top of page

Alfred Hitchcock (1899-1980)


"I don't understand why we have to experiment with film. I think everything should be done on paper. A musician has to do it, a composer. He puts a lot of dots down and beautiful music comes out. And I think that students should be taught to visualize. That's the one thing missing in all this. The one thing that the student has got to do is to learn that there is a rectangle up there - a white rectangle in a theatre – and it has to be filled." – Alfred Hitchcock (Directing the Film, 1976)


A maioria dos críticos de cinema, em seu costumeiro distanciamento do público e da realidade, acusa Hitchcoock de falta de seriedade ou interesse em temas sociais (i.e. fazer propaganda esquerdista em seus filmes), concedendo-lhe no máximo o título de “mestre do suspense”. Mas, como François Truffaut apontou (Hitchcoock/Truffaut, 1967), Hitchcoock é um dos maiores artesões do cinema, tendo influenciado incontáveis diretores com sua rara habilidade em visualmente narrar histórias explorando a psique do espectador.


Seus filmes também são uma antítese da lorota humanista de que o homem é bom e o sistema mau os estraga, como se os próprios sistemas não fossem funções da experiência humana – violamos os Mandamentos por nossa conta e risco, e devemos pagar o preço da culpa no final.

Segue lista dos mais proeminentes entre seus 53 filmes realizados, com destaque para Vertigo, Psycho, Rear Window, North by Northwest, The Birds e Marnie.

The 39 Steps (1935): Homem em Londres tenta ajudar um agente de contra-espionagem, mas quando o agente é morto e o homem é acusado, ele deve fugir para se salvar e impedir uma rede de espionagem que está tentando roubar informações ultrassecretas. Este é 28º filme de Hitchcoock e reúne todos os ingredientes que farão o sucesso do diretor: o inocente metido em problemas, as ações judiciais, pistas relevantes, pretextos sem importância, a loira aparentemente fria, as insinuações e piscadelas, câmera e edição impecáveis, equilíbrio entre momentos alegres e tensões constantes… um diretor em plena posse de seus meios.

The Lady Vanishes (1938): Enquanto viajava pela Europa continental, uma jovem rica percebe que uma senhora idosa parece ter desaparecido do trem. Um lento início até que subitamente se mergulha num mistério em ritmo alucinante. Um deleite.

Foreign Correspondent (1940): Às vésperas da Segunda Guerra Mundial, um jovem repórter americano tenta expor agentes inimigos em Londres. O único filme do diretor com mensagem política, um apelo para que os Estados Unidos entrassem na guerra.

Rebecca (1940): Mulher esforça-se para se ajustar ao seu novo papel como esposa de um aristocrata e não ser intimidada pela presença espectral de sua primeira esposa. Laurence Olivier e Joan Fontaine nos papéis principais não havia como dar errada esta adaptação do famoso romance de Daphne Du Maurier (1907-1989). Mas são outras duas personagens que roubam a cena: a governanta enlouquecida (Mrs. Danvers – Judith Anderson) e o patife (Jack Favell – George Sanders), verdadeiros protótipos para tais papéis.

Suspicion (1941): Jovem herdeira se casa com um cavalheiro encantador, mas logo começa a suspeitar que ele está planejando matá-la. Mesmo com um roteiro básico, desprovido de grandes exaltações, Hitchcock não só mantém o suspense como faz o espectador aprazer-se da dúvida (queremos que o marido seja um assassino ou não?). A cena com Cary Grant subindo a escada levando o copo de leite é a marca do filme: simples mas impactante.

Shadow of a Doubt (1943): Adolescente, muito feliz com a visita do seu tio favorito, lentamente começa a suspeitar que ele é na verdade um assassino procurado pelas autoridades. A natureza diabólica da personagem Charles Oakley é escancarada pela fumaça negra produzida pelo trem que o leva para Santa Rosa. Um dos filmes favoritos do diretor.

Spellbound (1945): Psiquiatra protege a identidade de um paciente com amnésia acusado de assassinato enquanto tenta recuperar sua memória. Talvez o primeiro filme a explorar a psicanálise em sua crescente popularidade ao redor do mundo após a IIGG. Mas não era para levar o tema muito a sério, o próprio Hitchcock definiu o filme como "just another manhunt wrapped up in pseudo-psychoanalysis." Destaque para a sequência de sonhos desenhada por Salvador Dali e a personagem coadjuvante do Dr. Alexander Brulov (Michael Chekhov).


Notorious (1946): Agentes americanos pedem à filha de um espião alemão condenado que reúna informações sobre uma rede de cientistas alemães na América do Sul. Não dá para perder Ingrid Bergman espionando nazistas no Rio de Janeiro do pós-guerra. Observar as sutilezas e insinuações sobre os arranjos sexuais que não deixam dúvidas no entendimento da narrativa enquanto cumprem fielmente os códigos morais de produção da Hollywood da época. A necessidade de explicitação hodierna apenas atesta nossa presente condição de putrefação moral.

Rope (1948): Dois homens tentam provar que cometeram o crime perfeito organizando um jantar depois de estrangularem seu ex-colega de classe até a morte. Dois sodomitas encarnam o horror nietzschiano.

Strangers on a train (1951): Psicopata tenta persuadir uma estrela do tênis a concordar com sua teoria de que dois estranhos podem escapar impunes de um assassinato, submetendo-se ao seu plano de matar a pessoa mais odiada do outro. Nunca fique de conversa fiada com estranhos.

Dial M for Murder (1954): Ex-astro do tênis organiza o assassinato de sua esposa adúltera. Aula de como filmar um roteiro baseado numa peça de teatro. Hitchcock já demonstra total domínio das cores (e.g. Grace Kelly veste branco no café da manhã com o marido, e, na sequência, vermelho com o amante). A Warner Bros. demandou o filme em 3D (daí as cenas com objetos entre as personagens e os espectadores), mas o filme funciona perfeitamente em 2D.


Rear Window (1954): Fotógrafo em uma cadeira de rodas espiona seus vizinhos da janela de seu apartamento no pátio de Greenwich Village e se convence de que um deles cometeu um assassinato, apesar do ceticismo de sua namorada. Roteiro brilhante adaptado de um conto de William Irish. Hitchcock faz os espectadores enxergarem através dos olhos do herói – um filme que trata da arte do cinema.

To Catch a Thief (1955): Ladrão de joias aposentado tenta provar sua inocência após ser suspeito de retornar à sua antiga ocupação. Um filme sem a perversidade que se observa na obra do diretor. Hitchcock fez o filme porque queria gozar um tempo no sul da França.

The Trouble with Harry (1955): Harry está morto e, embora ninguém se importe, todos se sentem responsáveis. Depois que o corpo de Harry é encontrado na floresta, vários moradores devem determinar não apenas como e por que ele foi morto, mas também o que fazer com o corpo. Hitchcock testa a reação do público a um filme sem grandes estrelas, e a atração dos americanos ao sutil humor negro inglês – o filme fez sucesso na Europa mas, inicialmente, foi mal nos EUA. Apenas para fãs de humor negro.


The Man Who Knew Too Much (1956): Médico americano e sua esposa, uma ex-cantora, testemunham um assassinato enquanto estavam de férias no Marrocos e são arrastados para uma complicada intriga internacional quando seu filho é sequestrado. Remake do mesmo roteiro realizado pelo diretor em 1934. A sequência do assassinato no Albert Hall vale o filme.

The Wrong Man (1956): Em 1953, um homem inocente chamado Christopher Emanuel “Manny” Balestrero é preso após ser confundido com um ladrão. Baseado em um caso real – usa nomes reais e foi filmado em locais onde os eventos ocorreram. Diverge da obra de Hitchcock, mas funciona como exemplo do risco de desequilíbrio entre o indivíduo e o Estado.

Vertigo (1958): Ex-detetive da polícia de São Francisco, lutando contra seus demônios pessoais, fica obcecado pela mulher que ele foi contratado para perseguir. As implausibilidades do roteiro desaparecem diante do mistério em clima onírico, da beleza dos cenários, do impacto da música, das atuações impecáveis, das inovações técnicas (e.g. a combinação de zoom e movimento de câmara para simular a vertigem do herói). Fala da mentira, da falta de identidade, da luxúria, e, principalmente de como a presença divina ao final imporá a verdade – um dos grandes filmes da história do cinema. Serve também para desfrutar a beleza da cidade de San Francisco antes de ser destruída pela ideologia revolucionária.

North by Northwest (1959): Publicitário de Nova York foge depois de ser confundido com um agente do governo por um grupo de espiões estrangeiros e se apaixona por uma mulher de cuja lealdade ele começa a duvidar. Hitchcock atinge neste filme o ápice de qualidade da sua fórmula favorita: um homem comum que inadvertidamente embarca em uma aventura acima de sua capacidade. O suspense, humor refinado e o inusitado das cenas de ação fazem crer que os filmes de James Bond se inspiraram aqui.

Psycho (1960): Secretária de Phoenix desvia US$ 40 mil do cliente de seu empregador, foge e se hospeda em um motel remoto administrado por um jovem sob o domínio de sua mãe. Clássico exemplo de como surpreender o público (inesperada morte da heroína no meio do filme), e de como Hitchcock apresenta facetas simpáticas do assassino e desagradável de suas vítimas, evitando personagens rasas.

The Birds (1963): Socialite de São Francisco persegue um conhecido advogado até uma pequena cidade do norte da Califórnia que lentamente se torna bizarra quando pássaros de todos os tipos começam a atacar as pessoas. Os ataques das aves, envoltos em mistério e terror, são o pano de fundo do processo de amadurecimento da fútil Melanie entre personagens complexas. Por que o pássaros atacam? O filme funciona justamente por não haver uma resposta. Mas alerta ao fato de que há muita complacência na sociedade, ignorante da fragilidade civilizacional e dos perigos que nos rondam.

Marnie (1964): Mark se casa com Marnie, embora ela seja uma ladra habitual e tenha sérios problemas psicológicos, e tenta ajudá-la a enfrentá-los e resolvê-los. Excelente apesar do mambo-jambo psicológico.

Frenzy (1972): Serial killer está estrangulando mulheres com uma gravata, e a polícia de Londres suspeita do homem errado. Aos 73 anos de idade, e 50 anos após a estreia de seu primeiro filme, Hitchcock apresenta seu canto do cisnei.

bottom of page