Personagens Principais Jeremias – professor, divorciado, ao redor de 35 anos
Personagens Secundárias Dona Antoninha – irascível ex-esposa de Jeremias Joãozinho – filho para o qual Jeremias relata suas memórias Sadi – amigo de Jeremias nos tempos da Escola Normal Honorato Faróis – farmacêutico, ponto de encontro em Ararucá D. Genoveva (Vevita) – professora cuja mãe via Jeremias como potencial genro
Interpretação Separado da incômoda e atrabiliária esposa que lhe levou o filho, o professor Jeremias escreve a sua autobiografia para este filho ausente, passeando uma longa experiência e um espírito sutil pelo microcosmo de Ararucá (cidade fictícia). Forma o livro como que um colar de contos incisivos e curtos, tão curtos quanto profundos, tão incisivos quanto naturais.
Mesmo a comicidade de diversas situações descritas ao longo do romance, não disfarçada e completa desilusão da personagem com os seres e a vida. Ao modo dos verdadeiros analistas, ele se compraz em tirar o verniz das coisas, possui o dom de sondar as almas, surpreender os intentos, raciocinar sobre o fundo das coisas, por meio das aparências, e separar do falso brilho da fosca realidade, extraindo uma filosofia amarga da vida e da sociedade.
O forte traço farsesco da sociedade brasileira e, como não poderia deixar de ser, suas instituições é abordado em diversas situações. Seguem alguma delas:
Burocracia educacional, eivada de sabujice e interesses pessoais.
Descompromisso da imprensa com a verdade.
Socialismo que quer reformar o homem, mesmo que o precise matar para alcançar seu intento.
Intransigente defesa dos animais – a personagem defensora dos animais termina num hospício, hoje abriria uma ONG e receberia verba do governo (expropriada do povo).
Ataque ao conceito de altruísmo – termo inexato já que fazer o bem ao próximo é fazer bem a sim mesmo (caridade).
Mania de criar dia festivo para qualquer coisa, perdendo os senos das proporções e relativizando tudo.
Origem política e interesseira da nobreza brasileira.
Interesse de obter diploma apenas como documento, sem aprendizado real.
As lições que Jeremias procura passar a seu filho Joãozinho vão ao encontro de tão nefasto quadro social:
Não insistir na verdade, aceitar o que diz a maioria de bem e fugir dos argumentadores. Acompanhe sempre a onde que te envolve.
A melhor forma de lidar com fuxiqueiras é a colaboração, e no processo tirar alguma vantagem.
Invente, que a mentira é própria do homem, e nada de afirmações contundentes que irritem os demais.
A sinceridade é parente de sucessos desagradáveis.
A hipocrisia é a moldura que melhor quadra a virtude.
Ao final Jeremias mostra-se um covarde diante da vida, e apenas uma visão pessimista, quase existencialista, do mundo o conforta depois de desistir do suicídio.
Notas
Léo Vaz (1890-1973) nasceu em Capivari, São Paulo. Foi sobretudo jornalista, atuando no jornal O Estado de São Paulo de 1918 até aposentar-se em 1951.
Entrou para a imprensa, por intermédio de Oswald de Andrade, e foi recomendado a Monteiro Lobato, que o contratou para a Revista do Brasil e apostou em sua criação ficcional.
O Professor Jeremias (1920) figura como sua única obra literária relevante. O conto A Rifa (1923 – conto da juventude incluído me Ritinha e outros casos) foi destacado por Graciliano Ramos em uma antologia do gênero.
Excerto relevante: “... verdade é o que a gente diz e a vizinhança concorda” – amigo Sadi
Comments