
“Teu marido é teu senhor, teu guardião, tua vida, teu chefe e soberano. É ele que cuida de ti; para manter-te, arrisca a vida, com trabalho penoso em mar e terra; nas noites borrascosas, acordado; de dia suportando o frio, enquanto dormes em casa no teu leito quente.” – Catarina, Ato V – Cena II
Personagens Principais
Petrucchio– gentil-homem de Verona, pretendente de Catarina
Catarina – a megera, filha de Batista
Batista – rico gentil-homem de Pisa
Bianca – filha de Batista, irmã de Catarina
Lucêncio – apaixonado por Bianca, filho de Vicêncio
Personagens Secundárias Vicêncio – gentil-homem de Pisa, pai de Lucêncio Grêmio e Hortêncio – pretendentes e Bianca Trânio e Biondello – criados de Lucêncio Grúmio e Curtis – criados de Petrucchio Cristóvão Sly – latoeiro (personagem da introdução)
O mundo moderno reage histericamente a esta peça – doutrinado a ver conflito (racial, sexual, classista, etário, etc) em tudo, choca-se com o que entende ser uma proposta de superioridade masculina no matrimônio. É comum assistir representações deturpadas do texto final (considerado misógino), proclamado de forma satírica, ou com gestos contradizendo o texto – o instrutor de dramaturgia, Jared Sakren, teve sua tenure negada na universidade Arizona State por não concordar em alterar o texto da peça. Mais que uma cegueira anacrônica, esta falta de visão denota perda de contato com a realidade.
De forma irônica e divertida, e condizente com seu tempo, Shakespeare nos lembra das ontológicas diferenças entre homens e mulheres, e como esta dualidade enriquece o próprio gênero humano, pois esta não é uma dualidade de exclusão, como claro-escuro (onde um substitui o outro), mas sim uma dualidade de complementação, onde não há exclusão, mas sim combinação para formação de algo maior (Yin e Yan).
Homem e mulher são diferentes tanto física quanto psíquica (e.g. mulheres são mais aptas a lidar com pessoas, enquanto homens tendem a coisificar os seres) e animicamente (e,g, mulheres, até por menstruarem, capturam o sentido trágico da vida melhor que os homens – a mulher aproxima o homem de Deus). Sendo que há uma natural subordinação entre ambos, como entre ato e potência, forma e matéria, ativo e passivo.
A loucura moderna quer aplacar estas diferenças, destruindo o equilíbrio e amplitude humana.
Notas
William Shakespeare (1564-1616) em Stratford-upon-Avon, Inglaterra. Era católico num mundo protestante.
Shakespeare escrevia, dirigia, produzia e atuava em suas peças. Deixou-nos a maior obra teatral do mundo moderno.
Apesar de serem denominadas como Tragédias, as peças de Shakespeare são Dramas. Pois o que caracteriza a tragédia é a inexistência da malícia humana.
Bons livros para entender Shakespeare: Sobre Shakespeare de Northrop Frye e A Arte Sagrada de Shakespeare de Martin Lings.
Escrita entre 1590-1594, A Megera Domada é publicada pela primeira vez em 1623.
A peça se desenvolve parte em Pádua (Itália) e parte na casa de campo de Petrucchio.
O Estado fomenta todo tipo de conflito dentro da sociedade para justificar sua interferência cada vez maior, imiscuindo-se em todos os aspectos do relacionamento humano. Exemplos: estatuto do idoso, estatuto da criança, estatuto do torcedor, delegacia da mulher, lei antirracismo, lei contra a homofobia, Procon, fim do poder pátrio, etc.