O documentário apresenta aspectos interessantes, e já conhecidos, como o alerta com relação as técnicas visando a geração do vício em acessar as redes, a espionagem e venda de dados dos usuários, e a manipulação de informação e sentimentos destes. Importante também o testemunho de tech experts afirmando coibirem seus filhos no uso das redes sociais (“Quem usa, cuida.”, já dizia o ditado).
Mas o diabo esconde seus truques entre verdades (a meia-verdade é instrumento do demônio), e o documentário falha ao usar a surrada desculpa do “capitalismo” como vilão da história, e em elencar as fake news, a crescente divisão ideológica e os movimentos de revolta popular contra o avanço do Estado sobre as liberdades do indivíduo (que tentam aviltar chamando de “populismo”) como produtos nefastos da ganância das Big Tech. E é aí que entendemos como esta produção da Netflix também nos quer manipular. Afinal, a provedora de serviços de stream não deixa de ser uma parente menor daquelas Big Tech, além de, como parte da indústria de entretenimento, já ter dados inúmeros exemplos de fomentar a reengenharia social (sendo o filme Cuties um dos exemplos mais recentes).
As redes sociais, assim como qualquer outra tecnologia aplicada, são meros instrumentos, não podendo ser intrinsecamente boas ou más. E não tem nada de errado em quem oferece um serviço ou produto querer lucrar com o mesmo, pois é o lucro que propicia a prosperidade da sociedade como um todo.
E ainda basta lembrar a seguinte frase de Balzac de Ilusões Perdidas para entender que os meios de comunicação, qualquer que seja ele, sempre tiveram o poder de manipular a informação visando mudar o comportamento social: “O jornalismo é um inferno, um abismo de iniquidades, mentiras, traições, que não se pode atravessar e de onde não se pode sair puro senão protegido como Dante pelos divinos louros de Virgílio.”
Somos zoon politikos (animais políticos, que vivem na pólis), ou seja, somos seres sociais, e tendemos naturalmente ao convívio social. Daí não ser surpresa que fizéssemos extensivo uso das novas formas de contato social, como ocorrerá antes com a adoção do correio ou do telefone. Tecnologia não é o problema. O mau uso das novas ferramentas de contato social apenas reflete o estado patológico de seus atuais usuários e as más intenções políticas daqueles que querem reger o mundo.
A enfermidade dos nossos tempos, que tão facilmente torna o indivíduo manipulável e frágil como exposto no documentário, começa com o afastamento do Logos divino. Combatem a veneração a Deus, e este afastamento da ontológica hierarquia, faz o ser humano venerar qualquer bobagem terrena (inocente ou nefasta). Adiciona-se o ataque à instituição familiar, ao senso de patriotismo e as tradições, e temos um ser totalmente atomizado e fragilizado, pronto a ser apanhado por qualquer ideologia.
Os jovens são particularmente fragilizados por anos de engodo manipulativo através (a) da falsa idolatria (“O futuro pertence aos jovens.”; “Vocês são a esperança de um mundo melhor.”; ou ainda o velho rousseauniano “Não deixem a sociedade envenenar sua pureza.”), e (b) da perda da visão trágica da vida com o famigerado “meu filho, você pode ser o que você quiser nesta vida…”. Não é surpresa a reportada explosão de casos de depressão e suicídio junto aos jovens. A tecnologia apenas acelerou a adoção e massificação de comportamentos nocivos já em prática. E nem é preciso algoritmos (absolutamente supervalorizados) para direcionar suas debilitadas vítimas, pois elas mesmas espontaneamente buscam sequiosas qualquer informação ou dado que reforce suas crenças, desculpe seus pecados e massageie seus egos.
Some-se a isto anos de relativismo provocado e fomentado (“Não existe verdade.”; “Cada um tem a sua verdade.” ou “O que é verdade para um, pode não ser para outro.”) e temos o presente cenário de fáceis presas a qualquer manipulação através de falsas informações.
A expressão fake news só foi cunhada para atacar a porção nas redes sociais que desnudaram as mentiras propaladas na mídia tradicional, nas escolas e na indústria de entretenimento. Os verdadeiros promotores de notícias falsas são os veículos de notícias e os professores/intelectuais (quando não sacerdotes, e.g. a criminosa CNBB), pois estes deveriam ser os defensores da verdade (e são até pagos para isto). As falsidades que populam nas redes não passam de fofocas (muitas vezes iniciadas pela própria mídia tradicional), que deveriam ser facilmente descartadas não fosse a doença anímica/social apontada acima. O discurso de intervenção e controle estatal apregoado no documentário não visa realmente coibir os abusos das Big Tech, mas são uma cortina de fumaça para instituir instrumentos legais visando calar os dissidentes da narrativa que desejam impor.
Mas quem está por trás de tudo isto? Quem fomenta o ataque ao Cristianismo e à família? Quem inibe a real educação dos jovens, coibindo seu entendimento da realidade e da ordem divina? Quem quer calar a tímida reação do indivíduo à opressão estatal, e manipulação da mídia, escolas e indústria do entretenimento? Quem provoca a disputa ideológica fratricida? Não. Não são os capitalistas sedentos de lucro. Mas sim aqueles (capitalistas e não-capitalistas) sequiosos de poder.
Este é o verdadeiro dilema, a real guerra social que vivemos, a disputa entre os que querem-se donos do mundo buscando dominar e coletivizar o povo formado por indivíduos cada vez mais atomizados e enfraquecidos. E o futuro é fácil de prever, ele será macabro.
Filme Nota 2 (escala de 1 a 5)
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