Personagens Principais Don Juan – imoral, filho de Don Luís Leporelo – criado de Don Juan Dona Elvira – mulher de Don Juan
Personagens Secundárias Don Luís – pai de Don Juan Gusmão – escudeiro de Dona Elvira Don Carlos e Don Alonso – irmãos de Dona Elvira Francisco – um pobre Carlota e Maturina – camponesas Pierrô – camponês
Interpretação Don Juan debocha de tudo e todos. Escarnece a religião e o casamento ao seduzir Elvira, faz pouco das pessoas simples ao conquistar Carlota, caçoa da honestidade junto ao credor, menospreza a hierarquia paternal e a família, troça a verdade e a sociedade ao planejar virar devoto, despreza a caridade oferecida por Elvira e, ao final, faz pouco dos céus junto a Estátua.
Imoral consciente, cinicamente nunca sente estar errado. Don Juan é um rebelde existencial, um revoltado metafísico – daí o sucesso da personagem. Figura tipicamente nietzschiana, prometeica – o homem autônomo, não passivo frente aos desígnios de Deus.
Don Juan fascina o homem moderno, que é um poço de vaidade, rebeldia e pretensão contra Deus, e quer ver-se como um ser livre, não aprisionado a qualquer tipo de consciência moral.
Enquanto a personagem de Elvira parece cada vez mais espiritual, menos corpórea, Don Juan vai no caminho oposto, decaindo na matéria , até, como pedra, desaparecer debaixo da terra. A morte é o resultado daquela vida sem sentido, voltada apenas a matéria.
O único ato positivo de Don Juan, salvar a vida de Don Carlos, nos diz que se formos capazes de praticar bons atos podemos salvar nossa vida (alma), caso contrário caímos no abismo.
Notas
Jean-Baptista Poquelin ou Molière (1622-1673) nasceu Paris, França.
Mudou o nome para Molière (inspirado numa pequena aldeia no sul da França) para não comprometer socialmente seu pai.
Molière é um sátiro, o maior deles. É moralista e um indignado genial. Não há simbolismo em sua obra como no metafísico Shakespeare.
Aplicava uma linguagem prosaica e crua, ao contrário do francês castiço usado pelos trágicos contemporâneos Corneille (1606-1684) e Racine (1639-1699).
Grande criador de personagens memoráveis, muitos incorporados ao vocabulário como denominação a tipos humanos: Tartufo, Misantropo (Alceste), Avarento (Harpagão) e Hipocondríaco (Argon) – personagens imortais.
Don Juan foi encenada pela primeira vez em 1665. Considerada demasiadamente libertina, a peça foi logo censurada, voltando à França apenas depois de 174 anos. A ação se passa na Sicília.
Outras obras primas do autor: O Tartufo (estreia em 1664, suspenso pela censura volta em 1669), O Avarento (1669), O Misantropo (1666) e Escola de Mulheres (1663).
Por sua natureza satírica, as personagens de Molière são algo esquemáticas (sem a complexidade humana natural) – a sátira vive de estereótipo, como na commedia dell’arte.
Commedia dell’arte: Forma teatral italiana (pastelão, improvisação), popular na Europa entre os séculos XVI e XVIII. As peças que giravam em torno de encontros e desencontros amorosos, com inesperado final feliz. Havia três categorias de personagens: a dos enamorados, a dos velhos e a dos criados (zannis). Havia o zanni esperto, que movimentava ações e intriga e o zanni rude e simplório, que animava a ação com brincadeiras. Arlequim é o mais popular, o empregado trapalhão, ágil e malandro, capaz de colocar o patrão ou a si mesmo em situações confusas e cômicas. Briguela, empregado correto e fiel, era cínico e astuto e rival de Arlequim. Pantaleone era um velho fidalgo, avarento e eternamente enganado. O Capitano era um covarde que contava proezas de amor e batalhas, mas era sempre desmentido. Satirizava os soldados espanhóis. Outras personagens típicas que esta arte eternizou: Scaramouche, Isabela, Columbina e Polichinelo (não guarda segredos).
Lord Byron escolheu a personagem Don Juan como seu herói literário.
Albert Camus usou Don Juan como exemplo de quem encara a absurdidade da vida levando-a loucamente (Mito de Sísifo).
Leporelo funciona como um duplo de Don Juan apresentando certa consciência moral – mesmo que esvanecendo ao longo da peça – é o bom simplório que percebe confusamente a verdade, mas não tem os meios dialéticos de expô-la ao homem mais culto (e mais cego).
Quadro de algumas diferenças entre as versões mais conhecidas de Don Juan:
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