
Dado que os silogismos são formados por proposições (juízos), e estes, a sua vez, estão constituídos por conceitos e termos, Aristóteles trata na Categorias destes elementos mais básicos da proposição – mais especificamente trata da predicação (atribuição de predicado ao sujeito).
Ao desfazer o vínculo que unem os componentes de uma proposição, i.e. separar o sujeito do predicado, obtemos palavras sem ligação (termos não combinados). Para Aristóteles “cada uma das coisas que se dizem sem nenhuma conexão entre si significa ou a substância ou a quantidade ou a qualidade ou a relação ou o lugar ou o tempo ou a posição (situação) ou o ter (hábito) ou o fazer (ação) ou a paixão” – coincidindo com as categorias observadas na Metafísica (incluindo aqui a situação e o hábito, sendo que ambas podem ser incluídas na qualidade – especula-se que Aristóteles tenha forçado o total de dez em homenagem pitagórica ao número perfeito da década).
Se do ponto de vista metafísico as categorias representam os significados fundamentais do ser, na perspectiva lógica eles são os gêneros supremos aos quais se deve poder referir qualquer termo da proposição, ou os significados últimos aos quais se podem reduzir os termos de uma proposição.Exemplo: “Sócrates (substância) está (ação) agora (tempo) no Liceu (lugar).”

A primeira categoria exerce a função de sujeito, com as outras desempenhando a função de predicado, sendo inerentes a este sujeito.
Os termos da proposição tomados isoladamente não são nem verdadeiros ou falsos, apenas na proposição que expressa uma vinculação poderá haver verdade ou falsidade. Daí a falta de sentido em discutir palavras (e.g. “inovação” ou “censura”), pois só podemos discutir sobre uma proposição com sujeito e predicado.
Aristóteles define “homônimo” como os que tem nome em comum, e “sinônimos” os que compartem o nome e o conceito (e.g. homem e boi podem ser chamados de “animal”, compartindo o mesmo conceito).
Ao discorrer sobre termos e conceitos, Aristóteles deixa em aberto o problema da definição, tendo resolvido esta questão em outros textos da seguinte forma: a definição busca determinar o que é o objeto indicado pela palavra, “é o raciocínio que expressa a essência (a natureza ou substância das coisas)”. E para poder-se definir algo é necessário o “gênero próximo” e “diferença específica”. Exemplo: “homem” tem “animal” como gênero próximo e “racional” como diferença específica” – a essência das coisas é dada pela diferença última que caracteriza o gênero.
Isagoge de Porfírio é uma epístola, endereçada a um discípulo, fornecendo uma série de definição para a compreensão de Categorias, a começar pelos cinco predicáveis dos universais (quinque vocês) – universal é aquilo que, sendo algo de uno, é apto, por sua natureza, a existir em vários:

Há certos termos que são os gêneros mais gerais, outros que são as espécies mais especiais, e outros ainda que são intermediários entre os gêneros mais gerais e as espécies ínfimas. É mais geral o termo acima do qual não pode haver outro gênero, e é mais especial o termo que não admite espécie subordinada – são intermediários entre ambos outros termos diferentes que são também gêneros e espécies. A partir deste painel de Porfírio, Boécio (tradutor de Isagoge para o latim) desenhou a scalapraedicamentalis (“árvode de Porfírio”):

Porfírio conclui sua introdução às Categorias com um estudo das relações de similitude ou de diferença entre os cinco predicáveis. Exemplos: (a) da característica comum entre o gênero e a espécie: ambos são predicados de uma multiplicidade de termos (tratando-se espécie como tal e não assumida também como gênero – lembrando que um termo pode ser simultaneamente ambos), ambos são anteriores aos termos aos quais são predicáveis, e cada um deles constitui um todo; (b) da diferença entre gênero e espécie: o gênero contém a espécie e esta está contida no gênero, ao qual não contém (o gênero é mais extenso que a espécie), o gênero é (por sua natureza) anterior à espécie (sua desaparição acarreta a desaparição da espécie, mas a inversa não se verifica), a existência da espécie demanda a existência do gênero (mas a inversa não se verifica), os gêneros são predicáveis por sinonímia das espécies (mas o inverso não se dá), o gênero é mais extenso e compreende a espécie, o entendimento das espécies é maior que dos gêneros em virtude de suas próprias diferenças, e nem a espécie pode ser gênero supremo, nem o gênero ser ínfima espécie.
Notas
Aristóteles (384-322 a.C.) nasceu em Estagira (daí a alcunha de Estagirita) na Macedônia. Filho de médico, de quem provavelmente herdou o interesse pelas ciências naturais.
Ingressou na Academia de Platão aos 18 anos, nela permanecendo até a morte do mestre (348-347). Retira-se da Academia desgostoso com os rumos ditados pelo sucessor de Platão (seu sobrinho Spêusipos) em transformar a filosofia em matemática.
Apelidado por Platão como “o ledor”. Pregava a necessidade de conhecer toda a discussão anterior antes de avançar sobre uma questão ou problema (status quaestionis).
Em 342 é convidado por Felipe da Macedônia para educar seu filho Alexandre (futuramente, o Grande). Seu aluno fará grandes contribuições ao Liceu.
Em 335 regressa a Atenas e funda o Liceu.
A obra de Aristóteles é a maior contribuição individual na formação cultural do mundo. Apenas suas obras esotéricas nos chegaram, basicamente anotações de aulas feitas por seus alunos. Principais títulos (nomeado por seus comentadores): A Política, Ética a Nicômaco, Física, Metafísica, Da Alma, Poética, Retórica, e Órganon.
Platão era fundamentalmente Dedutivo (do geral para o particular), ao passo que Aristóteles era Indutivo (do particular ao geral) – duas naturezas complementares. Aristóteles parte da minuciosa análise dos fatos concretos para alçar pensamentos mais abstratos.
“Categoria” foi traduzido por Boécio como “praedicamento”.
Para Aristóteles, as palavras fundam-se antes num acordo arbitrário entre os homens que por analogia à natureza.
Porfírio (c. 234-305) nasceu em Tiro, Líbano (então sob domínio romano). Filósofo neoplatonista, discípulo de Plotino (205-270).
Isagoge (latim) significa introdução, princípios elementares.
A tradução ao latim de Isagoge retomou a “polêmica dos universais” entre as posições de Platão e Aristóteles.