O ser humano tem três componentes: (1) um de natureza corpórea, a (2) natureza anímica (psíquica ou mental, podemos chamar de alma, o “noos” grego) e o (3) espírito – corpo, mente e espírito. As doenças podem se manifestar em qualquer uma destas dimensões humana. Os pecados capitais são fonte das doenças espirituais. Mas a psicologia moderna não reconhece a dimensão espiritual, tendendo a tratar desses males como se fossem doenças da mente. Viktor Frankl quer dizer que do mesmo modo que você tem uma terapia para doenças do corpo e terapia para doenças da mente, você deve ter uma terapia para as doenças do espírito.
Você precisa saber qual o sentido da sua vida – o que é que só você pode fazer?
Todo ser humano deve encontrar e satisfazer um objetivo na vida. Este objetivo, transcender a si mesmo, deve ser voltado para uma causa ou, melhor ainda, uma pessoa amada. A felicidade é uma consequência e não um objetivo a ser almejado. Quando você pensar que não vale mais a pena viver, pergunte-se se a vida não espera nada mais de você.
A perda da espiritualização é um processo de redução ontológica do ser humano aos aspectos mais materiais. Desumanizando o homem e afastando-o da possibilidade da felicidade.
Contemporâneos de Frankl, (1) Alfred Adler defende que o meio social e a preocupação contínua do individuo em alcançar objetivos preestabelecidos são os determinantes básicos do comportamento humano, o que inclui a sede de poder e a notoriedade. Os complexos de inferioridade, provocados pelo conflito com o envolvimento social, podem traduzir-se numa dinâmica patológica (psicose, neurose); e para (2) Sigmund Freud nossa mente funciona como um iceberg que deixa apenas um pedacinho para fora e reprimimos o que nos incomoda – o inconsciente está ali e quando você sonha você entra em contato com esse material. “Flectere si nequeo superos, archeronta movebo”, frase da Eneida dita por Enéas a caminho do Inferno de Dante, por onde corre o rio Acheronte – “Se não posso mover os deuses de cima, moverei o Acheronte.” São as duas psicologias mais importantes de Viena.
Já o suíço (3) Carl Jung, também contemporâneo deles, apresentava uma psicologia de maior potencialidade de sucesso (arquétipos como símbolos comuns a todos), mas adere ao materialismo vigente declarando que esses arquétipos são reminiscências de uma fase animal – símbolos associados à animalidade – e aí não consegue explicar mais nada. É o mesmo problema de Freud.
Se existe um subconsciente onde você usa como depósito de lixo, deve haver necessariamente um superconsciente que contraste com aquele. Viktor Frankl entendeu isto. Mais que entender e controlar os instintos mais baixos, deveríamos conhecer e buscar os aspectos mais altos. A essência da outras terapias é resolver a tensão natural entre desejos e realidade concreta. Frankl não resolve esta tensão, mas a redireciona para o próprio ser.
Notas
Viktor Frankl (1905-1997) nasceu em Viena, Áustria.
Prisioneiro em campos de concentração passou por Auschwitz e Dachau. Toda sua família perece nos campos de concentração, com exceção de sua irmã que conseguiu fugir para a Austrália.
A morte virou tabu. Mas quando esquecemos a nossa mortalidade perdemos o senso de urgência de nossas realizações.
Culpa → dor moral (saudável) Dor → oportunidade de transformação pessoal Morte → definição de objetivos e senso de urgência
D = S – S → Desespero é igual a Sofrimento sem Sentido
A essência da outras terapias é resolver a tensão natural entre desejos e realidade concreta. Frankl não resolve esta tensão mas a redireciona para o próprio ser.
O brasileiro sofre de inveja (doença espiritual) – prefere desejar a que o outro perca o que tem do que esforçar-se para obter o mesmo ou mais. É preciso dissolver esta inveja e coagula-la em ambição (como observamos nos EUA) – processo alquímico.