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Trabalhos de Amor Perdidos de William Shakespeare

Nascemos com pendores que vencer as mais vezes não podemos sem a Graça, o só bálsamo das dores. – Biron (Ato I – Cena I)


Personagens Principais Ferdinando – rei de Navarro Biron, Longaville e Dumaine – nobres da corte do rei Princesa da França Rosalina, Maria e Catarina – fidalgas da corte da princesa Boyet e Mercante – nobres da corte da princesa


Personagens Secundárias Costard – bobo da corte de Navarro Dom Adriano de Armando – espanhol fantástico Moth – page de Armando Sir Nataniel – cura Holofernes – mestre-escola Dull – oficial de justiça Jaqueneta – camponesa


Interpretação Trabalhos de Amor Perdidos é uma das primeiras comédias de Shakespeare. Sua estranheza e dificuldade para as modernas audiências se dá em virtude das alusões a episódios políticos da época, refletindo modismos aristocráticos, maneirismos literários, e a associação das personagens com figuras então conhecidas – contendo referências a círculos e piadas internas agora irrecuperáveis.


Mas este obstáculo anacrônico não impede o debate sobre os caminhos para alcançar o domínio sobre as paixões. O rei e seus nobres querem subjugar os pendores da natureza humana mediante um contrato assinado entre eles e proclamado no reino, como se o controle das pulsões viciosas fosse mero ato de vontade. Apenas Biron parece entender que o domínio sobre as paixões não será obtido apenas exercendo a vontade contra “o enorme exército dos desejos do mundo”.


Tal conquista não pode ser alcançado pelo esforço desamparado do homem, mas apenas pela intervenção prévia da graça de Deus. O acordo firmado no reino de Navarro é fruto de vaidade evolutiva, da exaltação desarmônica dos desejos elevadas a ideia de perfeição – não tem como frutificar. O triunfo sobre os impulsos abissais não será conquistado com sacrifício autoimposto, mas apenas como ato praticado com naturalidade de quem entendeu ser este o caminho correto, e tal entendimento é inviável sem a iluminação divina.


Nossos desejos ilegítimos precisam ser sublimados, transformados em desejos legítimos, naqueles sancionados por Deus. E este processo alquímico é labuta humana do berço ao túmulo.


Ao final da peça os “trabalhos de amor” não foram perdidos mas começam a passar por um processo de sublimação. As convenções de amor foram substituídas pelos ciclos maiores da vida, do tempo e das estações.



 


Notas


  • William Shakespeare (1564-1616) em Stratford-upon-Avon, Inglaterra. Era católico num mundo protestante.

  • Shakespeare escrevia, dirigia, produzia e atuava em suas peças. Deixou-nos a maior obra teatral do mundo moderno.

  • Apesar de serem denominadas como Tragédias, as peças de Shakespeare são Dramas. Pois o que caracteriza a tragédia é a inexistência da malícia humana.

  • Bons livros para entender Shakespeare: Sobre Shakespeare de Northrop Frye e A Arte Sagrada de Shakespeare de Martin Lings.

  • A comédia Trabalhos de Amor Perdidos, publicada em 1598, foi a primeira peça que trouxe no frontispício o nome de Shakespeare.

  • Não se conhecem as fontes literárias dessa peça, sendo acordes os críticos em fazê-la derivar exclusivamente da imaginação do poeta.

  • A ação de passa em Navarro, reino situado na fronteira entre Espanha e França.

  • A historiadora France A. Yates (1899-1981) especula em Giordano Bruno e a Tradição Hermética que a personagem de Biron seria um eco da visita de Bruno à Inglaterra.

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