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Triste Fim de Policarpo Quaresma de Lima Barreto


Personagens Principais Policarpo Quaresma – major, solteiro, patriota fanático Vicente Coleoni – imigrante italiano, ex-quitandeiro, compadre de Policarpo Olga – filha de Vicente, afilhada de Policarpo Ricardo – trovador, dá aulas de violão a Policarpo Adelaide – irmã de Policarpo Albernaz – general, vizinho de Policarpo Personagens Secundárias Armando Borges – doutorando, noivo de Olga Anastácio – negro, empregado de Policarpo há trinta anos Felizardo – empregado de Policarpo no sítio Sossego Ismênia – filha de Albernaz, adoece quando abandonada pelo noivo Caldas – contra-almirante, amigo de Albernaz, parente de Genelício Genelício – empregado do tesouro, namorado de Quinota, parente de Caldas Fontes – tenente, positivista, noivo de Lalá Florêncio – engenheiro, funcionário público Inocêncio Bustamante – major, vive demandando benesses do governo Campos – doutor, preside a câmara de Curuzu Antonio – tenente, escrivão em Curuzu, adversário político de Campos

Interpretação O autor satiriza o Brasil narrando as desventuras de um patriota patológico. Pouco escapa de sua mofa e o brasileiro é pintado em cores tão impiedosas quanto verdadeiras: o caráter farsesco (é mais importante parecer que é algo do que tentar realmente sê-lo), a ânsia por uma sinecura no estamento burocrático, a ojeriza pelo conhecimento (“Se não era formado, para quê (ler livros)? Pedantismo!” – ver “no portador da superioridade (intelectual) um traidor à mediocridade”), a indolência do povo (agravada pela ação nefasta do estamento burocrático) e o egoísmo absoluto seriam nossos traços mais marcantes.


Policarpo contrasta com seu meio. Ele põe o país acima do seu interesse pessoal ao passo que aqueles ao seu redor, com raras exceções, só tinham olhos para seus próprios interesses antes de qualquer outro. Policarpo padecia das mesmas doenças espirituais de Dom Quixote: todetite (incapacidade de apreender o sentido da sua individualidade seguido da entrega a um ideal – no caso um país utópico) e horetite aguda (inabilidade no agir dada a visão equivocada da realidade – como Dom Quixote sua horetite é positiva em função de suas ações serem portadoras de elevadas significações). Apenas ao final, diante da perspectiva da morte, Policarpo percebe o quanto desperdiçou sua vida por não conseguir a necessária sintonia entre a sua individualidade e o mundo real.


Mas o brasileiro também sofre uma doença espiritual – acatolia: a recusa consciente do mundo para dedicar-se exclusivamente aos seus interesses pessoais imediatos. Rumo seguro e irreversível ao desastre.


O patriotismo de Policarpo era doentio. O mais tradicional é o sentimental de apego à terra natal como pela casa dos pais – têm um aspecto nostálgico – e provocam orgulho os grandes feitos do passado. Melhor ainda se consciente de seu papel na construção da nação, seguro de que ele, cidadão, também colhe os benefícios – sabe que trabalha para si mesmo – ainda que se sacrifique em prol do conjunto. O brasileiro, com o costume de achincalhar sua história e personagens históricos, e portador de um egoísmo crônico, é o ápice do despatriota.


 

Notas

  • Lima Barreto (1881-1922), jornalista e escritor, nasceu no Rio de Janeiro.

  • Principais romances: Recordações do Escrivão Isaías Caminha (1909), Triste Fim de Policarpo Quaresma (1911), Vida e Morte de M. J. Gonzaga de Sá (1919) e Os Bruzundangas (1923). Entre seus vários contos destacam-se O homem que sabia javanês e Clara dos Anjos (novela inacabada).

  • Para Otto Maria Carpeaux, Lima Barreto deve parte de suas qualidades àquilo que foi a desgraça da sua vida: a boêmia. Ele é precursor do modernismo brasileiro que se revoltará em 1922, no ano da morte do romancista.

  • A narrativa de Triste Fim de Policarpo Quaresma desenrola-se no final do século XIX: entre o período logo após a Proclamação da República 1889 e a Revolta da Armada (1891-1894).

  • Outras instituições atacadas por Lima Barreto: o positivismo, a República Velha, as ações governamentais após a vitória contra a Revolta da Armada, as superstições, o uso de pistolão, o puxa-saquismo, a sobrevalorização do diploma (“Doutor”), a falta de planejamento urbano e outras.

  • Os conceitos de toletite, horetite e acatolia são definidos pelo filósofo romeno Constantin Noica (As Seis Doenças do Espírito Contemporâneo).

  • Citação relevante: Entre nós tudo é inconstante, provisório, não dura.”

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