“O apagamento do senso moral só encontra parelha no rebaixamento do nível intelectual.”
– Andrade e Melo define a intoxicação que pesteou o Brasil a partir da República
Personagens Principais Júlio César Betarry – deputado estadual de Minas Gerais Andrade e Melo – deputado baiano, conservador José Carlos de Lima (Juca Lima) – leader da Câmara dos Deputados Jerônimo Moreira – médico ginecologista, herdeiro da fortuna do sogro Brasilina Assaf (Joca) – cigana, primeira paixão de Bettary, amante de Moreira D. Heloísa – esposa de Jerônimo, filha do falecido Conselheiro Eslabão de Alvarenga
Personagens Secundárias
Pimenta – intendente do DF, corrupto
Claudina e Tecla – filhas de Pimenta
J. J. Carvalhais (Jotajota) – homem de negócios, especulador
Mateus Vilela (Capitão) – secretário de Juca Lima
Fabiano de Avelar – cunhado e padrinho político de Betarry (casado com Milka)
Loureiro, Soares e Garcia – deputados mineiros
Interpretação Atemporal retrato das mazelas da sociedade brasileira. Vemos o estamento político desprovido das características que deveriam ser as constantes do seu dharma, ou seja, o ato, a honra, a virtude, a glória e a nobreza. Ao contrário, os políticos são movidos pela ganância como forma de atender seus desejos mais corpóreos. A inópia moral dos estamentos espiritual, governante e empresarial inviabilizaram o processo civilizacional brasileiro, condenando a nação a chafurdar em seus instintos mais baixos.
O ambiente do romance remete a descrição da Democracia na República de Platão, onde as paixões e desejos ilegítimos, que levam a insolência, anarquia, desperdício e impudência, são deixados à solta. Entendida no sentido pejorativo de demagogia. A vida dos jovens torna-se sem ordem e sem lei, dedicada inteiramente aos prazeres, a razão é banida, o respeito é qualificado como tolice, a temperança é expulsa com insultos, a moderação é considerada avareza, a justiça se faz tolerante e mansa, e clama-se por uma impossível igualdade entre os homens. É o flerte com a Tirania, uma constante na vida nacional.
Platão também descreve a queda de Bettary: “Quando um jovem […] prova do mel dos zangões e entra em contato com esses animais árdegos e funestos, indicados para procurar-lhe toda a sorte de prazeres, na mais variada gama das suas manifestações, é […] que se inicia no seu íntimo a mudança do princípio oligárquico para o democrático.”
O final é emblemático. O povo alienado acotovela-se para assistir a farra do estamento burocrático e seus cúmplices.
Notas
Adolfo Emanuel Guimarães de Azevedo (1871-1907) nasceu em Rio das Flores, Rio de Janeiro.
Romancista, teatrólogo, poeta e advogado. Estudou em Paris por dois anos na Escola Livre de Ciências Politicas e Sociais quando conviveu com jovens escritores locais ligados ao simbolismo.
A Todo Transe!… foi publicado em 1902. Considerado por Wilson Martins, em História da Inteligência Brasileira, “o melhor romance político da Primeira República, de alta qualidade balzaquiana”.
A todo transe: expressão que significa “custe o que custar”, “de qualquer maneira”.
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