top of page

Peter Weir (1944- )



A contribuição de Peter Weir para o renascimento do cinema australiano no final da década de 1970 reside na sua tentativa de retratar a ruptura iminente entre o mundo racional (plano material) e as forças irracionais (plano sutil) que pairam um pouco além das nossas vidas mundanas. Sua reputação como o mais estiloso dos novos diretores australianos se baseia em sua habilidade em retratar a paisagem e as peculiaridades culturais daquele país.


O diretor tem aptidão para atmosferas de ameaça e mistério, muitas vezes ligadas a lugares estranhos e desolados, enquadrando-se na tradição do cinema de aventura. Porém seus filmes carecem de profundidade, tentando explorar os mistérios irracionais que permeiam a civilização e o abismo entre as culturas primitivas e modernas, ele quase sempre acaba produzindo apenas generalizações confusas.


Seguem alguns de seus filmes mais interessantes:


Picnic at Hanging Rock (1975): Muito estilo e pouco substância, mas esta história misteriosa emprega duas das características que se repetiriam, a partir dali, com maior frequência no cinema australiano: uma bela cinematografia e histórias sobre o abismo entre os colonizadores e os mistérios ancestrais do seu novo lar.


Gallipoli (1981): Bela história de amizade, coragem e honra em meio a desastrosa campanha dos Aliados em Galípoli. Mostra o horror da guerra sem cair em pieguices pacifistas – também funciona como homenagem aos 43 mil combatentes da ANZAC (Australian and New Zealand Army Corps) que ali morreram. Foi a produção cinematográfica australiana mais cara na época.


Witness (1985): Primeira direção de Peter Weir nos EUA. Filme policial com enredo bem desenvolvido, e o mérito de retratar um grupo religioso (Amish) de forma positiva (mesmo que um tanto idealizada). Um choque entre os melhores aspectos da tradição e a modernidade a qual o protagonista se recusa em arrastar a viúva amish. Tem o limitado Harrison Ford em seu melhor desempenho e a saudável beleza de Kelly McGillis (uma prova de como recato e modéstia embelezam a mulher).


The Mosquito Coast (1986): Weir move-se do cenário das colinas da Pensilvânia para a selva hondurenha neste filme baseado no romance homônimo do escritor americano Paul Theroux (1941- ). Um inventor rejeita a vida na cidade e muda-se com a família para as selvas da América Central para criar uma utopia. Demonstração de que a real inteligência é a capacidade de depreender a realidade – a brilhante inteligência do protagonista era apenas uma especialização técnico-científica. Ele desconhece sua própria condição humana, vendo-se como um deus infalível – psicopatia que seguramente acaba trazendo sofrimento a todos ao seu redor.

Dead Poets Society (1989): O filme é uma tentativa de manipulação, caracterizando os pais e a escola da pior forma possível e colorindo os jovens e o “professor” ao máximo no intuito de demonstrar o quanto os jovens seriam oprimidos até serem resgatados pelo “professor” que abriria suas mentes. Mas a história é bem diferente. Vemos um “professor” irresponsável extrapolar seu dever de ensinar ao querer usurpar dos pais a exclusividade de educar seus próprios filhos. Ignorando a natural imaturidade e acentuada emotividade dos jovens, o professor os estimula a darem vazão aos seus desejos, provocando expulsão e morte entre eles. Tudo que um adolescente mais deseja é uma figura de autoridade dizer-lhe que não deve reprimir-se – uma mensagem letal para o espírito. Infelizmente no mundo real “professores” como este, estimulados pelos poderosos de plantão, são a regra, com consequências espirituais, morais e intelectuais desastrosas para os alunos e para a sociedade – até o réprobo Sigmund Freud sabia que “repressão é civilização”. O filme, lido nas entrelinhas, funciona como um alerta contra o crime diuturnamente praticado nas instituições de ensino.


The Truman Show (1998): O filme mais interessante do diretor.

Master and Commander: The Far Side of the World (2003): Durante as Guerras Napoleônicas, um impetuoso capitão britânico leva seu navio e sua tripulação ao limite na perseguição de um formidável navio de guerra francês. Weir volta aos grandes cenários, agora o oceano. Contém maravilhosas sequências de tempestades e grandes batalhas navais. Sente-se em boa companhia com esses homens e estranhamente ciumento de suas difíceis e salgadas vidas – disposto a todos os riscos para compartir dos valores de coragem, ordem, dever, vigor, e amizade. Com base nos romances de Patrick O’Brian, Peter Weir presta um tributo à masculinidade.

bottom of page