Personagens Principais Perseu – filho de Zeus e Dánae Andrômeda – filha de Cefeu, rei da Etiópia Medusa, Euríale e Esteno – as monstruosas Górgones
Personagens Secundárias Dánae – filha de Acrísio, mãe de Perseu Acrísio – rei de Argos, pai de Dánae Dictis – encontra e acolhe Dánae e Perseu Polidectes – irmão de Dictis, rei de Serifo Énio, Pefredo e Dino – as monstruosas Greias, filhas de Fórcis Cefeu e Cassipeia – rei e rainha da Etiópia, pais de Andrômeda Fineu – irmão de Cafeu e prometido de Andrômeda
Interpretação Perseu é filho da terra gerado pelo espírito. Zeus fecundou Dánae com uma chuva de ouro, indicando a sublimidade da criança que nasceria (herói-vencedor). Esta imagem, a mulher terrestre fecundada pelo espírito-chuva, assemelha-se àquela do mito cristão para representar o nascimento do herói-vencedor.
A morte vaticinada pelo oráculo representa a morte do pai espírito negativo representado pelo ancestral (avô) Acrísio. Este é efetivamente morto pelo disco arremessado por Perseu – disco é símbolo solar/sublime.
O grande desafio de Perseu é vencer a vaidade culposa (a culpa da exaltação desarmônica dos desejos ligada a ideia de perfeição – vaidade) representada por Medusa. O ofuscamento da vaidade só pode ser vencido pelo autoconhecimento (gnothi sauton – conheça a ti mesmo). Mas o olhar para si mesmo pode ser petrificante, pois é com terror e desespero que a alma vaidosa se vê nos lampejos de lucidez. Para isso Perseu recebeu de Atena o escudo refletor (espelho da verdade – amor à verdade) com o qual o homem se vê como realmente é, e não como gosta de imaginar ser.
Do sangue de Medusa nasce Crisaor (espada de ouro), símbolo da espiritualização, e Pégaso (cavalo alado das musas) símbolo da sublimação.
Mas uma vitória pode ser apenas uma ascensão passageira, pois pode reascender a vaidade. A luta em nossa alma é batalha infatigável de toda uma vida. Por isso Perseu carrega a cabeça de Medusa – ele é capaz de constantemente suportar a visão de si mesmo (gnothi sauton). A grande vitória de Perseu foi ter carregado a cabeça de Medusa. Perseu a mostra aos outros homens como apelo para que sigam seu exemplo e vençam a sedução hedionda que todos carregam consigo.
Com esta faculade adquirida Perseu é capaz da união sublimada com Andrômeda (símbolo da vaidade feminina – achar-se mais bela que as Nereides – amarrada a um rochedo (matéria) para ser devorada por um monstro marinho (subconsciente)).
Notas
Os mitos gregos são bem descritos na Biblioteca de Apolodoro de Atenas (morreu depois de 120 a.C.). Porém há indicações de que este livro tenha sido escrito entre os séculos I e II d.C..
Todo homem possui no plano mítico dois “pais”: a sublimidade (aspecto positivo – Deus-Pai – elevação) e a perversão (aspecto negativo – Adão – queda – exaltação aos desejos (maça) no lugar do apelo do espírito).
Górgones são três irmãs: Medusa, Euríale e Esteno. Monstros que simbolizam o inimigo interior através das forças pervertidas das três pulsações (social, sexual, espiritual). Medusa, a líder, representa a perversão da pulsão espiritual, a estagnação vaidosa – vaidade culposa (vaidade seduz e a culpa petrifica). Escapar da vaidade culposa (Medusa) representa também escapar das perversão social e sexual (Euríale e Estano).
Zeus (verdade suprema) e Hera (sublimidade perfeita) são pais de Atena (sabedoria) e Apolo (harmonia).
Pégaso representa a arte, a elevação através da beleza (oposto a fealdade de Medusa) – ao bater com o casco na terra do monte Hélicon faz jorrar a fonte da inspiração.
As três manifestações da elevação sublime são: a verdade, a beleza e a bondade. Verdade e bondade ativa são as melhores ferramentas de combate à perversão dos desejos. A beleza constitui o sentido da vida, a essência vista através do tumulto das paixões – arte como espelho da vida que mostra aos homens as forças e fraquezas da alma (as consequências nefastas dos desejos ilegítimos) com objetivo de promover a catarse. A missão da arte é promover a coragem moral do homem.
Medusa devora Pégaso – impede a imaginação criativa de alçar voo. Com sua morte renasce a imagem verdadeira da vida, Pégaso é libertado.
Apolo e as musas no monte Hélicon – Claude Lorrain (1600-1682):