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Jean-Pierre Melville (1917-1973)


História de gângster é um veículo muito adequado para a forma de tragédia moderna chamada filme noir, oriunda dos romances policiais americanos. É um gênero flexível. Você pode colocar o que quiser nele, bom ou ruim. E é um veículo bastante fácil de usar para contar histórias que importam para você sobre liberdade individual, amizade ou melhor, relacionamentos humanos, porque nem sempre são amigáveis. Ou traição, uma das forças motrizes dos romances policiais americanos. – Jean-Pierre Melville


A esmagadora maioria dos filmes produzidos atualmente decaíram na puerilidade das fantasias das HQs, na mera exploração de efeitos especiais, no ritmo alucinante de cenas de ação sem tempo para reflexão, na experimentação da forma sem preocupação com o sentido, na propaganda ideológica, e/ou na perversão da reengenharia social forçada e anti-humana. Menos mal que como seres humanos temos uma herança cultural a explorar, e o cinema não é exceção. E hoje também temos através da internet os meios de explorar este patrimônio quase que sem limites geográfico e financeiro.


Neste acervo podemos encontrar o trabalho de Jean-Pierre Melville. Ele quebrou regras na temática, direção e produção de seus filmes, sendo considerado um dos pais da Nouvelle Vague. Seus filmes policiais, via de regra sobre assaltos, são marcados pelas longas sequências sem fala, epígrafes algo enigmáticas, o lento desenrolar da narrativa (ação é inimiga do suspense, ação não aumenta a tensão mas a alivia), cenas estilizadas, atuações desapaixonadas, o estoicismo diante do fracasso… tudo envolto num clima noir adaptado do cinema americano (The Asphalt Jungle (1950) de John Huston era seu filme favorito).


Segue lista dos seus principais títulos, com destaque para Le Samouraï e Le Cercle Rouge:


Bob le Flambeur (1956): Depois de perder muito, um jogador idoso decide montar uma equipe para roubar um cassino. Vários diretores renomados já se declararam fã deste filme, entre eles Sanley Kubrick, Quentin Tarantino, Jean-Luc Godard, Jim Jarmusch, Mike Hodges e Paul Thomas Anderson.

Le Doulos (1962): Depois de trair outros criminosos, um ladrão prepara-se para um grande assalto com um amigo que pode ser tão indigno de confiança quanto ele. Grande fotografia monocromática de intenso contraste. As personagens se identificam mais pela ação e figurino que por suas palavras.

Le deuxième Souffle (1966): Gangster escapa da prisão e rapidamente faz planos para continuar com seus crimes em outro lugar, mas um determinado inspetor da polícia está se aproximando. Um filme violento registrado com um pausado distanciamento.


Le Samouraï (1967): Depois que o assassino profissional Jef Costello é visto por testemunhas, seus esforços para conseguir um álibi o deixam cada vez mais encurralado. Hipnótico e inesquecível.

Le Cercle Rouge (1970): Depois de sair da prisão, mestre ladrão cruza o caminho de um notório fugitivo e de um ex-policial alcoólatra. O trio começa a planejar um elaborado assalto. Sombrio e elegante.

Un Flic (1972): Depois de um primeiro assalto quase desastroso, um grupo de ladrões planeja um segundo assalto ainda mais elaborado e arriscado. Décimo terceiro e último filme de Melville.

Também vale a pena assistir L’armée des Ombes (1969) sobre a resistência francesa durante a ocupação nazista na Segunda Grande Guerra. Melville foi um membro da resistência e apresenta aqui o estado de espírito daqueles combatentes entre a esperança e o fatalismo.

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