“ I was born in Ogden, Utah, the last of four children. Mom and Dad divorced when I was five or six. Dad killed himself when I was 12. I struggled toward growing up, like others, totally confused. Married and divorced twice before I made it to 21. Hitchhiked to Los Angeles when I was 17. Had about 50 or 60 jobs up to the time I was working as a Multilith operator at good old Republic Studios.”– Hal Ashby
No final dos anos 1960 o modelo hollywoodiano de grandes estúdios desmoronava, o movimento de contracultura (drogas, sexos, direitos civis, pacifismo, etc) já havia envenenado ao menos uma geração, e o cinema europeu soprava novos ares. Tudo conspirou para que na década seguinte explodisse o cinema independente com uma proposta desglamourizada, distanciando-se do estilo da Golden Age de Hollywood. A proposta, diziam, era trazer o cinema mais próximo da audiência (do povo), mas o que se viu foi a tomada da arte pela política. Ora de forma sutil, ora de maneira panfletária, destilava-se nas telas feminismo, drogas, pacifismo, antipatriotismo, o engodo de direitos civis, e liberação sexual. Este era o mundo de Hal Ashby.
Os filmes do diretor exalam um esquerdismo confuso que por vezes contraria as suas intenções e ambições manifestas. Ele pode ser visto como um filho arquetípico dos idealistas dos anos 60, presunçoso e mal equipado para lidar com as realidades políticas e sociais sobre as quais parecia tão interessado em pronunciar-se.
Naturalmente, seu período produtivo restringiu-se aos anos 1970, a partir daí seu problema com as drogas afetou decisivamente seu trabalho. Seguem comentários de seus filmes mais relevantes daquele período:
Harold and Maude (1971): Jovem, rico e obcecado pela morte, Harold muda para sempre quando conhece a animada septuagenária Maude em um funeral. Comédia de humor negro (as vezes mórbido) que tem seus momentos engraçados. Porém o filme é um desfile de discurso anticultura ridicularizando os representantes da tradição através de personagens forçadas e caricaturais, enquanto busca atrair simpatia para a voz revolucionária de Maude (até apelaram vitimizando-a como sobrevivente do Holocausto). Mesmo sem nunca dar uma explicação razoável para o comportamento mórbido de Harold, ou o comportamento contraditório da suicida Maude, o filme virou um cult junto aos adolescentes endinheirados que acreditaram agora poderem cuspir no prato que comiam sem se sentirem culpados.
The Last Detail (1973): Dois homens da Marinha recebem ordens de levar um jovem infrator para a prisão, e decidem dar-lhe um último momento de diversão ao longo do caminho. Filme típico daquela nova linha de filmes mais independentes (i.e. New Hollywood) que deixam o glamour de lado para mostrar um mundo de pessoas comuns em situações pouco dramáticas. O filme é salvo pela complexidade que Jack Nicholson empresta a sua personagem.
Shampoo (1975): No dia da eleição de 1968, o irresponsável cabeleireiro e mulherengo George Roundy (interpretado por Warren Beatty) está muito ocupado cortando cabelo e lidando com suas namoradas e amantes. Ácida sátira mostrando o desastre humano provocado pela guerra cultural diante de uma classe política que não entendia o que estava acontecendo e nem identificava o inimigo. O desespero final do protagonista funciona como retrato do destino daqueles que embarcaram no hedonismo sexual como estilo de vida, esvaziando as relações humanas e impossibilitando a comunhão de almas. Parece que o filme ganhou vida própria, contrariando as ideias do seu diretor.
Being There (1979): Depois que a morte de seu empregador o força a sair da única casa que conheceu, um jardineiro debiloide (interpretado por Peter Sellers) se torna o improvável conselheiro de confiança de ricos e poderosos. Divertida sátira da cultura de massa. O tolo jardineiro responde automaticamente a determinadas palavras e conceitos que recebe da mídia, nunca pensando nada por si mesmo, mas apenas se contentando em repetir o que funciona para outros na mesma situação. É mesmo o comportamento de um idiota… mas esta parece ser a regra social nestes dias. O roteiro é baseado numa única situação cômica repetida diversas vezes, mas funciona. É o melhor filme de Hal Ashby.
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