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Brian De Palma (1940- )


"I think that Hitchcock probably has had the best story ideas and cinema ideas in the history of the cinema, and I'm just trying to follow the master a little bit." – Brian De Palma


Assumido discípulo de Alfred Hitchcock, Brian De Palma inspirou-se na estrutura de enredo e cenas marcantes de vários filmes do mestre, e procurou emular sua técnica cinematográfica nos movimentos elegantes de câmera, nos cortes abruptos, no uso de cores chamativas (principalmente o vermelho) e nas detalhadas encenações de cenas de violência. Também adicionou peculiaridades suas como a divisão de tela para mostrar duas cenas que se desenvolvem simultaneamente, as cenas de tensão em câmera lenta, o uso de split-focus dioper lens, e as longas tomadas sem corte com Steadicam. Mas infelizmente, De Palma não tem a originalidade e ideias de Hitchcock, nem o apurado bom gosto, e tão pouco a habilidade do inglês em construir narrativas e desenvolver personagens.


Brian De Palma sempre buscou inspiração no passado, e não há nada de errado nisto. Além de Hitchcock há, por exemplo, a inspiração literária de diferentes fontes em Phanton of the Paradise, o tema emprestado de Michelangelo Antonioni em Blow Out, a adaptação do Scareface de Howard Hawks, e levar às telas os antigos sucessos televisivos de The Untouchables e Mission: Impossible.


Mesmo não sendo original ou profundo, Brian De Palma produziu, principalmente ao longo das décadas de 1970 e 1980, uma obra consistente, fundamentada principalmente em thrillers entretidos.


Seguem anotações sobre seus melhores trabalhos:


Sisters (1972): Repórter tenta convencer a polícia de que testemunhou um assassinato no apartamento em frente ao dela. O diretor abandona a militância política de Hi, Mom (1970) e emplaca seu primeiro relativo sucesso comercial. De Palma inaugura aqui o filão que traria algum de seus melhores filmes: thriller psycho-sexual inspirado em Hitchcock.


Phantom of the Paradise (1974): Compositor desfigurado vende sua alma para que a mulher amada execute sua música. De Palma abre sua caixa de ferramentas nesta impactante comédia que consegue satirizar com sucesso dois mundos tão díspares quanto o do rock e o dos filmes de terror. O diretor também assina o roteiro empregando ideias de clássicos literários como Fausto (1808), O Fantasma da Ópera (1910), Frankenstein (1818) e O Retrato de Dorian Gray (1890). Notar a sequência em tomada única da “bomba no porta-malas do carro” em homenagem a Touch of Evil (1958) de Orson Welles.


Carrie (1976): Adolescente tímida e solitária libera seus poderes telecinéticos depois de ser humilhada por seus colegas no baile de formatura. Baseado no primeiro livro publicado por Stephen King em 1974, o filme alavancou as vendas do livro (assim como Tubarão (Jaws), este é um daqueles raros casos em que o filme é muito superior ao livro).

Perversa mistura de comédia, terror e tensão construída mediate o contraste de momentos relaxantes interrompidos com uma surpresa assustadora, e entre fantasia e realidade – artifício que se tornaria característico de De Palma. Grande atuação de Sissy Spacek. A trilha sonora de Pino Donaggio é pontuada com os “gritos” de violino de Psycho (1960).


The Fury (1978): Agente da CIA aposentado (interpretado por Kirk Douglas) usa os talentos de uma jovem médium para resgatar seu filho telecinético de uma sombria agência governamental. O diretor coloca toda sua extravagância estilística para funcionar neste atraente horror-thriller que explora telecinesia e os rumores sobre o projeto Stargate conduzido pela CIA naqueles anos. A atriz Amy Irving está ótima neste seu segundo longa-metragem depois do seu debut em Carrie dois anos antes.

Dressed to Kill (1980): Misteriosa loira mata um dos pacientes de um psiquiatra e depois vai atrás da garota de programa que testemunhou o assassinato. Excelente suspense construído com imagens bem coreografadas e editadas. De Palma inova “assassinando” a estrela do filme (Angie Dickinson) no início da narrativa. O filme exemplifica o perigo e horror da transgeneridade. Temos um Brian De Palma confortável em seu estilo já bem definido.


Blow Out (1981): Sonoplasta (interpretado por John Travolta) grava acidentalmente as evidências que comprovam que um suposto acidente de carro foi de fato um assassinato político. O diretor abandona a fórmula utilizada em Carrie e Dressed to Kill para afastar-se do estigma de especialista em B-movie de horror (a abertura do filme dentro do filme é uma brincadeira com esta questão), e busca em Blow-up (1966) de Antonioni, em The Conversation (1974) de Coppola e no acidente real em Chappaquiddick (1969) a ideia para Blow Out. O filme começa com uma brincadeira mas o final é lúgubre – incluindo o drama de quem inadvertidamente causa o mal buscando fazer o bem. Um bom filme que curiosamente fracassou no lançamento e demorou anos para ganhar o merecido reconhecimento.


Scarface (1983): Em 1980 imigrante cubano (interpretado por Al Pacino) assume o controle de um cartel de drogas em Miami e sucumbe à ganância. Depois do fracasso de bilheteria com Blow Out, De Palma aposta na temática gangster na busca de retorno comercial (sem sucesso). Além disto o diretor desejava sair um pouco da temática dos seus outros filmes envolvendo traições, voyeurism e desvio sexual. E novamente De Palma vai buscar inspiração nos mestres, desta vez adaptando Scareface (1932) de Howard Hawks. O filme é longo demais, exagerado, e o mal predomina em todas as instâncias, mas mesmo assim funciona como entretenimento. Os desacertos do filme devem ser creditados ao aqui roteirista Oliver Stone e seus acessos de anticapitalismo e ódio por seu próprio país. O desvio da câmera na cena da serra elétrica é o mesmo que Hitchcock fez em Frenzy (1972). Primeiro papel relevante de Michelle Pfeiffer, então com 24 anos, e trilha sonora de Giorgio Moroder.


Body Double (1984): A obsessão de um jovem ator em espionar uma bela mulher que mora nas proximidades leva a uma série desconcertante de eventos com consequências drásticas. Frustrado com o fracasso de bilheteria de Scarface, De Palma volta a sua área de conforto recorrendo às ideias de Vertigo (1958) e Rear Window (1954) de Hitchcock em mais um psycho-sexual thriller. Porém, acusado de misoginia pela histeria feminista, o diretor apresenta uma patética personagem masculina principal. Apesar disto, ele entrega mais um filme B bem executado e cativante, mas que não vai bem nas bilheterias das salas de cinema.


The Untouchables (1987): Durante a Lei Seca em Chicago, o agente do Tesouro Eliot Ness decide deter o implacável gângster Al Capone e reúne uma pequena e incorruptível equipe para ajudá-lo. De Palma não podia gerar outro fracasso de público e foi buscar na famosa séria televisiva homônima (1959-62) a inspiração para este novo filme, abandonando sua temática habitual e seu antagonismo ideológico as instituições de justiça. O resultado é um filme altamente entretido, uma parábola da Justiça vencendo a Força.


Carlito’s Way (1993): Ex-presidiário porto-riquenho (interpretado por Al Pacino), recém-libertado da prisão, promete ficar longe das drogas e da violência, apesar da pressão ao seu redor, e buscar uma vida melhor longe de Nova York. Baseado no romance After Hours de Edwin Torres. Bem filmado e atuado, Carlito's Way não é apenas um ótimo filme policial, mas também uma dramática história de tentativa de redenção. Mas não precisavam pronunciar a palavra fuck 139 vezes.


Mission: Impossible (1996): Agente americano, sob falsa suspeita de deslealdade, deve descobrir e expor o verdadeiro espião sem a ajuda da sua organização. Inspirada na renomada série televisiva homônima de 1966-1973 (que teve um curto e desprezível retorno em 1988-1990), porém com alterações importantes como a defenestração da personagem Jim Phelps e o foco maior em um agente (Ethan Hunt interpretado por Tom Cruise) em detrimento da equipe. Apesar das mudanças o filme funciona como um bom thriller de espionagem com divertidos dispositivos tecnológicos e grandes cenários de ação, dando início a uma franquia de mais seis roteiros de qualidade desigual. Foi o maior sucesso comercial de De Palma.


Femme Fatale (2002): Mulher promíscua e perversa é ajudada pelo destino a fazer um ato de bondade que terá consequências imprevisíveis. De Palma faz uso de todos os truques cinematográficos neste thriller abstrato e satisfatório – um film noir com final feliz. Inexplicavelmente um desastre de crítica e público. Notar as cenas que insinuam o truque narrativo (e.g. água transbordando no aquário). Foi o último filme interessante do diretor.

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