I GG um capitão de barco alcoólatra (interpretado por Humphrey Bogart) é persuadido por uma missionária puritana (interpretada por Katherine Hepburn) a realizar uma viagem por um rio traiçoeiro e usar seu barco para atacar um navio alemão. Baseado no romance homônimo de C. S. Foster. Funciona bem como comédia, romance e aventura – um filme encantador e divertido, sustentado pela atuação dos dois protagonistas.


The Misfits (1961): Uma divorciada (interpretada por Marilyn Monroe) se apaixona por um cowboy mais velho (interpretado por Clark Gable) que está lutando para manter seu estilo de vida romanticamente independente. Roteiro de Arthur Miller (1915-2005). Um filme realista e melancólico onde convergem três temas perenes: (1) a solidão humana das relações precárias e fugazes, com a angústia em mitigar a sensação de vazio; (2) a decadência (a perda da forma), a transformação do que era em algo piorado, sem sentir-se apto a recuperar o deteriorado; e (3) a falta de imaginação e empatia, o passar pela vida sem ver e apreender o seu entorno. Ao final, depois da impactante cena de caça aos mustangs, há uma ode a liberdade. Primeiro explícita na libertação dos mustangs, e depois a liberdade interior perseguida pelo cowboy que "Don't want nobody makin' up my mind for me, that's all." Um filme pungente.


Fat City (1972): A relação de dois boxeadores enquando suas carreiras começam a tomar direções distintas. Baseado no romance homônimo de Leonard Gardner. Uma história sobre pessoas que são espancadas pela vida, mas que nunca param de sonhar – “fat city” é uma gíria do jazz que significa “levar uma vida boa”. A experiência de Huston como boxer explica a honestidade do filme, reforçado com boas atuações e uma bela fotografia. Belo, deprimente, sórdido e desesperador.


The Man Who Would Be King (1975): Na Índia de 1880, dois ex-soldados britânicos decidem se estabelecer como reis no Kafiristão, uma terra onde nenhum homem branco pisou desde Alexandre, o Grande. O diretor John Huston volta a boa forma depois do decepcionante The MacKintosh Man (1973). Excelente adaptação da obra homônima de Rudyard Kipling. Boas atuações de Sean Connery e Michael Caine nesta bela história sobre húbris.


The Dead (1987): Casal participa de um jantar com os amigos na casa de suas tias solteironas em Dublin em 1904, uma noite que resultará em uma epifania para ambos. Fiel adaptação do conto homônomo de James Joyce. Extraordinária narrativa de como se pode viver com uma pessoa, e mesmo amá-la, sem realmente conhecê-la; e ainda como se passam anos de uma vida sem o indivíduo realmente enxergar a si mesmo. E de como ambos podem conviver solitariamente lado a lado – falta da comunhão de almas. Melancólico e indispensável. Último trabalho de Huston que morreria logo após terminar o filme.

©2019 by Cultura Animi

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