David Fincher (1962- )
- Cultura Animi
- 23 de jun.
- 3 min de leitura

“ As a director, film is about how you dole out the information so that the audience stays with you when they’re supposed to stay with you, behind you when they’re supposed to stay behind you, and ahead of you when they’re supposed to stay ahead of you.”
– David Ficher
Um dos diretores mais talentosos que emergiram do mercado de videoclipe e comerciais para TV, David Fincher é um estilista competente. Seus melhores trabalhos são thrillers nos quais consegue imprimir uma atmosfera condizente com sua visão pessimista da natureza humana.
Depois da má estreia no cinema com Alien³ (1992), Fincher teve um período de 15 anos altamente produtivo, onde concentram-se seus melhores filmes, com ênfase em Se7en, Fight Club e Zodiac. Porém após o razoável The Girl with the Dragon Tattoo, o diretor embarca em uma série de péssimas realizações como Gone Girl (2014), Mank (2020) e Killer (2023).
Seguem comentários sobre seus filmes mais entretidos:
Se7en (1995): Em vias de se aposentar, o detetive da polícia William Somerset (interpretado por Morgan Freeman) assume um último caso com a ajuda do recém-transferido David Mills (interpretado por Brad Pitt): uma série de assassinatos elaborados e terríveis. Eles logo percebem que estão lidando com um serial killer (interpretado por Kevin Spacey) que está vitimando pessoas que representariam cada um dos sete pecados capitais. Em meio a um bem elaborado thriller policial temos a discussão sobre a deterioração civilizacional. O homem paira entre um firmamento de luzes e um abismo de trevas – temos o potencial a todas as virtudes e todos os vícios. É da natureza humana, sempre foi e sempre será assim, mas a sociedade descamba quando os vícios são banalizados e normatizados. Ao final Somerset entende que não pode ter controle sobre o destino do mundo, que sua única obrigação é salvar sua alma, e que para isto ele deve seguir combatendo mal. Antes desesperançado e abatido, ele recupera as virtudes da fé, da esperança e do amor, afirmando sua vontade de lutar pelo mundo, ainda sabendo que o Bem em si não se encontra aqui, mas na eternidade – “Ernest Hemingway once wrote, ”The world is a fine place and worth fighting for.” I agree with the second part.” (última fala de Somerset)
The Game (1997): Rico investidor de São Francisco (interpretado por Michael Douglas) participa voluntariamente de um jogo misterioso, mas quando sua vida é virada de cabeça para baixo ele começa a questionar se tudo não passa de uma conspiração para destruí-lo. Animado thriller que mais parece o pesadelo de um control freak. É apurar o suspension of disbelieve e divertir-se vendo o ego do protagonista sendo esmagado.
Fight Club (1999): Funcionário insone (interpretado por Edward Norton) e um estranho sujeito temerário (interpretado por Brad Pitt) formam um clube de luta underground. Grande entretenimento apesar da crítica incompleta ao emasculado homem moderno.
Zodiac (2007): Entre 1968 e 1983, um cartunista de São Francisco (interpretado por Jake Gyllenhaal) se torna um detetive amador obcecado em rastrear o serial killer Zodiac. Inspirado em uma história real (o roteiro é baseado no livro publicado pelo cartunista), Zodiac é uma combinação de filme de procedimento policial com filme sobre jornalismo – livre da maioria dos clichês de ambos – que reuni um labirinto de fatos e suspeitas ao longo de anos sem perder o suspense. Fincher tem o discernimento de diferenciar uma narrativa sobre um crime real de um ficcional, substituindo a ação por autenticidade. Roteiro, direção, atuações, tudo funciona nesta história de perseverança frente ao Mal.
The Social Network (2010): Versão algo romanceada da criação do Facebook. Irônica história de como um sujeito antissocial criou uma rede social, e, mais relevante, de como as redes sociais demoliram as reais relações humanas. Vemos as relações criadas artificial e hedonicamente desmoronarem, num mundo em decadência onde o sucesso é criado às custas da nossa humanidade. Significativo registro romanceado do surgimento de uma nova estrutura de poder materialista e desumana.
The Girl with the Dragon Tattoo (2011): O jornalista Mikael Blomkvist (interpretado por Daniel Craig) tem o auxílio da hacker Lisbeth Salander em sua busca por uma mulher dada como morta há 40 anos. Adaptação do primeiro romance da trilogia Millennium do sueco Stieg Larsson (1954-2004) – todos os três romances foram adaptados para a TV sueca com resultado inferior a esta adaptação americana para o cinema (principalmente pela incapacidade da péssima atriz Noomi Rapace capturar a natureza silenciosa e quase altista de Lisbeth). Thriller algo atraente que se arrasta no final e exagera no disparatado girl power. Último filme razoavelmente entretido de Fincher.