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Ernst Lubitsch (1892-1947)


"I let the audience use their imaginations. Can I help it if they misconstrue my suggestions?"– Ernst Lubitsch


O alemão Ernst Lubitsch trouxe os costumes europeus e o hedonismo para a América puritana. Estabeleceu um estilo próprio de elegância, sagacidade, incisividade e cinismo, perfeitamente adequado aos diversos temas que trabalhou, que passaram a ser chamados de “Lubitsch Touch”. Um toque cínico e encantador que criou um mundo aristocrático do passado e depois gracejou dele. Lubitsch poderia dizer muito por implicação e insinuações.


A implementação do Código Hay em 1934 eliminou os excessos de liberalidade de seus primeiros filmes em Hollywood, impulsionando ainda mais a qualidade de seus filmes subsequentes.


Seguem alguns de seus melhores filmes, com destaque para The Shop Around the Corner:


Trouble in Paradise (1932): Um cavalheiro ladrão e uma batedora de carteiras unem forças para enganar a bela dona de uma empresa de perfumes, mas envolvimentos românticos e ciúmes pertubam o esquema. E plena Grande Depressão, Lubitsch retrata, com o mais leve toque satírico, uma sociedade alimentada pelo luxo e pela ganância. O filme espirituosamente desdenha de todos os preceitos morais: seus personagens fazem amor sem qualquer intenção de matrimônio, não são expressos sentimentos edificantes (salvo em situações de flagrante hipocrisia), ninguém é redimido pelo amor ou pelo sofrimento (nem quer ser), e o crime não só compensa generosamente, como é apresentado como uma atividade sexy e elegante – e em qualquer caso não prejudica ninguém, a não ser os ricos, que são tolos ou bandidos. Nunca a imoralidade foi explorada no cinema com tanto humor e elegância.


Design for Living (1933): Uma mulher não consegue decidir entre dois homens que a amam, e o trio concorda em tentar viver juntos em um amigável relacionamento platônico. Filme ousado que satiriza os costumes sexuais e acumula ironia sobre ironia. Ernst Lubitsch provou há quase um século que é possível pegar uma situação complexa e infundi-la com suficiente pungência e erotismo para entregar um filme adulto, e não apenas um filme com conteúdo “adulto”, repleto de palavrões e nudez, como atualmente. Porém é notório o elevado nível de imoralidade exposto no filme, ajudando a entender a implementação do Código Hay no ano seguinte. Não por acaso a necessidade de aderir ao código viria a melhorar a qualidade dos filmes subsequentes de Lubitsch.


Angel (1937): Esposa tira férias separada do marido e se apaixona por outro homem. Comédia envolvendo um marido distraído, uma esposa negligenciada e um pretendente ardoroso. Um mundo elegante e sutil de códigos morais que positivamente reprime explosões emocionais. Divertido e envolvente apesar de um tanto lento no desenrolar da trama. Os efeitos positivos do Código Hays já transpareciam nesta trabalho de Lubitsch.


Ninotchka (1939): Severa funcionária soviética enviada a Paris para supervisionar a venda de joias apreendidas de nobres russos sente-se atraída por um homem que representa tudo o que ela deveria desprezar. Divertidíssima sátira sobre o comunismo, com uma narrativa letrada e conscientemente repleta de piadas astutas sobre a falsidade dos Planos Quinquenais, os assassinatos políticos, as fazendas coletivas, o jargão comunista e a tagarelice pseudocientífica. Lubitsch extraí o máximo do roteiro (com dedo de Billy Wilder) e da atriz Greta Garbo em seu penúltimo filme e primeira comédia.


The Shop Around the Corner (1940): Dois funcionários de uma loja de presentes mal se suportam, sem perceber que estão se apaixonando pelo correio como amigos por correspondência anônimos. Perto da perfeição: uma das comédias românticas mais lindamente atuadas e ritmadas já feitas. Assistimos a redenção de três almas humanas por caminhos ocultos naquela loja da esquina. Não por menos a narrativa se desenvolve no Natal, pois foi também por caminhos recônditos que Deus enviou seu Filho para habitar entre nós, e ele veio, não em glória e vestido com a púrpura de um rei, mas “silently, how silently”, como diz a canção. Lembremo-nos disso de vez em quando, quando estivermos lidando com um desses mistérios humanos.


To Be or Not to Be (1942): Durante a ocupação alemã da Polônia, uma trupe de teatro envolve-se nos esforços de um soldado polaco em neutralizar um espião alemão. Em plena II GG, Lubitsch dirige esta comédia farsesca arrancando risadas de temas graves como campos de concentração enquanto caustica os nazistas. A sátira também se estende ao mundo artístico, divertindo-se com a vaidade dos atores e suas vidas licenciosas.


Heaven Can Wait (1943): Um velho dissoluto chega ao Inferno para rever sua vida com Satanás, que decidirá sobre sua elegibilidade para entrar no Submundo. Uma comédia de costumes, com toques de sátira, no mais elegante estilo Lubitsch. Apesar da abordagem audaciosa para a época, o liberalismo da personagem principal não escapa do purgatório. Único filme do diretor concluído em Technicolor.

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