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O Brasil nos arquivos da KGB


Esta razão foi a mentira, que silenciosamente acabou com todos os tecidos da nossa existência, se transformou em um câncer de nosso sangue, matou nossa alma. Após 1917, a mentira encontrou um ambiente extremamente nutritivo na forma de uma população ingênua e analfabeta, com um nível baixíssimo de consciência cívica. As mentiras (…) abraçaram nossa vida pública (...), dominaram completamente a literatura, a arte e arruinaram o jornalismo. Elas se transformaram na principal forma de comunicação entre os líderes e as pessoas, e é assim até hoje.” (Tempos Difíceis, 1994) – Nikolai Leonov (1928-2022), oficial da KGB, falando da razão da “tragédia” russa


A Rússia espalhará os seus erros pelo mundo. – Nossa Senhora, mensagem na aparição em Fátima (1917)



A seletiva e temporária abertura dos arquivos da KGB fizeram parte do teatro da glasnot. Se na antiga Tchecoslováquia o que sobrou dos arquivos da StB ficou nas mãos da sociedade, na Rússia só se disponibilizou aquilo que a KGB e seus órgãos sucessores quiseram, e, mesmo assim, sob a estrita supervisão destes mesmos órgãos.


Entre tão escassa informação, o jornalista William Waack consegui levantar a real história da Intentona Comunista de 1935 (ver Camaradas publicado em 1993) quando Luís Carlos Prestes (1898-1990) e seus comandados tentaram tomar o poder através de revoltas iniciadas nos quartéis do exército brasileiro. Prestes negou até no leito de morte o envolvimento soviético naquele ataque ao país, porém documentos comprovam que a KGB planejou, treinou, financiou (o “ouro de Moscou”, sempre ironizado pela esquerda, era real) e forneceu vários agentes estrangeiros para aquele intento (e.g. Olga Benário era uma agente da KGB escalada, num casamento de fachada, para proteger e vigiar Prestes), configurando real ataque a soberania nacional.


Outros aspectos ressaltados em Camaradas corroboram eventos observados na nossa história: (a) a subserviência idolátrica do Partido Comunista Brasileiro (PCB) ao regime soviético, (b) a importância estratégica para os soviéticos na infiltração e cooptação das Forças Armadas para a conquista do poder, (c) a megalomania e a crônica incompetência de Prestes, e (d) a autoria por comunistas dos cruéis e infundados assassinatos dos jovens Tobias Warchavski (1917-1934) e Elza Fernandes (1920-1936) – ambos queima de arquivo.


A subversão comunista agia ativamente no Brasil desde a fundação do PCB em 1922 quando Raminson (agente do Komintern) vem ao Brasil e convida Astrojildo Pereira (1890-1965) para instituir um partido comunista no país (ver Camaradas de Robert Service).


Os arquivos abertos (incluindo informações do site de uma das sucessoras da KGB – a SVR ou Serviço de inteligência Estrangeiro) também confirmam a existência de, pelo menos, quatro ilegais soviéticos que trabalhavam no território brasileiro antes da retomada das relações diplomáticas com a URSS em 1961, quando é instalada uma rezidentura (base de operação de espionagem) da KGB na embaixada soviética. Através dos arquivos da StB sabe-se que o agente da KGB Alexander Ivanovich Alexeyev (1913-2001) aproximou-se de Jânio Quadros e convenceu-o (não se sabe como) a reatar as relações diplomáticas com os soviéticos – agentes da StB no Brasil cuidaram de toda a logística da visita e ocultação da identidade de Alexeyev.


Entre os agentes acima mencionados se destacam:

Iósif Grigulévich (1913-1988) assumiu no Brasil a identidade de Teodoro Boneffil Castro no período de 1945-1947 onde “esquentou” sua falsa nacionalidade costa-riquenha. Levou do Brasil uma má impressão em função da corrupção e libertinagem já reinantes que identificou no país.


África de las Heras Gavillán (1909-1988) entrou pela primeira vez no Brasil em 1955 como Maria Luíza de las Gimelez de Hernández. Infame comunista espanhola nacionalizada soviética – agente da KGB.


Mikhail Ivanovich Filonenko (1917-1982) e Anna Feodorovna Filonenko-Kamaeva (1918-1998) posando como um casal checo (Joseph Kulda e Anna Novotná) estiveram no Brasil entre 1955-1960. Filonienko obteve sucesso na bolsa de valores, ganhou uma fortuna e tornou-se não somente um empresário rico como também influente, que fez contatos nos círculos próximos do presidente J. Kubitschek, do ministro da guerra marechal Lott, do arquiteto Niemayer e do escritor Jorge Amado (todos esquerdistas, quando não empedernidos comunistas como os dois últimos). Filonenko entregou do Brasil à KGB valiosas e importantes informações de inteligência.


Também pelo que já se alcançou ler nos arquivos da StB sabemos que na década de 60 os soviéticos estavam ativos no Brasil com contingente superior ao checo, bem como investiam em ações de desinformações valores superiores aos feitos através dos seus comandados checos.


Informações sobre a KGB também vazaram através de desertores soviéticos ou de seus subjugados países satélites – infelizmente quase nada destas informações referem-se ao Brasil dada sua insignificância política no cenário mundial. Um destes desertores é Ion Mihai Pacepa (1928-2001), ex-general do serviço de inteligência romeno (divisão da Securitate), relator do fato da Teologia da Libertação (que infesta e distorce o Cristianismo no Brasil e no mundo) ser uma completa criação da KGB sob orientação de Aleksandr Shelepin (1918-1994), Aleksey Kirichenkon (1908-1975), Aleksandr Sakharovsky (1909-1983) e Nikita Khrushchev (1884-1971).


Nesta empreitada foram utilizadas as organizações de fachada World Council of Churches (Conselho Mundia de Igrejas – CMI) e World Peace Council (atualmente CEBRAPAZ no Brasil), ambas completamente instrumentalizas pela KGB, na criação da Conferência Cristã pela Paz (1958) para espalharia Teologia da Libertação pelo mundo – o teólogo protestante checo Josef Hromádka (1889-1969) recebeu US$ 210.000 dos soviéticos para fundar a conferência (ver Foreign Policies of the Soviet Union de Richard Felix Staar).


Na América Latina reuniram e manipularam os bispos sul-americanos progressistas dentro da II Assembleia Geral do Conselho Episcopal Latino-americano (CELAM) em Medelim (1968) – o peruano Gustavo Gutiérrez (1928- ) foi o principal instrumento soviético para instrumentalizar a nova teoria (o livro Teología de la Liberación – Perspectivas (1971) teria sido redigido em Moscou – desenvolvendo-se sobre as teorias do teólogo protestante Karl Barth (1886-1968)), sendo o principal cooptado inicialmente no Brasil o belga, naturalizado brasileiro, José Comblin (1923-2011) e teólogo “católico” Hugo Assmann (1933-2008).


Seu postulado fundamental é que os países da América Latina constituem “um mundo dominado, oprimido e explorado pelo capitalismo ocidental” – baseando-se na desacreditada doutrina da dependência –, sendo que “a riqueza de uns é baseada, sustentada e explorada pela pobreza dos outros” – idioticamente enxergando a economia como um jogo de soma zero. Pregavam que o “Reino de Deus na terra” só poderá ser construído pelo socialismo através de uma práxis radical, transformando a estrutura socioeconomia mesmo que por métodos violentos – o “marxismo em nome da fé” nas palavras de Assmann.


Da Teologia da Libertação nasceram as Pastorais Populares e as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) para doutrinar os incautos que seriam posteriormente inseridos em organizações populares, sindicatos e partidos políticos – as CEBs foram um dos principais instrumentos de divulgação do Partido dos Trabalhadores (PT) quando de sua fundação, e sempre apoiaram as agitações no campo (e.g. MTS) e urbanas (e.g. MTST).


Também encontram-se algumas poucas referências às ações da KGB no Brasil nos arquivos copiados por Vasili Mitrokhin (1922-2004), arquivista do Primeiro Diretório (responsável por operações estrangeiras) que desertou em 1992. Os manuscritos (25.000 páginas) encontram-se no Churchill Archives Centre no Churchill College em Cambridge (Inglaterra), porém permanecem confidenciais.


O pouco que veio a público chegou-nos através de dois livros: The Sword and the Shield e The World Was Going Our Way de Christopher Andrew. Os dados são pobres, quase nada revelando de conteúdo, porém demarcam claramente a contínua presença do serviço secreto soviético no Brasil:


George Aleksandrovich Sokolov, residente no Brasil entre 1946-47, era um agente da KGB. Era o primeiro-secretário da embaixada soviética no Rio de Janeiro quando o Brasil rompeu relações diplomáticas com a URSS.


Yevgeni Vladimirovich Brik, agente da KGB, esteve no Brasil em 1954 e retornou em 1955 para encontrar-se com Filonenko. A KGB já desconfiava que se tratava de agente duplo (também trabalhava para os canadenses) e bloqueou o encontro, meses mais tarde Brik foi preso em Moscou e encarcerado por quinze anos.


Agentes relacionados ao Line X (responsável em roubar dado científicos e de pesquisa em outros países) tinham residência em vários países, incluindo o Brasil no final da década de 60, focados em furtar dados do governo e empresas americanas.


Josué Marques Guimarães (1921-1986), jornalista, escritor e político pelo PTB, foi agente da KGB quando era correspondente da imprensa brasileira em Portugal na década de 70. Em 1962 havia se encontrado com agentes checos da StB ainda no Brasil. Não há informação sobre por quanto Guimarães se vendeu.


No início da década de 70 a KGB planejava ao menos mais um agente (residente ilegal) no Brasil.


Em 1974 o Politburo (comitê executivo do partido comunista) decide reforçar sua posição na América Latina, e dar suporte aos movimentos subversivos – o Brasil era um dos países prioritários nesta missão.


Em 1975 um documento requisitava fundos para a colocação de mais dois agentes de desinformação no Brasil e a manutenção de outros dois nos cursos do SNI.


Em 1976 a DGI (serviço de inteligência cubano) auxilia as ações da KGB em Angola através de seus infiltrados na embaixada brasileira.


Diplomata brasileiro do alto escalão do Itamaraty (codinome IZOT – nome não revelado) foi recrutado quando em missão em Moscou e remunerado como agente da KGB. Ativo em ações de desinformação e recrutamento de outros diplomatas,


No final dos anos 70 a KGB considerou a contratação da professora comunista portuguesa Maria para um casamento de fachada com Aleksandr Nikolayevich Kunosenko (codinome YEFREMOV) que estava sendo treinado para trabalhar no Brasil. Porém o plano de colocá-lo no Brasil foi abortado em 1981, pois a portuguesa se recusou a dormir com o fisicamente repugnante russo e este acabou por nunca dominar o idioma português.


Até 1979 o posto de interceptação radiofônica ocultado numa residência em Brasília fora capaz de interceptar 19.000 cabos codificados recebidos e enviados pelo Ministro das Relações Exteriores, bem como aproximadamente outras 2.000 comunicações oficiais classificadas.


Na virada da década de 70 e 80, a trinca do “clube inglês” (Geisel, Golbery e Figueiredo – todos de tendência nacionalista-esquerdista) abriu as portas para a União Soviética e a KGB: (a) Eduard Shevardnadze, membro do Politburo, aproveitou visita ao Brasil para contrabandear equipamento que melhorariam a estação clandestina de interceptação radiofônica em Brasília, (b) Nikolai Leonov, agente da KGB disfarçado de acadêmico, encontrou-se com Golbery, (c) Golbery também organizou vários encontros de brasileiros com agentes da KGB em Moscou, e (d) a KGB aproveitou a conivência de Figueiredo para rechear a embaixada em Brasília com seus agentes.


 

Ao longo de toda a sua existência a URSS adotou uma política externa de duas caras: uma pública, oficialmente administrada pelo Ministério de Relações Exteriores, e outra, secreta, conduzida pelo Komintern (e depois Kominform) através dos partidos comunistas de cada país.


Após a crise dos mísseis de Cuba (1962), os soviéticos repetem o ardil de declarar uma détente já similarmente aplicada com relativo sucesso na década de 20 (i.e. Nova Política Econômica). Enquanto a URSS pregava uma coexistência pacífica com o Ocidente, e os partidos comunistas buscavam o poder politicamente (incluindo agitação das massas e diferentes grupos (e.g. operários e estudantes), e fomento de crises e discórdia na sociedade), a KGB utilizava os países satélites como Checoslováquia (ver notas sobre O Brasil nos Arquivos da StB) e Cuba para patrocina e financiar o terrorismo e levantes armados nos países alvos – entre eles o Brasil (como quase toda a América Latina).


O comunismo soviético começou a imiscuir-se no Brasil desde 1922, agindo de forma clandestina e ilegal ao longo de seis décadas, até seus frutos podres começarem a caminhar independentemente (i.e. Foro de São Paulo). Seus efeitos nefastos serão sentidos por muito tempo, e o pior ainda está por vir.


 


Notas

  • Bertolt Brecht: “Mentir em prol da verdade.” Para o comunista, mentindo você apressa o advento do socialismo, e está ajudando a revelar a verdade. Se, ao contrário, você se apega à realidade dos fatos para argumentar contra o socialismo, está atrapalhando a revelação e servindo portanto ao reino da mentira.

  • A natureza totalitária do Komintern/Koninform e bovina subserviência do Partido Comunista Brasileiro é também narrada em O Retrado (1962) de Osvaldo Peralva, jornalista e comunista brasileiro, que trabalhou na sede da Kominform em Bucareste (Romênia) em 1955-56.

  • Em 1946, Luís Carlos Prestes, presidente do PCB e então Senador pelo Distrito Federal, declara que se o Brasil entrasse numa guerra contra a URSS, os comunistas pegariam em armas contra o governo brasileiro.

  • Negar fatos e evidências é um postulado no comunismo. Assim como Luís Carlos Prestes e toda a esquerda sempre negaram a participação soviética na Intentona de 1935, a esquerda americana tentou negar que Alger Hiss (1904-1996) ou o casal Julius (1918-1953) e Ethel (1915-1953) Rosenberg não eram espiões soviéticos – narrativas também desmanteladas pelos poucos arquivos revelados da KGB.

  • Entre outros movimentos de liberação, criados no mesmo período de formação da Teologia da Libertação, destacam-se as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) e a Organização para a Libertação da Palestina (OLP).

  • María Estela (Isabel) Perón (1931- ) foi contato da KGB.

  • Geisel, Golbery e Figueiredo faziam parte do “clube inglês” cuja principal atividade era troca públicos elogios, e não concebiam um Brasil que pudesse não ser governado por eles – tramaram o acesso à presidência que ocuparam por onze anos. (ver Médice: O Depoimento de Roberto Nogueira Médice).

  • Segundo Osvaldo Peralva, desde 1951 o PCB, seguindo as ordens soviéticas, passou a gastar amplos recursos na criação e funcionamento de uma rede de escolas. Nelas davam-se cursos, em sistema de internato, cuja duração variava de três dias a três meses. Nesses cursos transmitia-se a experiência de funcionamento da máquina partidária, forneciam-se rudimentos de Economia Política e Filosofia, tudo rigorosamente de acordo com os compêndios soviéticos. Em alguns deles, marginalmente, ensinava-se a fabricar “bombas Molotov”, a enfrentar a cavalaria, jogando punhados de cortiça no chão para que os animais escorregassem e caíssem, outras lições mais de lutas de rua. Até 1954 já haviam passado pelos cursos elementares do Partido, de 4 e menos dias, 1.960 alunos; pelos cursos médios, de 6 a 15 dias, 1.492; e pelo curso superior do Comitê Central, 554 alunos. Os elementos mais categorizados, os quadros da oficialidade, eram treinados em Moscou.

  • Até os anos 80, cerca de 700 militantes brasileiros foram treinados na Escola de Quadros, como era mais conhecido o Instituto de Marxismo-Leninismo do PC Soviético, e na Escola do Konsomol (Juventude do PCUS), em cursos cuja duração variava de 3 meses a 2 anos.

  • Cerca de 1.300 outros brasileiros concluíram cursos superiores na Universidade de Amizade dos Povos Patrice Lumumba e em outras universidades soviéticas. As matrículas na UAPPL sempre foram efetuadas através da Seção de Educação do Comitê Central do PCB e também através do Instituto Cultural Brasil-URSS, um apêndice do PCB. Algumas dessas pessoas, no regresso ao Brasil, passaram a trabalhar em empresas estatais e, pelo menos um, formado em Medicina, como Oficial das Forças Armadas, nos anos 80.

  • Filhos e parentes próximos de dirigentes encastelados na nomenklatura do PCB constituíram a maioria desses 1.300 brasileiros, pois sempre foram privilegiados para estudar, gratuitamente, na pátria do socialismo e em países do Leste-Europeu.

  • A CNBB (Confederação Nacional dos Bispos do Brasil) não é um órgão oficial da Igreja, mas sim uma entidade política comunista. Os arcebispos Helder Câmara (1909-1999) e Paulo Evaristo Arns (1921-2016) eram agressivos militantes comunistas. Câmara era também notórios por colecionar amantes (preferencialmente casadas) e Arns conhecido como um insaciável sodomita. Segundo Ipojuca Pontes “Hélder Câmara era um filho-da-puta.” Uma ex-amante chegou a escrever um livro – As Quarentas Namoradas de Dom Hélder – mas não deixaram publicar.

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