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O Ninho de Víboras de François Mauriac


Personagens Principais Luís – advogado rico e avarento, 68 anos Isabel (Isa) – esposa de Luís Humberto – filho de Luís e Isabel, quarenta anos Genoveva – filha de Luís e Isabel Personagens Secundárias Roberto – filho bastardo de Luís Alfredo – marido de Genoveva Janine – filha de Genoveva e Alfredo Phili – marido de Janine Maria – filha de Luís e Isabel, morreu aos dez anos de idade Olimpia – esposa de Humberto Rodolfo – amor frustrado de Isabel quando solteira, apenas citado no romance Maria Luisa (Marinette) – irmã de Isabel Philipot – barão, esposo de Marinette, muito mais velho do que ela Lucas – filho de Marinette e Philipot, morreu jovem na IGG Interpretação "Quien habla solo espera hablar a Dios un día” – Antonio Machado (poeta espanhol – 1875-1939)

Luís já era um ressentido social antes de casar-se com Isa como demonstra seus comentários sobre os colegas de escola e os familiares da futura esposa que contrastavam com sua origem camponesa. Sua alma já estava envenenada quando Isa fala de Rodolfo, e este fato o empurra ainda mais para uma posição de autopiedade e antagonismo ao mundo – criando o ninho de víboras em seu coração. O velho avaro só admitia amar os mortos: sua mãe, Maria e Lucas. Mas seu grande amor sempre foi Isabel, sentimento corrompido pelo ciúme exacerbado pelo seu ressentimento social. Luís cegamente preferia magoar sua esposa como mecanismo de proteção dos próprios sentimentos.

Sua longa carta à esposa funciona como uma confissão que lhe permitirá entender melhor a si mesmo e aos outros, processo acelerado com o impacto da morte de Isa. Seu apego ao dinheiro e seu rancor para com a família perdem sentido e ele liberta-se da prisão que havia criado para si mesmo. Tocado pelo Espírito Santo consegue libertar-se do seu egoísmo e alienação da família. Finalmente encontrará em Deus o amor que de forma equivocada e em vão havia buscado junto aos homens.

Para Luís o cristão só poderia ser um santo ou um hipócrita. Ao final ele entende que somos todos pecadores e a virtude está na constante busca de sair do pecado.


 

Notas

  • François Mauriac (1885-1970) nasceu em Bordéus, França.

  • Escritor da linhagem cristã francesa que se preocupava em examinar a dura realidade da vida moderna a luz da eternidade. Mauriac preocupava-se em retratar o mal presente na natureza humana sem tentar o leitor.

  • O Ninho de Víboras (1932) é considerada sua obra-prima. Destacam-se também os romances Thérèse Desqueyroux (1927) e O Beijo do Leproso (1922).

  • A narrativa de O Ninho de Víboras se desenvolve ao longo da virada do século XX, com referências ao caso Dreyfus, a IGG e a quebra da bolsa de Wall Street.

  • Mauriac era um crítico do que chamava de cristianismo burguês – se diz cristão, vai à missa, mas não carrega Deus no coração. É a autocrítica de Janine ao final (ver exerto abaixo).

  • No prefácio Mauriac diz ao leitor: “Non, ce n'était pas l'argent que cet avare chérissait, ce n'était pas de vengeance que ce furieux avait faim. L'objet véritable de son amour, vous le connaîtrez si vous avez la force et le courage d'entendre cet homme jusqu'au dernier aveu que la mort interrompt...

  • Exerto do capítulo XI destacado por Robert E. Lauder nas aulas The Catholic Novel – diário de Luís dirigindo-se à esposa: Eh bien, je te dois cet aveu : c’est au contraire quand je me regarde, comme je fais depuis deux mois, avec une attention plus forte que mon dégoût, c’est lorsque je me sens le plus lucide, que la tentation chrétienne me tourmente. Je ne puis plus nier qu’une route existe en moi qui pourrait mener à ton Dieu. Si j’atteignais à me plaire à moi-même, je combattrais mieux cette exigence. Si je pouvais me mépriser sans arrière-pensée, la cause à jamais serait entendue. Mais la dureté de l’homme que je suis, le dénûment affreux de son cœur, ce don qu’il détient d’inspirer la haine et de créer autour de soi le désert, rien de tout cela ne prévaut contre l’espérance… Vas-tu me croire, Isa ? Ce n’est peut-être pas pour vous, les justes, que ton Dieu est venu, s’il est venu, mais pour nous. Tu ne me connaissais pas, tu ne savais pas qui j’étais. Les pages que tu viens de lire, m’ont-elles rendu à tes yeux moins horrible ? Tu vois pourtant qu’il existe en moi une touche secrète, celle qu’éveillait Marie, rien qu’en se blottissant dans mes bras, et aussi le petit Luc, le dimanche, lorsque au retour de la messe, il s’asseyait sur le banc devant la maison, et regardait la prairie. Oh ! ne crois pas surtout que je me fasse de moi-même une idée trop haute. Je connais mon cœur, ce cœur, ce nœud de vipères : étouffé sous elles, saturé de leur venin, il continue de battre au-dessous de ce grouillement. Ce nœud de vipères qu’il est impossible de dénouer, qu’il faudrait trancher d’un coup de couteau, d’un coup de glaive : « Je ne suis pas venu apporter la paix mais le glaive. »

  • Exerto do capítulo XX destacado por Robert E. Lauder nas aulas The Catholic Novel – carta de Janine ao tio: Rassurez-vous, mon oncle : je ne prétends pas faire de lui un saint. Je vous accorde que ce fut un homme terrible, et quelquefois même affreux. Il n’empêche qu’une admirable lumière l’a touché dans ses derniers jours et que c’est lui, lui seul, à ce moment-là, qui m’a pris la tête à deux mains, qui a détourné de force mon regard… Ne croyez-vous pas que votre père eût été un autre homme si nous-mêmes avions été différents ? Ne m’accusez pas de vous jeter la pierre : je connais vos qualités, je sais que grand-père s’est montré cruellement injuste envers vous et envers maman. Mais ce fut notre malheur à tous qu’il nous ait pris pour des chrétiens exemplaires…

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