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Teeteto de Platão


“ …a admiração é a verdadeira característica do filósofo. Não tem outra origem a Filosofia.” – Sócrates (155d) afirma que a filosofia começa com o espanto (que pede explicação)

“… de modo nenhum Deus é injusto, senão justo em grau máximo, não podendo ninguém ficar semelhante a Ele se não for tornando-se o mais justo possível. – Sócrates (176c) explica que assemelhar-se a Deus é ser o mais humano possível

Na própria ordem das coisas, amigo, há dois paradigmas: um divino e bem-aventurado; outro, contrário a Deus e miserabilíssimo. – Sócrates (176e), a cidade de Deus e a dos homens 16 séculos antes de Tomás de Aquino


Personagens Sócrates – filósofo Teeteto – jovem matemático, cerca de 18 anos Teodoro – velho geômetra, professor de Teeteto Euclides e Trepsião – amigos de Sócrates presentes na sua morte

Depois de concordarem que a inquestionável competência de artesões, médicos e outros profissionais atesta para a existência real de formas de conhecimento, Sócrates quer definir o conhecimento que extrapola toda e qualquer área específica, podendo ser comparado à sabedoria, e discute com Teeteto a natureza do conhecimento em si – o que é conhecimento?


Três definições de conhecimento são discutidas:


(1) Conhecimento é uma percepção Platão coloca em discussão uma síntese das teorias sensualistas (conhecimento é tudo aquilo que os sentidos captam do mundo), com ênfase em Protágoras (“o homem é a medida de todas as coisas”) e Heráclito (“tudo é movimento – fluxo contínuo”) – o conceito do homem como medida de todas as coisas só pode ser imaginado num mundo de constante instabilidade em tudo.

Platão testa e avalia Teeteto demonstrando seu método dialético com objetivos maiêuticos: faz o jovem deduzir a tese de que o conhecimento é igual à percepção, para depois fazê-lo examinar se isto é verdeiro ou falso. No primeiro instante Sócrates fala como se fosse Protágoras e no segundo momento o pensamento de Heráclito é evocado. As teses de ambos são derrubadas: (a) como Protágoras (um sofista que cobrava por seus ensinamentos) pode se vender como professor se parte da premissa que todas as opiniões são igualmente válidas (?), ou a tese só vale para ele e não para os demais (?); (b) se tudo é movimento, logo nada permaneceria, nem a validade desta afirmação – sofre o mesmo problema do evolucionismo cuja teoria não evolui. Não é possível conceber a estrutura da realidade sem a permanência – nada poderia ser belo ou bom, pois tudo estaria no gerúndio.

Quanto mais o conhecimento é personalizado, menor é a sua abrangência. Se cada pessoa tem uma sensação diferente do mundo, então haveria tantos mundos quanto há pessoas. Isso inviabilizaria o saber, pois como é que eu posso saber alguma coisa do mundo se aquilo que eu sei é somente o que eu sei e não é o que os outros também sabem? O conhecimento é objetivo e não subjetivo, o conhecimento está fora de nós. Nossos sentidos percebem o mundo, mas esta percepção não é conhecimento, pois o conhecimento não é pessoal e individualizado – conhecimento não é sinônimo de sensações. Só poderia ser conhecimento aquilo que é inteligível e não o que é sensível, que considera, por exemplo, que o duro e o quente só existem através da sensação do agente ativo, e não na coisa em si.

As teorias sensualistas deveriam estar no lixo da história, porém foram recuperadas por Kant e permeiam toda a filosofia moderna-contemporânea. O kantismo estabelece como principal estrutura de raciocínio filosófico a ideia de que as coisas existem de modo bruto e são refinadas, de alguma maneira, pelos nossos sentidos que a partir de formas apriori (esquemas mentais básicos) transformam os dados brutos em dados inteligíveis. Segundo Kant, a coisa em si não é cognoscível. São estruturas mentais preestabelecidas que organizam os dados da sensação que são dados brutos, e então a mente estabelece o que a realidade é – porque a realidade em si própria é incognoscível – a realidade seria aquilo que nossa mente consegue ver dela (essência do kantismo). Daí renasce todo o relativismo moderno – as coisas são medidas pela individualidade, portanto cada um tem a sua verdade.

(2) Conhecimento é opinião verdadeira

A palavra doxa (opinião) traz a conotação daquilo que “parece aceitável, ou plausível para mim” – equação entre conhecimento e parecer verdadeiro. A maior porção desta parte do diálogo versa sobre o erro e como ele é possível – o domínio da doxa é virtualmente definido pela presença do erro e do falso julgamento. A discussão sobre a natureza do que é falso julgamento apenas contribui para o entendimento do que é conhecimento – opinião e conhecimento são totalmente separados, e também define-se o antagonismo entre o orador (sofista, retórico ou eurístico) e o filósofo.

(3) Conhecimento é opinião verdadeira racionalizada (ato da razão)

O conhecimento deferiria da opinião verdadeira com a adição de uma argumentação racional (logos) a este último. Mas conhecimento situa-se muito acima do logos, não podendo ser explicado por este. Nem tudo pode ser entendido pelas palavras (precisamos da intuição – o nous aristotélico), o logos tem limitações para explicar o mundo (ver Crátilo).

A intuição é nous e a mente tem outras funções que não são nous como a epistême, aquilo que chamamos de racionalidade – ratio (em inglês é conta de dividir) – ratio é a relação que há entre uma coisa e outra, é uma comparação. A mente na sua função mais básica soma e diminui, compara coisas e faz percepções – faz comparações entre partes para tentar desvendar se essas partes estão ou não em harmonia umas com as outras. Mas a epistême não sabe dizer se o todo é verdade. Quem sabe dizer isso é o nous. Não é a parte racional da mente que faz a descoberta da verdade. O que a parte racional da mente faz é apenas a descoberta da coerência ou não interna daquele raciocínio. A mentira é um conjunto falso que é produzido de tal modo que suas partes não são contraditórias entre si. De modo que o sujeito ao não perceber a contradição interna tende a acreditar que aquilo seja verdade. Ele sabe que é mentira quando ele presta atenção na sua intuição intelectual, mas não pela aparência do argumento que pode ser a princípio completamente coerente. A palavra mentira vem da palavra mente. A mentira é um produto da mente humana

As três tentativas de definir o que é o conhecimento foram infrutíferas. Sócrates diz não ter uma doutrina sobre o assunto (o que é o conhecimento), e o diálogo termina em aporia. Porém, em longa digressão no meio do diálogo, Platão parteja nos leitores o conceito do Mundo das Ideais – o mundo das formas platônico, de onde adviria o real conhecimento através da reminiscência. Isto é insinuado diversas vezes ao longo do diálogo, mas nunca abordado, com Platão mantendo a conversa focada na metodologia socrática e nas críticas as teorias de Protágoras e Heráclito, bem como aos sofistas, retóricos e erísticos. Para Platão a cognição é quase espontânea, pois o conhecimento seria uma recordação, uma reminiscencia (ver Menão) – o educador ajuda neste processo de recordação (ver Fedão).

Nesta digressão Sócrates (i.e. Platão) esclarece que o Bom e Justo tem fundações divinas, pois toda sabedoria e virtude humana – pois conhecimento e ação são inseparáveis – busca o divino e justo, muito acima das buscas intelectuais de qualquer profissão ou ação política. Na divagação Platão alça a discussão numa altura nunca alcançada na parte dialética do diálogo.

O diálogo discorre sobre epistemologia, ética e metafísica, abrangendo a própria existência humana através da realidade chamada Sócrates e seu exemplo de luta contra a força bruta, sua aceitação do sofrimento e conhecimento da morte.


 

O diálogo inicial entre Euclides e Trepsião não serve apenas de tributo a Teeteto (morto em 369 a.C.), mas também expressa que um homem que preserva sua coragem perante a morte aproxima-se da perfeição humana. A discussão epistemológica que segue não seria possível com um ser covarde e intemperado, pois o homem bom combina os opostos da coragem e da moderação – os comentários sobre a feiura de Platão e Teeteto apenas reforçam a real beleza interna de ambos.


 

Platão refere-se a sua maiêutica (arte do parto – único diálogo platônico onde esta analogia é feita) quando Teeteto expressa insatisfação em não encontrar solução para uma questão: “São as dores do parto, meu caro Teeteto. Não estás vazio; algo em tua alma deseja vir à luz.” (Fenarete, mãe de Sócrates, era parteira).

O primeiro passo da maiêutica é acabar com as ilusões (auto-engano) do interlocutor, desmontar o falso sistema de crenças a que ele está apegado. O homem tende a defender ferozmente seu sistema de crenças. As crises existenciais estão associadas a obsolescência deste sistema – deixar de acreditar em alguma coisa e não saber o que colocar no lugar (típico da adolescência).

Ao tecer loas à experiência das parteiras no ciclo da reprodução humana, Sócrates alude a autoridade do filósofo em alcançar a verdade.

A maiêutica platônica é superior à da parteira pois o filósofo precisa reconhecer prontamente se a alma do interlocutor está concebendo alguma quimera e falsidade ou fruto legítimo e verdadeiro.

A missão do dialético é separar a falsidade da verdade. Do mesmo modo que a parteira não pode dar à luz, Sócrates também não é capaz de produzir a resposta. Por isso que os diálogos da primeira fase de Platão são aporéticos. Essa é a essência do método dialético socrático. Você não será capaz de produzir o conhecimento que procura necessariamente – por outro lado, você desembarca das ilusões que estão em sua cabeça e nas quais acredita como se fossem verdades.


 

“… não é possível eliminar os males – forçoso é haver sempre o que se opõe ao bem nem mudarem-se eles para o meio dos deuses. É inevitável circularem nesta região, pelo meio da natureza perecível. Daqui nasce para nós o dever de procurar fugir quanto antes daqui para o alto. Ora, fugir desta maneira é tornar-se o mais possível semelhante a Deus; e tal semelhança consiste em ficar alguém justo e santo com sabedoria.” (176b)

A passagem acima contém um dos pontos mais altos da filosofia. Para os gregos as coisas saem do seu oposto (algo é quente porque antes era frio) – tudo neste mundo tem opostos que se explicam mutuamente. Tudo no mundo manifestado se degenera de alguma forma, pois tudo que existe não é perfeito, nem completamente imperfeito – tudo está entre estes dois extremos. O mundo não pode ser perfeito, senão seria como Deus e deixaria de existir. O mundo perfeito é ontologicamente impossível – uma utopia usada no discurso político que apenas produz destruição e morte.

Precisamos inspirar-nos na palavra de Deus e dos verdadeiros sábios, e copiar os melhores exemplos míticos e humanos. (está explicado porque A Imitação de Cristo de Tomás Kempis (c. 1380-1471) é provavelmente livro cristã mais lido depois da Bíblia).


 


Notas


  • Platão (427-348 a.C.) nasceu em Atenas ou na próxima Egina.

  • Filho de Ariston, descendente do rei Codro, Perictíone e de um irmão de Sólon do lado materno. Ainda na juventude, recebe o apelido de Platão (“largo”) por razões incertas, mas provavelmente ligadas ao seu tipo físico. Seu nome era Arístocles.

  • Aos 19 anos torna-se discípulo de Sócrates. Sua obra escrita nos chegou aparentemente completa (26 diálogos são considerados legítimos).

  • Segundo o matemático e filósofo Alfred North Whitehead (1861-1947), “A mais segura caracterização da tradição filosófica europeia é que esta se constitui de uma série de notas de rodapé a Platão.”

  • Os subtítulo dos diálogos, e.g. Fedro, sobre o Belo, foram dados por Trasilo no século I, na Biblioteca de Alexandria que então comandava.

  • Teeteto, sobre o conhecimento é diálogo legítimo (gênero comprobatório), provavelmente do período mediano, fase de ascensão de Platão. A narrativa desenvolve-se em Megara, pouco antes do julgamento de Sócrates.

  • O diálogo dá sequência a Crátilo na abordagem da epistemologia. O tema do conhecimento em Teeteto será abordado de forma complementar no Sofista e no Político.

  • Andreia: da raiz andro, genitália masculina, virilidade, coragem (Andrea é nome masculino).

  • O relativo só existe em contraste com o absoluto, logo é impossível afirmar que tudo é relativo. O relativismo impossibilita o conhecimento.

  • Uma das principais contribuições de Platão é o conceito de hierarquia das coisas, e que esta precisa ser transmitida e representada no mundo real e concreto – o mundo platônico é hierárquico e vertical.

  • Kant segue o equívoco heraclítico ao repetir que nada existe em si mesmo – ding in sich (coisa em si). E Augusto Comte seguirá o erro dizendo que só existe aquilo que pode ser sentido fisicamente/sensorialmente (pesado e medido).

  • Versos de Camões que valorizam a experiência como o faz Sócrates: Tomai conselho só de esprimentados, Que viram largos anos, largos meses, Que, posto que em cientes muito cabe, Mais em particular o experto sabe. Os Lusiadas, Canto X (152)

  • A Educação não pode ter objetivos genéricos, mormente de carácter totalitário. A Educação só pode ser individual, educa-se o indivíduo. É uma arte de resultados incertos.

  • O brasileiro tem grande apreço pelas festas e comportamento popular (ser povo), rejeitando ser visto como parte de alguma elite. Porém são as elites, em suas diferentes formas e campos do conhecimento, que elevam uma sociedade cultural, intelectual, política e economicamente.

  • O filósofo idealista George Berkeley (1685-1753) ressuscita o homem protagoriano ao colocar o fenômeno psicológico acima do ontológico – as coisas fazem uma impressão subjetiva sobre nós (gosto ou não gosto), as coisas são o que nos parecem.

  • A atitude prometeica (e.g. “o homem como medida de todas as coisas”) é um delírio de onipotência.

  • Os Vaixás (terceira casta) nunca devem assumir governos, mas defender-se dos Xátrias associando-se aos Brâmanes que os defendam. Mas no Brasil os empresários financiam apenas seus inimigos.

  • Tanto Teeteto quanto Teodoro representam um tipo específico de conhecimento, que não necessariamente os habilita para lidar com a natureza do conhecimento em si. E o mesmo perigo do “especialista”, “cientista” e “personalidade” modernos que querem dar palpites em áreas sobre as quais nada compreendem – argumentum ad verecundiam.

  • O que nossa mente interpreta da realidade não corresponde necessariamente a conhecimento verdadeiro, nossa mente se engana e fantasia (as palavras mente e mentira têm a mesma raiz mens, mentis).

  • O que existe deixa-se conhecer de alguma forma, mesmo que parcial e imperfeita – tudo que existe é cognoscível, apena o nada é incognoscível. A mente humana consegue apenas conhecer uma parte de Deus.

  • Sócrates: “… não servem para exercer o ofício de parteira as mulheres que ainda não concebem e dão a luz, mas apenas as que se tornaram incapazes de procriar.” – para lidarmos com certas coisas é indispensável a experiência própria.

  • Noético corresponde a uso intuitivo da mente, e dianoético ao uso racional argumentativo.

  • Íris é filha de Taumas, ou seja, a mensageira dos céus é filha do mistério, Sócrates faz esta analogia com a afirmação de que a filosofia começa com um espanto/perplexidade.

  • Sócrates (155e): “Então, revista os arredores; não seja o caso de escutar-nos alguém não iniciado. Refiro-me aos que só acreditam na existência daquilo que eles são capazes de segurar com as duas mãos, porém não admitem que participem da realidade nem as ações nem as gerações e tudo mais que não se vê.” – Platão indica a existência de coisas fora da esfera da realidade que seriam ensinadas apenas aos iniciados (confirmando a agrafa dogmata).

  • Platão é uma sinfonia em três movimentos: (1) diálogos socráticos que apenas desmontam o erro do interlocutor, sem apresentar nenhuma tese filosófica sobre a qual se pudesse construir uma visão de mundo; (2) apresenta (através de Sócrates) a teoria do Mundo das Ideias (a segunda navegação) – além deste mundo sensível haveria um mundo apenas inteligível onde estariam os modelos (ideia-forma-eidos) de todas as coisas; e (3) ensina oralmente aos iniciados o mundo acima do das ideias, o Mundo dos Princípios (agrafa dogmata).

  • Platão cria uma hierarquia de certezas pois deseja resgatar a ligação da sociedade com o cosmos (a ordem) – uma equiparação ontológica entre a pólis e o cosmos (Platão é um filósofo do comportamento humano, do comportamento da pólis).

  • Sócrates (173e): “… (filósofo) só de corpo está presente na cidade que habita, enquanto o pensamento, considerando inane e sem valor todas as coisas merecedoras apenas de desdém, paira por cima de tudo, como diz Píndaro, sondando os abismos da terra e medindo a sua superfície, contemplando os astros para além do céu, a perscrutar a natureza em universal e cada ser em sua tonalidade, sem jamais descer a ocupar-se com o que se passa ao seu lado.” – Platão dá uma descrição da casta bramânica (e também explica a postura de Sócrates em seu julgamento).

  • Sócrates (176d): “Assim, quando alguém é injusto ou ímpio, por ações ou palavras, será melhor não conceder-lhe que todo seu êxito se baseia na astúcia, pois esse indivíduo se envaideceria com o reparo, muito ancho por ter ouvido dizer, segundo crê, que não é néscio ou fardo inútil sobre a terra, porém homem como terão de ser os que melhor sabem vencer na vida pública.” – Platão antevendo o homem público brasileiro.

  • Na passagem 146d Sócrates lista as quatro artes do Quadrivium (Geometria, Astrologia, Cálculo e Harmonia).

  • Solipsismo: tendência de prestar atenção apenas a si mesmo. Doutrina segundo a qual só existem, efetivamente, o eu e suas sensações, sendo os outros entes (seres humanos e objetos), como partícipes da única mente pensante, meras impressões sem existência própria.

  • O homem carente de qualidade interna tem afetada sua capacidade de compreender o mundo, “daí serem chamados de ignorantes e dizer-se que sempre se enganam com a realidade” (194e). Se há dentro de você uma capacidade existencial, uma consciência organizada, se há uma ordem dentro de você, então será mais fácil compreender as coisas que estão fora de você. Se, ao contrário, você é um sujeito confuso, transtornado, atormentado em si próprio, será muito mais difícil entender o mundo. A compreensão do mundo depende sobretudo da sua estrutura interna – não é possível ter uma compreensão da estrutura que está externa se você não tiver uma estrutura interna dentro de você.

  • Gosto é a escolha temporária de alguma coisa – o gosto pode mudar, pode ser educado.

  • A Escolástica é a dialética levada ao extremo (disputatio).

  • G. K. Chesterton (1874-1936) diz que o louco perdeu tudo menos a razão. A mente do louco é totalmente coerente. O que ele não tem é uma mente associada à realidade, ele vive num mundo falso. Mas dentro daquela falsidade ele é coerente.

  • Clepsidra: dispositivo de medição do tempo similar a ampulheta usando água no lugar de areia.

  • As três religiões abraâmicas – o judaísmo, o cristianismo e o islamismo – têm de diferente em relação a qualquer outra religião a ideia da criação separada. Deus criou o mundo que não faz parte de Deus. O mundo criado por Deus é um mundo que existe para fins concretos e passageiros. É um mundo completamente cancelável por Deus. Esse mundo é o mundo real, mas não é igual à pessoa de Deus. Ele reflete determinadas características de Deus assim como um raio de luz reflete o sol numa pedra. Quando você vê a luz do sol na parede você não vê o sol, mas o reflexo do sol. É nesse sentido que Deus reflete nesse mundo. Se esta regra for rompida, então caímos no panteísmo que é característica das religiões orientais. Essa é a razão pela qual a separação dos mundos não pode ser transgredida de modo nenhum.

  • Platão nunca desenvolveu a questão da reminiscência do Mundo das Ideias para as produções humanas (e.g. como saber ser verdadeira a afirmação “Cléo é médico.”). Ele buscava apenas um modelo transcendente para a vida humana – quer a reunificação entre o cosmo e a pólis.

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