O que tirar desta história? Num primeiro instante o filme poderia ser visto como uma apologia ao materialismo. O mundo seria injusto se nos apegarmos aos valores morais vigentes e só a conquista dos valores mundanos trariam a felicidade. Afinal as personagens fúteis e egoístas, vividas por Martin Landau e pelo cunhado que buscam a felicidade terrena a qualquer preço, parecem alcançar tudo o que querem. Ao contrário, aquelas com um maior horizonte de percepção do mundo, as personagens de Woody Allen e do rabino, apresentariam perdas importantes: o primeiro no fracasso profissional e amoroso, e o segundo com a perda da visão. Até o discurso de amor do professor é ridicularizado com o suicídio deste.
Será que o filme quer nos mostrar que a visão de transcendência do mundo terreno é fútil? Será que Woody Allen buscava justificar para si o absurdo romance com sua enteada assumido poucos anos após o filme? Difícil saber o que se passava na cabeça do autor e responder esta questão. Mas para mim a chave está no personagem do rabino. Por mais que Woody Allen pareça dizer que a fé do rabino é cega e, portanto, irrelevante, ele apresenta-se como o indivíduo mais coerente, equilibrado e respeitável da trama. Apesar do seu drama pessoal na cegueira, ele nunca demonstra revolta com o destino, mantém sua proposta de vida e encontra grande alegria nos aspectos positivos como o casamento de sua filha. Desta forma a figura do rabino demonstra toda a hipocrisia do personagem de Woody Allen. Um intelectual presunçoso ao acreditar que sua visão mais ampla do mundo deveria dar-lhe algum privilégio, seja no reconhecimento profissional, seja na conquista da felicidade amoroso. Seu rancor contra o cunhado seria a tradução de um rancor contra Deus, já que ele não entende como aquele consegue todo o que ele almeja. Vendo nisso uma injustiça, ele não entende que ele busca o que o cunhado tem, no íntimo compartindo com ele os mesmo valores similares na sua inferioridade. O rabino indiretamente ainda nos lembra que não podemos pecar na soberba de querer conhecer os desígnios de Deus, e que a real felicidade não é deste mundo.
Outro aspecto, secundário ao acima mas que parece complementar, seria a importância nas relações afetivas entre o homem e a mulher, de certa forma refletindo em parte o pensamento do professor da trama. Todos estão em busca de alguém, sem o qual não conseguem se completar e serem felizes. Isso refletiria um primarismo das personagens por verem na potencial cara-metade a fórmula da felicidade. Aqui vale a pena lembrar a carta que Tolkien escreveu para o seu filho que estava com casamento marcado, onde ele relatava o mal que os românticos haviam trazido ao mundo por fazer-nos acreditar que a felicidade estaria em encontrar o seu grande amor, quando na verdade (segundo Tolkien) a cara-metade seria uma companheira de naufrágio, ambos ajudando-se mutuamente na travessia da vida terrena. Esta falta de compreensão da verdadeira natureza das relações afetivas homem-mulher também revelaria a restrição dos personagens ao mundano, a exceção do rabino.
Filme Nota 5 (escala de 1 a 5)