Personagens Principais
Boris Godunov – regente da Rússia, trama a morte do futuro Czar Dimitri
Grigori Otrepiev – jovem monge, assume a identidade de Dimitri
Personagens Secundárias
Basmanov – general de Godunov
Marina – jovem polonesa, envolve-se romanticamente com Grigori
Feódor – filho de Godunov
Pushkin – aliado de Grigori
Pímen – velho monge e soldado, mentor de Grigori
Interpretação
“E meninos ensanguentados saltam aos olhos... pobre daquele cuja consciência não está limpa.” – Boris Godunov
“Talvez eu tenha provocado a cólera dos céus.” – Boris Godunov
“É proibido rezar pelo czar Herodes. A Mãe de Deus não permite.”
– Idiota (iurodivyi) responde a Boris Godunov após este pedir que rezasse por ele
A temática de Boris Godunov tem semelhança com Henrique IV nas Peças Bolingbroke de Shakespeare. Em ambas um governo ilegítimo trará grande peso sobre o povo. A maldição relacionada à deposição de um rei legítimo só terminará para os inglese com a ascensão dos Tudors, ao passo que os russos tiveram que aguardar a entrada da dinastia Romanov para terminar com o estigma da coroa furtada.
Matar o rei é matar o espírito, é o homem querendo ser Deus. O assassinato do príncipe Dimitri (legítimo herdeiro ao trono) quebrou a ordem que somente seria recuperada com uma nova legitimidade no poder (Romanov). Neste intervalo de tempo a Rússia viveu aquele que ficou conhecido como Tempos de Dificuldades.
O sentimento de culpa expressado por Gudonov também recorda outra personagem shakespeariana: Macbeth. Ambos corrompidos pelo desejo ilegítimo, acabam assombrados por seu crime.
Tais similaridades atestam para o caráter universal da obra de Shakespeare – seus temas humanos transcendem o tempo e o espaço. Isso também pode ser atestado pela grandiosidade dos filmes de Kurosawa inspirados em peças do Bardo, como Throne of Blood (1957 inspirado em Macbeth), The Bad Sleep Well (1960, Hamlet) e Ran (1985, King Lear).
Notas
Alexandr Pushkin (1799-1837) nasceu em Moscou, Rússia.
Poeta, romancista, dramaturgo e contista; Pushkin é considerado o maior poeta russo e o fundador da moderna literatura russa.
Obras destacadas: Boris Godunov (drama – 1831), Eugene Oneguin (narrativa poética – 1833), O Cavaleiro de Bronze (narrativa poética – 1833) e The Egyptian Nights (conto – 1837).
O Boris Gudinov histórico (1551-1605) foi regente da Rússia entre 1585 (apontado por seu cunhado Teodoro I, filho e sucessor de Ivan IV, o Terrível) e 1598, quando ascende ao posto de czar na qual permanece até sua morte. Gudinov assume a posição de czar no lugar de Teodoro I, último dos Rurikides, mergulhando a nação na crise conhecida como Tempos de Dificuldades (Smuta) que será superada apenas em 1613 com a ascensão da dinastia Romanov.
Pushkin assume como fato a culpa de Godunov na morte de Dimitri (filho de Ivan IV e irmão de Teodoro I), mas os historiadores tendem a absolvê-lo.
Antes de escrever Boris Godunov, Pushkin descobriu Shakespeare através de traduções francesas. Seu apreço pelo autor o levou a aprender inglês e, posteriormente, traduzir peças de Shakespeare para o russo.
Boris Godunov foi escrita em 1824-25 e publicada em 1831.
Pushkin disse inspirar-se em Shakespeare (particularmente as peças sobre Henrique IV) na construção livre do carácter das personagens, e seguir o historiador Nikolai Karamzin (1766-1826) na sucessão dos eventos históricos.
A narrativa começa em 1598 com a morte do príncipe Dimitri Ivanovich (herdeiro do trono), indo até a morte de Godunov e a ascensão ao trono do falso Dimitri.
Mussorgosky (1839-1881) compõe sua grande ópera Boris Godunov (1874) com libreto de Pushkin. A narrativa enfatiza a relações entre governantes e governados, e na corrupção provocada pelo poder.
O diretor japonês Kurosawa também se inspirou em outro grande autor universal, Dostóievski, no filme O Idiota (1951 – romance homônimo).