Cínico americano expatriado (interpretado por Humphrey Bogart), dono de um café em Casablanca, precisa decidir se deve ou não ajudar sua ex-amante e seu marido fugitivo a escaparem dos nazistas.
Tecnicamente bem executado pelo veterano diretor Michael Curtiz, com uma narrativa envolvente, repleto de personagens inesquecíveis e com marcantes atuações cênicas, Casablanca é uma história sobre sacrifício, amor, integridade e patriotismo. Mais que isto, Casablanca, com suas coloridas personagens, representa o mundo, e a narrativa coloca em jogo a índole deste mundo sintetizada na alma da personagem de Bogart (Rick).
Rick deve libertar-se tanto o passado idílico daqueles dias em Paris, quando acreditava que ele e Ilsa (interpretada por Ingrid Bergman) eram o mundo inteiro, quanto de seu próprio Café Americano, onde, contra suas melhores inclinações, interpreta o homem que não acredita em nada, não espera nada e não ama ninguém nem nada. E o encargo humano não é viver no futuro, que não existe, e que é muitas vezes o mais abominável dos falsos deuses do homem moderno, mas viver agora, no agora real, que é o limiar da eternidade. Pois é neste presente infinito que Rick salvará sua alma, com gratidão pelo passado e fé na evidência da transcendência.
Além destas qualidades, o filme, lançado em plena II GG, também teve o timing a seu favor. Daí a tremenda força da cena em que La Marseillaise é cantada sobre a canção alemã Die Wacht am Rhein, onde muitos dos figurantes tinham lágrimas reais nos olhos, já que um grande número deles eram verdadeiros refugiados da perseguição nazista na Europa e foram dominados pelas emoções que a cena despertou. Esta cena foi inspirada em The Grand Illusion (1937), de Jean Renoir, em que soldados franceses em um campo de prisioneiros de guerra alemão cantam a canção como um semelhante gesto de desafio.
Filme Nota 5 (escala de 1 a 5)