Tchítchikov com Pliúchkin, Nozdriov e Sobakêvitch
Personagens Principais Pável Ivánovith Tchítchikov – conselheiro civil, viaja a negócios Manílov – proprietário rural, sentimental Nastácia Koróbotchka – viúva, proprietária rural, velha matrona Nozdriov – proprietário rural, impulsivo, mentiroso compulsivo Mikhail Semiónovich Sobakêvitch – proprietário rural, mal-humorado Stefan Pliúchkin – proprietário rural, avarento Constantin Constangioglio – proprietário exitoso, modelo positivo Platon Platónov – cunhado de Constangioglio, viaja com Tchítchikov Muzárov – arrendatário de Constangioglio, modelo positivo
Personagens Secundárias Selifan – cocheiro de Tchítchikov Petruchka – criado de Tchítchikov Mijúiev – cunhado de Nozdriov Sófia Ivánovna – vice-governadora de N Ana Grigórievna – mulher do procurador de N Capitão Kopêikin – chefe dos correios de N Andrei Tentiêtnikov – jovem herdeiro, proprietário rural Aleksander Bétrichtchev – general, proprietário rural Khlobúiev – proprietário cujas terras interessam Tchítchikov Vassíli – irmão de Platon Lenítsin – proprietário rural
Interpretação Almas Mortas foi planejada para ter três partes, das quais o autor só concluiu a primeira e nos chegou fragmentos da segunda (que podem conter partes da terceira). Parece que Gógol queria fazer uma Divina Comédia russa, começando com o Inferno, passando pelo Purgatório e terminando com o Paraíso.
Sua incompletude dificulta a interpretação da obra, mas na primeira parte do romance podemos fazer a analogia de Tchítchikov com o Diabo, pois ele compra almas como o Diabo. Na segunda parte, confusa e truncada, podemos fazer uma analogia com o Purgatório onde Tchítchikov passaria por uma série de reveses e amarguras. E na terceira, e última parte, a personagem se regeneraria completamente, recuperando sua consciência moral.
No início Tchítchikov é apresentado como um humilhado-ofendido. Abandonado pelos pais, ele aprendeu que só se consegue sucesso na vida sendo pragmático e ambicioso. Para Gógol é o humilhado-ofendido, conduzido pelos ideólogos, que produz as revoluções. Incluem-se nesta característica o pequeno burocrata, o pequeno jornalista, o pequeno funcionário que, por serem justamente pequenos têm o sonho de grandeza do poder. As posições de poder que virão em seguida da tomada do governo são o principal elemento motivador do humilhado-ofendido revolucionário.
Quem milita no partido é o humilhado-ofendido (ressentido social), que sonha com o poder totalitário, consciente ou inconscientemente vendo na tomada do poder a solução para a sua baixa autoestima – daí a multiplicação de cargos comissionados nos governos revolucionários.
Gógol foi o precursor na abordagem desta personagem que vai permear toda a grande literatura russa do século XIX. A grave tensão social russa, da qual o sistema de servidão é o maior símbolo, dará vazão a toda uma literatura de cunho social, e o humilhado-ofendido será sua maior personagem.
Hoje vivemos a tirania do humilhado-ofendido. Inúmeros diferentes segmentos de minorias afetadas em sua autoestima são utilizadas pelo Estado para fomentar o antagonismo no seio da sociedade. As demandas e convulsão social justificariam ações governamentais que no fundo visam diminuir as liberdades individuais e concentrar o poder governamental.
Notas
Nikolai V. Gógol (1809-1852) nasceu na Ucrânia, numa região onde se falava russo e ucraniano. Na escola era chamado de “anão misterioso”, indicado sua personalidade complexa.
Obras essenciais de Nikolai Gógol são a peça O Inspetor Geral (1835), o romance Almas Mortas (foi escrito entre 1837-38 e publicado parcialmente em 1842) e os contos O Capote (1835) e O Nariz (1842).
Bibliografia recomendada do autor: Nikolai Gógol por Vladimir Nabokov.
Considerado o mais estranho escritor russo, pai da literatura russa do século XIX – século que concentra os grandes escritores russos. A literatura russa seria depois dizimada pelo comunismo.
Todas as obras de Gógol mostram uma corrupção endêmica na sociedade russa. Tradicional, Gógol não era revolucionário.
“Almas” do título refere-se aos servos (chamados almas) que, embora mortos, continuavam a gerar impostos como se vivos fossem até novo censo. O sistema de servidão existiu na Rússia até 1861, quando foi abolido pelo czar Alexandre II.
Todos na cidade aparentam terem alguma culpa, algo escondido, e, portanto, não conseguem enxergar com clareza o que esta acontecendo, ou seja, as reais intenções de Tchítchikov.
Burocracia e corrupção andam juntas. A excessiva burocracia propicia mais oportunidades de suborno para vender facilidades.
Na primeira parte há um desfile de sujeitos corruptos e loucos (mas extremamente divertidos). Mas na segunda parte Gogol nos dá exemplos positivos.
Servidão russa distingue-se por escravizar seus compatriotas.
Homossexuais posam de humilhados-ofendidos para pleitear direitos excepcionais e exorbitantes. Sinecuras jurídicas.
O modelo de atender as demandas dos humilhados-ofendidos apenas faz com que mais pessoas posem neste estado.
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