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O Poder: história natural de seu crescimento de Bertrand de Jouvenel


Síntese do Livro O Poder vem crescendo ao longo dos anos em detrimento da liberdade do indivíduo. Isso acontece independente da forma de governo. Desde os regimes totalitários comunistas e socialistas até a democracia americana apresentam este fenômeno.

É natural para o homem viver em sociedade e isso demanda um grupo dirigente. A este grupo damos aqui o nome de Poder. E a natureza do Poder é expandir-se, a casta guerreira, de onde saem os dirigentes, ambiciona o poder. Ao longo da história outras autoridades, transcendentes e sociais, serviam de anteparo e limitavam a autoridade do Poder. Nos primórdios eram os chefes dos clãs que cerceavam a autoridade do rei. Na Idade Média haviam as assembleias formadas pelos barões, representantes da igreja e do povo pela qual o rei tinha que passar para impor alguma ordem aos seus súditos. Havia ainda uma lei maior, a lei divina que devia ser respeitada por todos. Além desta havia os costumes do local que permeavam a sociedade, ditando normas aos dirigentes. Ir contra a lei divina ou os costumes desqualificava qualquer governante. Os reis medievais aproveitam a crise da Igreja para romper com a mesma e, assim, afastar um importante obstáculo para suas ambições. Depois, como já ocorrera no embate dos primeiros reis contra os chefes dos clãs, os reis modernos vão unir-se aos plebeus para enfraquecer a aristocracia.

As filosofias modernas vão favorecer o crescimento do poder colocando o homem no centro de tudo (enfraquecendo a lei divina), relativizando a moral (desfibrando os costumes) e desenvolvendo o falso conceito da "vontade popular" regida pelas leis cuja confecção recai nas mãos do Poder. As revoluções que visavam a liberdade do povo provocaram o resultado inverso. O novo poder vai encontrar as autoridades sociais enfraquecidas, e usará a desculpa da "vontade popular" para fortalecer-se. Afinal o que é esta "vontade popular" se a sociedade não passa de um grande número de grupos com interesses heterogêneos? Ela seria expressa nas eleições, mas este é o único momento em que o indivíduo experimenta a democracia, tão logo o eleito toma posse os eleitores passam a viver numa autocracia. É verdade que o dirigente balanceará suas ambições pessoais com os projetos sociais, pois teme a revolta nas próximas eleições, mas fará uso de todo tipo de meio, como a imprensa, sistema de ensino e a indústria de entretenimento, para influenciar aquela vontade em prol dos seus interesses. Não pode mais haver democracia como a ateniense onde todos os cidadãos participavam na confecção das leis. Isso cabe aos legisladores encastelados no Poder, e as leis visarão primordialmente seus interesses pessoais e privados. Como falar em "vontade popular" se qualquer tentativa separatista é combatida violentamente e o uso de referendos é quase inexistente? Ao Poder só interessa mais poder. Sem a lei divina, o Poder vai outorgar-se o dever de criar as condições de felicidade do indivíduo, tornando-se o poder temporal e espiritual.

As grandes crises favorecem o Poder, aquela ocorrida entre as duas grandes guerras, foi um choque cultural para empregadores (a nova aristocracia) e empregados, enfraquecidos ambos buscaram proteção, a qual o Poder respondeu em troca de maior autoridade sobre eles. Esta maior autoridade se revela através de mais impostos, mais servidores e mais leis. A população se divide em libertários e securitários, tempos de crise aumentam o número destes últimos favorecendo o aumento da autoridade do Poder.

Sem mais valores espirituais, com uma moral distorcida e confusa, e em tempos de grandes transformações tecnológicas, e seus impactos nas relações de trabalho, o indivíduo se enfraquece e tem medo. E cansado de assistir a inócua luta pelo poder entre facções de iguais, receberá de braços abertos o advento do César que promete tudo por em ordem. As três regras de César são: (1) desacreditar moralmente todo aquele que tenha visão sobre a liberdade e possa trazer embaraço para o Poder; (2) criar uma nova classe capitalista sem autoridade moral, mas extremamente rica e muito acima do resto da sociedade; e (3) criar uma forte aliança política com uma grande classe de dependentes.

Nota resumo de cada capítulo

Introdução O autor parte do poder demonstrado pelos governos de diferentes nações na GG II, de como eles conseguiram envolver toda a população no conflito, seja lutando, trabalhando e até mesmo como alvo para o inimigo. Esta foi uma novidade nunca vista na história. Nem os reis absolutistas tiveram tanto poder espiritual e material sobre seus súditos. O recrutamento compulsório e a imposição de taxas não eram nem sonhadas pelos monarcas. Os "eles" de hoje são mais poderosos do que os reis de antes, e em nome de um fictício "bem comum" exercem um poder absoluto sobre a sociedade que não mais reage como outrora.

I Como toda uma população pode obedecer desta forma um grupo de dirigentes? Medo e senso de nacionalidade não explicam este fenômeno. Como seres criados para viver em sociedade temos a tendência ontológica para a obediência dada por nosso senso de hierarquia. Esta obediência ainda tem duas causas: eficiente e final. A causa eficiente refere-se a legitimidade propiciada pelo processo definição dos dirigentes (e.g. eleição), garantindo-lhes soberania. A causa final é o teórico "bem comum" que o Poder visaria. Soma-se a estas, aí sim, o poder da lei e a força para impô-lo.

II O conceito de governo soberano surge apenas no século XVII quando os monarcas, aproveitando os conflitos internos da Igreja, excluem seu papel no equilíbrio do poder. Com o tempo o Poder Divino será transladado ao Poder do Povo. Hobbes, Espinoza e Rousseau falam da total entrega do povo aos seus governantes, seja ele o rei (Hobbes), seja a aristocracia (Espinoza) ou o coletivo (Rousseau). Mas como fazer com que o Poder não usurpe a soberania da sociedade? Os elementos de controle fracassaram, seja a Igreja ou o Parlamento. E hoje estamos nas mãos do Poder e da lei do populacho (democracia definida por Aristóteles).

III Os filósofos modernos fizeram um péssimo trabalho criando a metafísica do Poder. Acabou-se o principio de que o homem é a realidade e a sociedade apenas uma convenção. A nação passa a representar a sociedade como uma pessoa, a nação substitui o rei. A partir daí o interesse da sociedade é sobreposto ao dos homens e o Poder emerge como a consciência que vai definir a direção da sociedade. Logo depois a sociedade será vista como um organismo que cresce e se multiplica, com as partes cumprindo, cada uma, a sua tarefa para o todo. A sociedade já paira inconteste sobre os homens. E junto com o crescimento da sociedade deve crescer o Poder para assegurar seu funcionamento e alcançar o propalado "bem comum".

IV Etimologistas apontam que a forma mais primitiva de Poder partiu das sociedades secretas que controlavam as forças ocultas (da natureza).

V O desejo de conquista (externa ou dentro do grupo) mostrou que o mais forte e não o mais "encantado" obtinha sucesso. O patriarcado nasce da guerra. Os chefes dos clãs formam uma espécie de Senado que cimenta a sociedade, ao passo que o rei representa o poder militar. Ele é responsável pelas campanhas de conquista e pelas cerimônias de coesão da nação. O rei irá sobrepor-se ao Senado atraindo a plebe, e ele se torna o monarca. O aparato estatal é construído para fortalecer o seu poder. Assim terminaram as repúblicas romana e grega. Quando os chefes dos clãs venciam a batalha tínhamos a republica. E quando vencia o rei víamos os súditos, tal qual somos nós perante o Poder hoje.

VI O Poder nasce da conquista. Com o tempo o conquistador torna-se monarca olhando pelos interesses dos conquistados como forma de alcançar e manter o poder. Gradativamente a figura do rei (que unificou a imagem da nação) transforma-sena própria nação que ganha identidade própria. Os ocupantes do Poder trafegam entre seus interesses próprios e os da sociedade, pois precisam da sociedade para alcançar e manter o poder de onde vão satisfazer suas vontades próprias.

VII Este egoísmo e bem social são uma tensão própria dos governos. É da natureza da casta guerreira adorar o poder. Tudo conspira para o crescimento do Poder. O governante vê na sua vontade um reflexo da vontade popular. E o povo espera as bondades sociais do governante (Ortega y Gasset também se refere a isso). Os intelectuais sonham utopias que darão desculpas para que o Poder se fortaleça através de mais impostos, mais servidores e mais leis. O Poder tem uma tendência natural de crescimento. A alternância no poder pode inibir o fator egoísmo e suas mazelas.

VIII A guerra alimenta o Poder, e este por sua vez, na ânsia de crescer, alimenta a guerra. Poder busca expansão. Podemos viver hoje uma aparente paz, mas a guerra virá. A corrida armamentista é uma corrida para o totalitarismo. (na Idade Média os aristocratas guerreavam, depois os reis contratavam mercenário e na França pós-Revolução é que surgem os recrutas)

IX O Poder se aproxima da terceira e quarta castas. Dá segurança a terceira e promessas a quarta. Com o tempo vai deslocando as energias da quarta casta para o seu proveito, em detrimento da terceira casta. Isso sempre ocorreu ao longo da história. Quando o Poder enriquece em detrimento da terceira casta, seus membros mais ricos (enriquecidos) saem do Poder e formam uma nova terceira casta, empobrecendo o Poder. Mas este retomará o processo e recuperará o terreno perdido.

X As relações das leis com a plebe vai enfraquecer a aristocracia conforme o desejo do Poder que assim rediz um dos poderes de fiscalizá-lo. Na França o rei nomeu plebeus para varias funções no Poder como forma de debilitar a aristocracia fiscalizadora. Na época da Revolução todo o Poder estava aparelhado pela plebe.

XI Não eram lideres que geriam a nação mas sim os princípios morais desta. Um país com fortes princípios automaticamente limita o raio de ação do Poder. Por isso o Poder tentará destruir estes princípios morais, e assim reinar mais livremente. No Ocidente as leis divinas foram canonizadas e as peculiaridades mundanas começaram a ser regidas e legisladas pelos homens sem estar necessariamente subjugadas às leis divinas. A lei divina pertencia a sociedade, ao povo. O Poder finge estar representando este povo para usurpar-lhe o comando e começar ele, o Poder, a legislar sobre tudo. O racionalismo, provocado pelo conhecimento de outras sociedades e leis, ataca a lei divina e abre campo para a entrada deste Poder legislador. Mais uma vez os filósofos modernos conspiram contra os homens.

XII A história das revoluções demonstra que estas acabam favorecendo o Poder. Ao destruir todos os comandos da sociedade, o novo Poder se livra dos seus oponentes. E a mentira do "bem comum popular" dá ao Poder a força necessária para impor a sua autoridade.

XIII Os ideais de justiça e liberdade da democracia não se realizaram. O legislador não faz leis para o "bem comum", mas sim visando interesses próprios ou privados. A confecção das leis não é mais dividida entre o rei e assembléia. O legislador assume a posição do rei sem oposição e fortalecido pela mentira da "vontade popular". Na Idade Média havia uma hierarquia e equilíbrio entre os poderes: Deus – primeira casta (junto com a Igreja) Rei – segunda casta Assembleia (nobres, igreja e representantes do povo) – terceira e quarta castas

XIV O desmantelamento da oposição passada (hierarquia e equilíbrio) diante da dita "vontade popular" vai levar ao totalitarismo. A democracia ateniense não pode ser imitada, nela os próprios cidadãos faziam as leis. E os estados democráticos não fazem uso de referendos, pois não interessa. Assim como são contrários aos movimentos separatistas (como fica a vontade popular?). O único caminho é a eleição. Mas como os eleitos vão saber qual a vontade geral se a sociedade nada mais é do que um amontoado de grupos com interesses conflitantes? Daí vem os lobbies, a ditadura da minoria, a manipulação das massas e da imprensa. O povo , estupidificado, pede cada vez mais do Estado e o infla em tamanho, custo e confusão. Há leis para tudo. E elas não saem do debate, mas sim das emoções do momento, dos interesses dos partidos. A sensação é de confusão e medo diante daquilo que se vê como disputa do poder. Neste instante surge o César totalitário para, sob a aceitação do povo, por ordem na casa... e instalar a tirania.

XV O equilíbrio dos poderes não é possível quando todas as forças sociais não estão representadas, e isso não é possível quando todos são recrutados da mesma fonte de "vontade popular". No Brasil não somente se perdeu a representatividade das forças sociais que poderiam cercear o Poder como os ali recrutados são da piro espécie.

XVI O pensamento moderno acabou com a lei divina que subordinava as leis feitas pelos homens. Idéias como as de Hobbes, Kant, Rousseau, dos hedonistas e utilitários transferiram totalmente a confecção das leis, sem subordinação, para o Estado ou "vontade popular". Para complica as coisas ainda mais criou-se o conceito de que a moral é alho móvel que deve adaptar-se aos tempos atuais. Com isso as leis ficaram ao sabor dos tempos, dos inquilinos do poder e das paixões. A "vontade popular" é facilmente manipulada pela mídia e as "artes" e assim o inquilinos do Poder facilmente transforma a sua vontade em lei. Cada vez mais o indivíduo perde seus direitos diante do agente do Poder. No máximo que paga pelo abuso dos agentes é o Estado, ou seja, todos os indivíduos. Esta impunidade apenas incita ainda mais o abuso.

XVII Nossa liberdade ou a democracia está restrita ao ato de votar, uma vez que o eleito tome possa passamos a viver numa autocracia. Liberdade é ter a minha vontade dobrada a de ninguém, que ela guie os meus atos e seja restrita apenas pelas mais elementares e básicas regras de convívio social. É a condição que consagra a minha personalidade. A liberdade é um conceito antigo, não foi criado pelo estado moderno (muito pelo contrário). As bases da liberdade em Roma eram: responsabilidade, ritos e costumes. E esta ultima era cultivada pela honra aos ancestrais, uma educação rígida e uniforme, e uma conduta exemplar aos mais jovens. Conforme a plebe ascende em Roma as leis se multiplicam e o sistema rui. As diferenças econômicas se ampliam e os interesses não são mais os mesmos. O Poder se fortalece como a salvaguarda do pobre diante do rico. Advém o César, e ele tem três regras: (1) desacreditar moralmente todo aquele que tenha visão sobre a libertada e possa trazer embaraço para o Poder; (2) criar uma nova classe capitalista sem autoridade moral mas extremamente rica e muito acima do resto da sociedade; e (3) criar uma forte aliança política com uma grande classe de dependentes.

XVIII O homem abre mão da liberdade por segurança. Isso aconteceu no feudalismo com os servos se protegendo junto aos barões, e com os intelectuais se refugiando na Igreja depois da queda de Roma. Podemos dividir a população entre libertários e "securitários". Um povo desfibrado tende a estes últimos. A decadência da aristocracia desfibrou-a. A crise pós-GG I, a transformação da aristocracia em capitalistas, tudo levou a formação de um grande contingente de securitários. Em troca da desejada (e falsa) segurança o Poder vai demandar uma autoridade nunca antes vista. Sem a existência de uma vida espiritual, o Poder vai outorgar- se o dever de trazer a felicidade ao povo, unindo em sua "pessoa" o poder espiritual e temporal.

XIX As transformações sociais trazidas pelas inovações tecnológicas (impacto nas relações de trabalho) tornou nebuloso o "senso de conduta". As autoridades sociais não estavam fortalecidas para orientar sobre as necessárias mudanças. Sem a lei divina, as novas normas orientadas pelo Poder, sob o signo das idéias cientificistas, serão pálidas / deturpadas e favorecerão a tirania

O que vemos hoje (nota pessoal – escrita em 2007)

  1. As religiões judaico-cristãs são ferozmente combatidas. Acreditar em Deus e nos seus mandamentos é classificado quase como coisa de fanáticos.

  2. Os conceitos de moral seguem sendo esfacelados. A partir dos anos 60 o ataque aos costumes se intensificou: sexo livre (estimulado pela popularização dos métodos anticoncepcionais), aborto, feminismo, derrocada do casamento, homossexualismo, ridicularizarão dos tipos sanguíneos, valorização das efeminadas normas "politicamente corretas", valorização descabida dos jovens e descrédito dos velhos, pais querendo ser amigo dos filhos, adultos que querem parecer jovens, etc.

  3. Livros, filmes e músicas se fartam de nos empurrar códigos morais flácidos, quando não diabólicos.

  4. A imprensa também nos tenta empurrar os novos códigos de conduta. E distorcem a verdade em favor de interesses privados. A verdade relativiza-se num jogo que favorece ao Poder.

  5. Países já vivendo sob o estado totalitário, como China, Cuba, Coréia do Norte e, cada vez mais, a Venezuela, e outros onde o Estado assume proporções inviáveis como demonstra agora o amargo despertar do sonho socialista na Europa (Portugal, Itália, Espanha, Grécia).

No Brasil não há nenhum equilíbrio entre os poderes. Judiciário faz o jogo do Executivo que nomeia seus integrantes e o Legislativo segue as ordens daquele em troca de verbas e cargos. A Igreja está esfacelada: multiplicam-se as igrejas evangélicas e a Teologia da Libertação ataca o cristianismo por dentro. Os empresários tornam-se cúmplices do governo em busca de benesses diante de um cruel sistema fiscal. Os intelectuais destroem tudo o que tocam: transformaram as escolas e universidades em centros de doutrinação ideológica; nos meios de entretenimento vomitam os piores hábitos e condutas possíveis e na imprensa colocam a ideologia ou os interesses financeiros em detrimento da verdade. O PT segue a receita dos Césares: desqualifica violentamente os defensores das tradições, constrói os novos capitalistas (Oi, Eike Batista, JBS, etc) e cria seus eleitores cativos com o Bolsa Família e os movimentos ditos sociais (e se estes falharem, manipulam a urna eletrônica).

Qual a solução? (nota pessoal – escrita em 2007) Nenhuma. Esta civilização irá ao fundo do poço, com o Brasil puxando a fila. Os cenários pintados nas distopias 1984 e, principalmente, Admirável Mundo Novo parecem cada vez mais próximos. E das cinzas renascerá a lei divina. Sob o manto dos valores espirituais será resgatada a hierarquia de valores morais e funções ontológicas do homem. Haverá equilíbrio entre as castas e a sociedade refletirá este equilíbrio nas suas relações de poder. Até tudo deteriorar-se novamente – ciclos cósmicos.

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