Joel Coen (1954- ) & Ethan Coen (1957- )
- Cultura Animi

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“I mean, Joel talks to the actors more than I do and I probably do production stuff a little more than he does.” – Ethan Coen
Os irmãos Coen escrevem, produzem e dirigem seus filmes. Eles são excelentes técnicos e desenvolveram um estilo visual particular e inovador, seus roteiros apresentam diálogos inteligentes e sutilmente humorísticos, e revelam personagens memoráveis.
Porém ele nem sempre conseguem imprimir estas qualidades em seus trabalhos, apresentando uma obra de altos e baixos, sendo seus melhores filmes inspirados no cinema noir.
Seguem comentários sobre suas realizações mais interessantes:
Blood Simple (1984): O dono de um bar decadente de uma pequena cidade do Texas descobre que um de seus funcionários está tendo um caso com sua esposa. Uma cadeia caótica de mal-entendidos ocorre depois que ele elabora um plano para matá-los. Entretido roteiro onde cada detalhe faz sentido e cada escolha individual parece lógica, mas estas escolhas e detalhes formam um labirinto desconcertante num clima de pesadelo. Filme de estreia da colaboração dos irmãos Coen emplacando um dos melhores filmes noirs modernos (com (muitas) pitadas de humor negro) e um exuberante estilo visual com grande domínio de luz, enquadramento e tensão visual.
Fargo (1996): Vendedor de carros em apuros financeiros forja o sequestro da própria esposa para pedir resgate ao rico sogro, mas o resultado é caótico. Mais de uma década depois de Blood Simple os irmãos Coen voltam a acertar a mão nesta memorável comédia de humor negro e thriller policial que em muitos aspectos retoma a temática daquele filme de estreia – o espírito de comédia contrabalança a violência do filme e supera-a. O humor é destacado através de detalhes cotidianos e o absurdo das situações, mantendo um tom quase documental, o que torna a violência mais impactante e o desfecho mais imprevisível. Uma história clássica de situações inusitadas, onde as personagens são tão memoráveis quanto os acontecimentos que se desenrolam, com destaque para a chefe de polícia interpretada por Frances McDormand e o patético marido conspirador interpretado por William H. Macy. O maior entretenimento está em seguir a lenta, mas segura, revelação da verdade e o fracasso do mal.
The Man Who Wasn't There (2001): Um lacônico barbeiro (interpretado por Billy Bob Thornton) chantageia o chefe e amante de sua esposa por dinheiro para investir em uma lavanderia, mas seu plano fracassa. Aqui os irmãos homenageiam o cinema noir clássico, gênero que os formou estética e narrativamente desde o início da carreira. Bem ao estilo do gênero noir a narrativa explora o azar e as reviravoltas irônicas do destino, e adota alguns de seus principais clichês como a fotografia preto-e-branco e voice-over confessional. O filme poderia ser mais curto, mas ainda funciona bem e tem na inusitada personagem do barbeiro um exemplo do homem despido de qualquer hierarquia de valor e fé.
No Country for Old Men (2007): Homem depara-se com o dinheiro abandonado durante uma negociata de drogas que deu errado. Agora ele é perseguido por um impiedoso assassino (interpretado por Javier Bardem) e um velho xerife (interpretado por Tommy Lee Jones) que o quer encontrar antes que seja tarde demais. Baseado no romance homônimo de Cormac McCarthy. Excelente thriller que explora o que parece ser um confronto bastante desigual entre o mal niilista representado pelo assassino e o xerife do condado, exausto e em desvantagem, sugerindo que a tradição sem uma fé viva é impotente diante do demoníaco – o xerife é um homem bom que acredita em Deus, mas nunca tentou realmente conhecê-Lo. Ele não viveu buscando Deus, mas esperando que Deus viesse a ele (“I always figured when I got older God would sorta come into my life somehow.”), e desiste de lutar por não acreditar que Deus possa evitar que sua alma se perca diante do Mal (“A man would have to put his soul at hazard”, ele diz no início do filme). O verdadeiro herói do filme é Ellis, o velho xerife na cadeira de rodas, que entende que nossa missão é incansavelmente lutar contra o Mal, deixando o resultado final nas mãos de Deus. Enquanto a personagem de Lee Jones peca por vaidade em desistir de lutar por sentir que não pode vencer o Mal – “What you got ain’'t nothin' new. This country’'s hard on people. You can’'t stop what’'s coming. It ain’'t all waiting on you. That’'s vanity.” lhe diz Ellis. É o melhor filme dos Coen.
A Serious Man (2009): Professor de física do meio-oeste americano vê sua vida desmoronar devido a vários incidentes repentinos, e busca, sem sucesso, sentido e respostas em meio às turbulências. Comédia negra aparentemente inspirada no livro de Jó. Denso e um tanto abstrato demais, mas ainda uma interessante reflexão sobre a trágica condição humana e a arrogância do homem em querer abarcar os desígnios de Deus. Observa-se a tendência do homem moderno em vitimizar-se diante das vicissitudes, sempre buscando culpados externos, e fabulando pseudofilosofias como o existencialismo que o afastam ainda mais da realidade.
True Grit (2010): Uma adolescente teimosa pede a ajuda de um rude xerife para rastrear o assassino de seu pai. Re-make do filme homônimo de 1969 dirigido por Henry Hathaway e protagonizado por John Wayne, que por sua vez baseia-se no romance homônimo de Charles Portis publicado no ano anterior. A versão dos irmãos Coen é mais fiel ao livro: mais focada na personagem da adolescente, com diálogos mais áridos e apropriados ao período, e mantendo o clima sombrio do romance, principalmente no final. A narrativa é uma reflexão sobre a necessidade da verdadeira coragem (true grit) para alcançar a justiça, mesmo que esta deixe duras sequelas, pois a impunidade traria um custo muito maior, individual e coletivamente.


