
Personagens Principais Iliá Ilitch Oblómov – nobre, inteligente e generoso, incapaz de agir Andrei Ivánovitch Stolz – amigo de infância de Oblómov, origem germânica Zakhar Trofímov – velho criado de Oblómov, dedicado mas desonesto Olga Serguéievna – amiga e futura esposa de Stolz Agáfia Matviéievna – locatária de Oblómov, futura esposa ilegal Personagens Secundárias Ivan Alekséitch Alekséiev – homem insignificante, visita frequente de Oblómov Vólkov – hiper ativo social, fútil e bon vivant Mikhei Adnréievitch Tarántiev – escrivão, corrupto, ressentido social Ivan Matviéievith – irmão de Agáfia, desonesto Sudbinski – amigo de Oblómov, trabalhador Piénkin – literato, trabalhador, amigo de Oblómov Aníssia – cozinheira de Oblómov Ivan Guerássimovith – amigo de Oblómov Dr. Oblomova – médico, só cuida de doentes saudáveis Andrei – filho de Oblómov com Agáfia, será criado por Soltz
Interpretação “Então, o que é a vida ideal, (...) por acaso todos não procuram alcançar aquilo que eu sonho? (...) o objetivo de todas as correrias, paixões, guerras, negócios e políticas por acaso não é a obtenção da tranquilidade? O motivo não é a aspiração desse ideal de paraíso perdido?” – Oblómov defendendo sua opção de vida para Stoltz
Nada de relevante acontece ao longo deste romance do infinito enfado universal. Iliá Oblómov, filho de latifundiário, viveu no seio familiar e cercado de servos. Mais tarde, passou pela monótona vida de burocrata em São Petersburgo, e começa a narrativa com pouco mais de 30 anos sem nada ter realizado, incapaz de tomar decisões e indolente. Sonha com sua idílica infância e elabora planos que nunca serão realizados. Porém, Oblómov é capaz de vislumbrar a puerilidade e ausência de sentido em diferentes aspectos no exercício do devir.
Seu amigo de infância Stolz é o seu completo posto: enérgico e ativo, sempre viajando e desenvolvendo novos empreendimentos. A diferença entre ambos é parcialmente explicada pelo contraste entre educação alemã de Stolz e o modo de vida da aristocracia russa (os valores ocidentais como antítese do “homem russo”). Ele é inquieto, mergulhado no devir, com olhos apenas no futuro, apreciando mais o processo na busca de seus objetivos do que o objetivo em si próprio. Stolz é superficial, utilizando-se de um simplório “assim é a vida” na tentativa de explicar o comportamento humano. Um homem sempre em busca de algo sem nunca encontra paz de espírito.
Estas duas personagens representam extremos distorcidos da vida contemplativa (Oblómov) e da vida de ação (Stoltz), ambos carecendo de maior equilíbrio entre estes dois polos. A inação de Oblómov ainda demonstra sua inabilidade de equilibrar sua individualidade com o ambiente social (horetite – ver As Seis Doenças do Espírito Contemporâneo de Constantin Noica).
O mundo valoriza o “homem de ação” como Soltz, mas, diferentemente do homem do subsolo de Dostoiévski, Oblómov não se revolta ou demonstra ressentimento com o amigo ou a sociedade. Seu maior horizonte de consciência não inflou seu ego, evitando um comportamento soberbo que o levasse a perder sua moralidade. Porém este horizonte de consciência é ainda limitado, já que sua prática contemplativa não emerge das questões menores em direção aos grandes princípios, e sua horetite não o permite alcançar a felicidade, atirando-o na letargia.
Herdeiro da saga literária do “homem supérfluo” (aristocrata, não destituído de talento, que se revolta contra as normas estabelecidas) iniciada com a personagem Onegin de Puchkin, Oblómov rebela-se contra os novos tempos e quer pará-lo. Não consegue mais ver ordem no mundo, apenas caos, e deseja recuperar a existência material e sentimental da infância.
A Rússia, então em um momento crucial, buscava seu caminho entre suas origens oriental e ocidental. Assim como Dostoiévski propôs a via espiritual para a nova nação que surgiria (ver Os Irmãos Karamázov), Gontcharóv parece propor um meio-termo aristotélico entre oriente e ocidente (progredir sem perder os valores tradicionais e a identidade) e entre a vida contemplativa e de ação (triunfar no devir expandindo o horizonte de consciência) – esperança de equilíbrio simbolizada no filho de Oblómov criado por Stoltz.
A velha Rússia de fato morreu (fim da servidão), o velho Karamázov e Oblómov se foram. Mas a nova Rússia não renasce em Aliócha Karamázov e tão pouco em Andrei. Para a desgraça do sofrido povo russo, prevaleceram Ivan Karamázov e o homem do subsolo.
Notas
Ivan Alexandrovich Gontcharóv (1812-1891) nasceu em Simbirsk (Ulyanovsk), Rússia.
Definido por Otto Maria Carpeaux como o “autor de um livro só”, Oblómov (1859), mas “um dos maiores livros de todos os tempos”.
Gontcharóv escreveu Oblómov ao longo de vinte anos.
Escreveu mais dois romances: Uma História Trivial (1847) e A Queda (1868).
Oblómov foi publicado dois anos antes do fim do sistema de servidão (ligada a terra) decretada pelo czar Alexandre II.
A inércia e futilidade da personagem Oblómov foi epitomada no termo oblomovshchina (oblomovismo).
A imperatriz Catarina II estimulou a imigração originária do ocidente (1762-63) como forma de modernizar e ocidentalizar a sociedade russa. A maioria dos imigrantes neste período era de origem alemã.
Stolz em alemão significa “orgulho”.
O genocida Lenin, psicótico homem de ação, considerava Oblómov o símbolo de tudo que estava errado na Rússia. O farsante Gorbachev também invocou Oblómov para caracterizar os oponentes da perestroika.