Personagens Principais Eugênio Oneguin – dândi, 26 anos, libertino, amargurado e enfadado Tatiana “Tânia” Larín – jovem, contemplativa, filha de um dono de terras Vladimir Lenski – poeta, rico, 18 anos, ingênuo, honesto em seus sentimentos Personagens Secundárias Olga Larín – irmã mais jovem de Tatiana, coquete e simplória Pushkin – narrador, amigo de Oneguin e admirador de Tatiana Pauline Larín – mãe de tatiana e Olga, viúva de Dimitri Larín Filatievna – ama e confidente de Tatiana Zaretski e Gillot – padrinhos respectivamente de Lenski e Oneguin no duelo Anísia – empregada de Oneguin Musa – objeto de inspiração de Pushkin (apenas citada)
Interpretação “Kudà, kudà, kudà vi udalilis, vesni moyei zlatiye dni?” (“Onde, onde, onde o destino vos guardou, ó primavera dos meus dias dourados?”) – Lenski esperando Onegin para o duelo (ária da ópera de Tchaikovsky)
A distante oriental Rússia ocidentalizava-se, a influência europeia era incentivada, da filosofia à arquitetura e dos modos à literatura, tudo estava disponível aos russos para assimilação e adaptação. Pushkin, narrador da história, deixa isto claro com suas inúmeras citações se referências culturais.
A Rússia formava uma nova identidade à custa do seu caráter original. Mas estariam também o individua perdendo sua índole, metamorfoseando-se com as figuras literárias? Tatiana era uma ávida leitora de romances sentimentais, Lenski lia a poesia romântica alemã e inglesa, enquanto Oneguin devorava Byron. O quanto do que víamos neles era autêntico e o quanto representavam um papel idealizado dos livros?
Na biblioteca de Oneguin, folheando seus livros e observado suas anotações, Tatiana se pergunta o quanto ela havia conhecido do real Oneguin, ou se tivera contato apenas com um pastiche das personagens saídas daqueles livros. Se no primeiro encontro de ambos no interior eram todos personagens, ao final, em São Petersburgo, Tatiana é um ser consciente, em pleno contato com a realidade, ao passo que Oneguin, no que pese o dissabor de ter tirado a vida de Lenski, seguia um simulacro de vida.
Tatiana não se sentia parte daquele mundo simples campestre, é uma alma profunda, uma mulher extraordinária, contrastando com sua leviana irmã. Eugênio entendeu isto, e apesar da grandiosa declaração de amor de Tatiana preferiu cruel e friamente rechaça-la com uma pregação hipócrita – inepto em abraçar aquela oportunidade de dar sentido a sua enfadonha vida.
Anos mais tarde, de volta ao seu habitat em São Petersburgo, Oneguin deslumbra-se com Tatiana, então uma grande dame, mas já era tarde – o tempo é inexorável e as oportunidades perdidas não voltam. O som dos passos do marido de Tatiana adentrando o recinto seria um chamado de despertar de Oneguin para a realidade?
Pushkin tem a rara habilidade de mostrar a crua realidade sem provocar sentimentos de desespero ou depressão, mas com a riqueza e beleza inerentes a vida. Tatiana entendeu que o universo é belo mas a vida é trágica; a obra de deus é bela, mas este é um mar de lágrimas – é preciso valorizar a vida como ela é.
Oneguin é o primeiro destacado “homem supérfluo” da literatura russa. O jovem nobre, inteligente e dotado de inúmeras habilidades, mas entediado com a vida e incapaz e realizações concretas.
Ironicamente, Pushkin morre num duelo como sua personagem, o também poeta, Lenski. Como se Oneguin representasse o pregresso Pushkin a matar o literato Pushkin.
Notas
Alexandr Pushkin (1799-1837) nasceu em Moscou, Rússia.
Poeta, romancista, dramaturgo e contista; Pushkin é considerado o maior poeta russo e o fundador da moderna literatura russa.
Obras destacadas: Boris Godunov (drama – 1831), Eugene Oneguin (narrativa poética – 1833), O Cavaleiro de Bronze (narrativa poética – 1833) e The Egyptian Nights (conto – 1837).
Pushkin é considerado o poeta nacional da Rússia – como Dante e Shakespeare para a Itália e Inglaterra respectivamente. Igual ao italiano e ao inglês, Pushkin ajudou a criar a linguagem literária de seu país. Muitos de seus versos transformaram-se em provérbios russos.
Eugênio Oneguin, romance escrito em verso, começou a ser escrito em 1823 e publicado gradativamente em revistas entre 1825 e 1832. Publicado completo em livro em 1833.
Apesar das negativas de Pushkin é impossível não ver a influência de Don Juan (começa a ser publicado em 1819) de Byron no perfil irônico da personagem central, algo que transcendia o caráter romântico da literatura daquele período.
Pushkin inventa a Oneguin Stanza para este poema (AbAbCCddEffEgg – sendo as maiúsculas rimas femininas e as minúsculas masculinas). Segundo Vladimir Nabokov (1899-1977) as catorze linhas permite usar as quatro primeiras linhas para conteúdo, as últimas duas para conclusão e as oito do meio para conversar com o leitor.
Tatiana Larín é uma das grandes personagens femininas da literatura.
Tchaikovsky compôs sua versão operística organizando o libretto com passagens guardando grande semelhança com o romance. Eugênio Oneguin foi apresentada pela primeira vez em 1879.