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Cimbelino de William Shakespeare

Personagens Principais Cimbelino – rei da Bretanha Imogênia – filha de Cimbelino, do primeiro matrimônio Póstumo Leonato – gentil-homem, marido de Imogênia Pisânio – criado de Póstumo


Personagens Secundárias Rainha – esposa de Cimbelino, segundo matrimônio Cloten – filho da Rainha e do primeiro marido dela Belário – nobre banido disfarçado com o nome de Morgan Guidério e Arvirago – filhos de Cimbelino disfarçados como Polidoro e Cadval Iachimo – italiano amigo de Filário, este amigo de Póstumo

“ …perdido já se encontrava tudo, se não fosse lutar por nós o céu. – Póstumo referindo-se a intervenção de Guidério e Arvirago (Ato V – Cena III)

Interpretação Cimbelino representa a condição passiva da alma em seu estado de degradação – o estado de corrupção é indicado pelo segundo casamento com a “wicked queen”, e a perda da imortalidade (desaparecimento de seus dois filhos) é a Queda (separação da alma e Espírito).


Imogênia, complementando Cimbelino, representa o aspecto ativo da mesma alma, a sua consciência e inteligência – personifica a melhor natureza do homem decaído, lutando para libertar-se.


Os dois filhos do rei (Guidério e Arvirago) simbolizam as naturezas celeste e terrena (Paraíso) do homem primordial – o Céu e a Terra (Imogênia diz “ganhei dois mundos” – Ato V Cena V). O simbolismo espiritual dos irmãos é compartido comPóstumo Leonato (filhote de leão), sendo o leão o animal do Sol – que é o grande símbolo do Espírito. A identificação simbólica de Póstumos com os dois filhos de Cimbelino é confirmada pela alegria em que estes o aceitam como irmã ao final.


O casamento de Imogênia com Póstumo (Espírito) é uma tentativa de liberdade e recuperação anímica, mas as potências das trevas (Rainha e Cloten) seguiam maquinando para ampliar seu domínio sobre a alma (Cimbelino e Imogênia) e o casamento não se consuma com Póstumo banido do reino – reiterando a Queda.


A fuga de Imogênia da corte e sua jornada até Milford Haven para consumar seu casamento é a imagem do “caminho reto que leva à vida” (Provérbios 11:19), no qual ela atravessará a “porta estreita da morte” (Mateus 7:13).


Os esforços espirituais de Imogênia forçam as potências diabólicas a frouxar seu domínio sobre Cimbelino (parte decaída da alma): Cloten persegue Imogênia e, ao trespassar as cercanias do Paraíso (gruta onde vivem Guidério e Arvirago), é morto pelo Espírito; e a Rainha morre com o retorno do Espírito (Guidério e Arvirago)ao palácio.


No final, a completa reversão da situação é indicada pela lição que Cimbelino recebe de Póstumo, quando este perdoa Iachimo: “Há perdão para todos.”, diz Cimbelino.


A restauração do equilíbrio anímico com a transição da Terra ao Céu é refletido na recuperação daquilo que parecia irreparavelmente perdido (os dois filhos, Imogênia e Póstumo – todos desaparecidos e dados como mortos), realizando toda a plenitude do amor conjugal, filial e fraternal. Nenhuma outra peça de Shakespeare dá expressão a perene verdade que Cristo revelou a Juliana de Norwich (1342-1416): “Tudo estará bem […] todas as formas das coisas haverão de estar bem.”


 

Notas

  • William Shakespeare (1564-1616) em Stratford-upon-Avon, Inglaterra. Era católico num mundo protestante.

  • Shakespeare escrevia, dirigia, produzia e atuava em suas peças. Deixou-nos a maior obra teatral do mundo moderno.

  • Apesar de serem denominadas como Tragédias, as peças de Shakespeare são Dramas. Pois o que caracteriza a tragédia é a inexistência da malícia humana.

  • Bons livros para entender Shakespeare: Sobre Shakespeare de Northrop Frye e A Arte Sagrada de Shakespeare de Martin Lings.

  • Cimbelino é publicada pela primeira vez no Fólio de 1623 (deve ter sido escrita por volta de 1610). Apesar do final feliz a peça foi classificada como tragédia – merece o nome de romance ao lado de outras produções que caracterizam a última fase literária do autor.

  • Os elementos pseudo-históricos de Cimbelino são tirados da Crônica de Holinshed, onde encontra-se a lenda do rei bretão Cunobelinos. A história de Imogênia e Póstumo é tirada da nona novela do segundo livro do Decameron de Boccacio. Também é do Decameron a história de Belário e o rapto dos filhos do rei.

  • Outra possibilidade interpretativa apresenta Póstumo com a alma e Imogênia como a princesa representado o Espírito. O pecado do orgulho espiritual, sua vanglória pública de Imogênia, provoca a descida de Póstumo ao Inferno. O arrependimento instigado com a falsa notícia da morte da princesa inicia-o no Purgatório, e ao expiar seus pecados, entregando-se a morte, reconcilia-se com o Espírito.

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