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Alain Resnais (1922–2014)


"I never had any special appetite for filmmaking, but you have to make a living and it is miraculous to earn a living working in film." – Alain Resnais


Formalista impecável, Resnais é provavelmente o diretor mais importante a emergir das fileiras da Nouvelle Vague francesa. Embora tenha contado com a colaboração de roteiristas em todos os seus filmes, é considerado um auteur pelos críticos adeptos da teoria por causa de sua adesão consistente a temas distintos e da técnica altamente pessoal que desenvolveu.


A produção fílmica de Resnais foi relativamente pequena. Ele, no entanto, permanece como uma figura significativa no cinema modernista. Suas abordagens de ponto de vista fragmentado e temporalidade múltipla, bem como seu uso do meio para transmitir passado/presente e fantasia/imaginação/realidade como modos equívocos e equivalentes de experiência ampliaram nossa compreensão da capacidade de expressão do cinema.


Entretanto, Resnais nunca conseguiu realizar um filme com apelo a uma audiência mais ampla. E os temas de tempo, memória e realidade foram abordados de forma mais atraente em outros filmes como Citzen Kane, Vertigo e Belle de Jour.


Seguem seus filmes mais relevantes tocante à inovação:


Nuit et brouillard (1956): Documentário sobre a desumanização dos campos de extermínio nazistas. Valiosa recordação da tênue linha que nos separa da barbárie, especialmente nos dias atuais de flagrante decadência espiritual, intelectual e moral.


Hiroshima mon amour (1959): O filme é exemplar da estética modernista: rejeita a progressão narrativa linear e causal, problematiza a natureza desse processo de representação, e desafia o espectador a reconhecer (muitas vezes em vão) as relações metafóricas que lhe confeririam coerência. Pioneiro no uso de jump cut para um flashback e de breves flashbacks para sugerir memórias intrusivas. Um manifesto pacifista que, abordando os temas de esquecimento e memória, registra a condição existencial do homem do pós-guerra.


L’année dernière à Marienbad (1961): Pretensioso e sem sentido. Para Resnais foi “uma tentativa, ainda tosca e primitiva, de abordar a complexidade do pensamento e seus mecanismos”. Vale conferir o filme pela técnica exuberante (cinematografia de Sacha Vierny) e como precursor na exploração das possibilidades de expressão cinematográfica – seu estilo espectral ainda repercute em filmes como Eyes Wide Shut (1999) de Stanley Kubrick, Mulholland Drive (2001) de David Lynch e Inception (2010) de Christopher Nolan.


Muriel (1963): Primeiro filme colorido de Resnais. Mais um filme denso e difícil de seguir, onde a sociedade apresenta-se atomizada, com cicatrizes da II GG e autoflagelando-se pela Argélia. Projeto pretensioso com edição bizarra.


Providence (1977): Um quebra-cabeça freudiano armado na cabeça da personagem principal. Rara chance de observar a tentativa de representação do processo de criação, neste caso o de escrever um romance. O filme diverte na forma que enlaça a realidade com o romance. Reparar na referência a Citizen Kane na abertura.


Mon Oncle d’Amérique (1980): A vida de três personagens é esmiuçada pela psicologia evolucionária de Henri Laborit. Apesar da irrelevância das teorias de Laborit, o filme (com grande trabalho de edição) funciona como amostra de como o cinema pode apresentar conceitos abstratos.


Depois de Mon Oncle d’Amérique Resnais fez mais 11 filmes até sua morte em 2014, também ano de sua última produção. Nenhum destes filmes manteve o padrão de inovação apresentado anteriormente, mas tornaram-se mais humanos e palatáveis – Resnais parece ter encontrado sua melhor forma de transmitir emoções. Entre estes seus últimos filmes destacam-se dois:


Mélo (1986): Resnais transforma um melodrama de teatro (escrito por Henry Bernstein em 1927) num bom filme apenas extraindo o máximo dos atores e com um impecável movimento de câmera.


Coeurs (2006): Uma comédia agridoce sobre timidez e solidão, ou de como a dificuldade de comunicação inibe as oportunidades de construir relacionamentos.

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